Embaixada dos EUA chega a Jerusalém entre aplausos e a insurreição

por Andreia Martins - RTP
O consulado norte-americano em Jerusalém passa a acolher provisoriamente a Embaixada dos Estados Unidos em Israel. Abir Sultan - EPA

A cerimónia de inauguração da nova Embaixada norte-americana em Israel acontece esta segunda-feira e promete reavivar um conflito regional que continua por resolver, 70 anos após a independência de Israel. Sem a comparência de Donald Trump, o evento vai contar com a presença da filha do Presidente norte-americano, Ivanka Trump, e do genro Jared Kushner, entre outros responsáveis da Administração. Grande parte dos países europeus, incluindo Portugal, vai boicotar a cerimónia em protesto contra a decisão.

Há precisamente 70 anos nascia o Estado de Israel sob os auspícios das Nações Unidas, contra a vontade dos líderes árabes. Às 16h00 do dia 14 de maio de 1948, David Bem Gurion declarava a independência a partir de um museu em Telavive. “A terra de Israel é o lugar onde nasceu o povo judeu”, anunciou na altura. 

Esta segunda-feira, à mesma hora, mas em Jerusalém, consuma-se uma decisão polémica de Donald Trump. Quando forem 16h00 (14h00 em Lisboa), inicia-se a cerimónia de abertura da Embaixada norte-americana em Jerusalém, até hoje localizada em Telavive, como grande parte das representações diplomáticas estrangeiras naquele país. A Embaixada provisória passa a funcionar no edifício do consulado norte-americano em Jerusalém até que seja encontrado outro local com as dimensões necessárias.  

Donald Trump não estará presente mas preparou uma mensagem em vídeo que será exibida durante a cerimónia. Em representação dos Estados Unidos vão estar a filha do Presidente norte-americano, Ivanka Trump, e o genro, Jared Kushner. A delegação conta ainda com a presença de John Sullivan, secretário de Estado adjunto, Steven Mnuchin, o secretário de Estado do Tesouro, e Jason Greenblatt, conselheiro de Donald Trump em negociações internacionais. 

A alteração da localização da Embaixada acontece apenas cinco meses depois de Donald Trump ter anunciado que os Estados Unidos passariam a reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, com a subsequente deslocalização da Embaixada. Uma promessa feita pela Presidente norte-americano ainda durante a campanha ao lobby pró-israelita American Israel Public Affairs Committe (AIPAC) e que era há muito aguardada. 

Na verdade, desde 1995, quando o Congresso norte-americano aprovou a deslocalização da Embaixada norte-americana de Telavive para Jerusalém, que os vários Presidentes desde então se recusaram a dar luz verde a essa mudança por motivos securitários. 

Agora, a decisão de Donald Trump promete inflamar o principal barril de pólvora do Médio Oriente, uma vez que os Estados Unidos, mediadores históricos do conflito israelo-palestiniano, abdicam de um papel neutro e imparcial. 

Ainda que os principais centros de decisão estejam em Jerusalém – incluindo a sede do Governo e o Knesset – a mudança da localização de Embaixada é considerada como uma afronta à causa palestiniana. 

Parte da cidade-berço das três religiões monoteístas é igualmente reclamada pelos palestinianos e também eles pretendem que Jerusalém seja reconhecida como capital do Estado da Palestina. 

No entanto, os israelitas consideram toda a cidade como sua, de forma indivisível. Ao reconhecer Jerusalém como a capital dos Estados Unidos, a diplomacia norte-americana patrocina o controlo total da cidade pelos israelitas, que controlam a parte oriental da cidade desde 1967. 
Intifada do Retorno?

Esta é mais uma decisão da atual administração norte-americana que, à revelia da comunidade internacional, volta a afastar os aliados históricos dos Estados Unidos. Se o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, convida o resto do mundo a deslocalizar as respetivas representações diplomáticas para Jerusalém – até agora apenas o Guatemala e o Paraguai seguiram o exemplo dos Estados Unidos – a Europa mostra-se firme na oposição.

Vários países, incluindo Portugal, Espanha, Reino Unido, França e Itália, não vão marcar presença nesta cerimónia por não concordarem com a alteração que coloca em risco a situação já de si precária que se vive na região. 

Desde dia 30 de março, princípio da “Marcha do Retorno”, que os palestinianos iniciaram uma longa jornada de protesto, em reivindicação dos territórios ocupados mas também numa demonstração de ira para com a decisão de Donald Trump. Nas últimas seis semanas, o conflito regional reacendeu-se como já não acontecia desde 2014, ano de guerra na Faixa de Gaza. Pelo menos 49 pessoas morreram.

Na última quinta-feira, o líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar alertava para uma eventual “Intifada do Retorno”, em referência às grandes manifestações esperadas para estes dias junto à fronteira com Israel. 

O exército israelita espera pelo menos 100 mil manifestantes na zona fronteiriça e triplicou o número de soldados na Faixa de Gaza. Em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia também são esperadas ações de protesto. 

As manifestações do povo palestiniano culminam esta terça-feira, a 15 de maio, numa efeméride em que a Palestina assinala o início da al-Nakba (“Catástrofe”, em árabe), e que assinala o início da guerra israelo-palestiniana, um dia depois declaração de independência de Israel. 
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