O embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vedell, vai regressar ao posto "nas próximas horas", duas semanas após ter sido chamado para consultas no meio de tensões diplomáticas entre ambos os governos, anunciou a representação diplomática.
"Boas notícias! O embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, regressa a Brasília com passaportes de venezuelanos", afirmou a Embaixada da Venezuela em Brasília na sua conta na rede social X.
A mensagem é acompanhada por um vídeo em que o próprio diplomata explica estar a poucas horas de regressar ao Brasil, com passaportes solicitados por venezuelanos.
O regresso do embaixador acontece depois de o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se ter distanciado da crise venezuelana no passado domingo, afirmando que o seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro, "não é um problema do Brasil", mas sim de Caracas.
A Venezuela convocou Manuel Vedell para consultas em 30 de outubro, depois de o assessor internacional do Governo brasileiro, Celso Amorim, declarar que Brasília não reconhece a eleição de Nicolás Maduro, Presidente venezuelano, por falta de transparência.
Perante a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados para explicar a posição do Brasil em relação ao processo eleitoral venezuelano, Amorim declarou que nas eleições venezuelanas "não foi respeitado o princípio da transparência", razão pela qual não é possível reconhecer a vitória de Maduro.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro sublinhou que, como não foram publicados os resultados detalhados das eleições na Venezuela, nas quais as autoridades eleitorais proclamaram a vitória de Maduro, "o princípio da transparência não foi respeitado".
O assessor enfatizou que o Brasil não reconhece nem o resultado nem a vitória que a oposição atribui ao seu candidato presidencial, Edmundo González Urrutia, exilado em Espanha.
Em resposta, o presidente do parlamento da Venezuela, Jorge Rodríguez, acusou Celso Amorim de ser "um agente" dos Estados Unidos e de querer manchar as eleições presidenciais.
A tensão com Caracas aumentou quando o Governo liderado por Lula da Silva se recusou a aceitar a Venezuela como novo membro associado do fórum BRICS, fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Essa posição foi considerada pela Venezuela como uma agressão e um gesto hostil, que enquadrou na "política criminosa de sanções que foram impostas contra um povo corajoso e revolucionário, como os venezuelanos".
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral atribuiu a vitória a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um "ciberataque" de que alegadamente foi alvo.
Os resultados eleitorais foram contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de mais de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.