A Casa Branca anunciou esta terça-feira o envio urgente de um novo pacote "modesto" de armamento para a Ucrânia, orçado em 300 milhões de dólares (275 milhões de euros). Um fundo europeu de auxílio militar deverá entretanto ser reforçado esta semana com a autorização para lhe serem injetados cinco mil milhões de euros, revelaram por seu lado fontes diplomatas da UE.
Ambas as novidades coincidem com a iniciativa liderada pela República Checa para comprar e entregar munições à Ucrânia com caracter de urgência, à qual já se juntaram, na Europa, a Polónia, a Bélgica, a Dinamarca, a Lituânia e os Países Baixos, e outras potências internacionais, como o Canadá.
A situação da Ucrânia agravou-se nos últimos meses, com unidades na linha da frente a racionarem munições enquanto enfrentam uma força russa muito mais bem equipada.
"A Ucrânia necessita urgentemente do nosso apoio contínuo", explicou o conselheiro da Casa Branca para a Segurança Nacional, Jake Sullivan, ao justificar o envio de armamento norte-americano.
O novo pacote de ajuda é o primeiro desde dezembro de 2023, quando o Pentágono anunciou que os seus fundos para reabastecimento estavam esgotados. Soube-se recentemente que estes fundos estavam com um saldo negativo de 10 mil milhões de dólares (nove mil milhões de euros).
Ao mesmo tempo, o Congresso dos Estados Unidos, sob pressão do ex-presidente e recandidato presidencial republicano, Donald Trump, tem negado a aprovação de fundos adicionais para a compra de armas, orçados em cerca de 60 mil milhões de dólares (55 mil milhões de euros), apesar da Administração Biden insistir na sua absoluta necessidade.
De acordo com responsáveis norte-americanos, sem esta aprovação será impossível a Washington retomar o envio de armamento à Ucrânia, numa altura em que o arsenal de munições de Kiev está em níveis perigosamente baixos.
Poupanças
"Quando as tropas russas avançam e as suas armas disparam, a Ucrânia não tem munições suficientes para ripostar", afirmou Sullivan esta tarde, ao anunciar o novo pacote de 300 mil dólares em auxílio militar, que deverá incluir mísseis antiaéreos, projéteis de artilharia e sistemas de blindagem.
Este só é possível depois de alegadamente se ter conseguido alguma poupança em contratos de reabastecimento, referiram várias fontes da Defesa dos EUA.
Nos últimos dois anos, os fundos foram usados pelo Pentágono para, sob autoridade presidencial, retirar munições, sistemas de defesa aérea e outro armamento dos seus arsenais, enviando-os para a Ucrânia, sendo as reservas repostas através de novos contratos de abastecimento.
O Pentágono estabeleceu ainda outros contratos de produção de armas diretamente à Ucrânia, através da uma iniciativa especifica, a USAI. Terão sido poupanças nestes contratos a mais longo prazo que permitiram o desbloqueamento dos 300 mil dólares para enviar mais armamento à Ucrânia devido à escassez no teatro de guerra, em vez de repor arsenais americanos.
Esta ajuda é uma "vez sem exemplo", a não ser que o Congresso aprove o pacote suplementar de despesa militar ou outras poupanças sejam conseguidas, referiu um responsável do setor da Defesa aos reporteres na Casa Branca.
A Administração Biden recebeu esta terça-feira a ajuda do presidente polaco Andrzej Duda, que se encontra de visita a Washington e que se reuniu com os líderes democrata e republicano do Senado e da Câmara dos Representantes, para tentar desbloquear a ajuda. Duda vai ainda reunir-se com Joe Biden.
Europeus desbloqueiam ajuda
Do outro lado do Atlântico, os países da União Europeia estarão à beira de um acordo para injetar cinco mil milhões de euros no fundo de ajuda militar à Ucrânia, de acordo com diversas fontes diplomáticas.
França e Alemanha têm estado no centro do debate sobre o fundo, o Mecanismo Europeu para a Paz (EPF), que dura há vários meses. O Mecanismo permite aos membros da UE refinanciar-se para enviar munições para outros países.
Paris tem insistido que as aquisições ao abrigo destes fundos beneficiem produtores europeus de armamento e munições, com Berlim a defender que ajudas bilaterais sejam tidas em conta no cálculo das contribuições dos países para o Mecanismo.
Os diplomatas afirmam que foi conseguido um compromisso, com alguma flexibilidade na regra de "comprar europeu" e na consideração da ajuda bilateral sem contudo esta esgotar a contribuição de cada estado membro para o EPF.
Se nada obstar ao acordo, este deverá ser aprovado quarta-feira, na próxima reunião de embaixadores da União Europeia em Bruxelas.
"É uma boa solução para a Ucrânia, pois permite a entrega de ajuda militar bilateral, ao mesmo tempo que é evitado o atraso burocrático como parte di esforço Europeu", comentou o embaixador alemão em Bruxelas, Michal Clauss à Agência Reuters.
Iniciativa checa
De acordo com a União Europeia, o Mecanismo já permitiu enviar para a Ucrânia auxílio militar no valor de 6.1 mil milihões de euros.
O Alto Representante da UE para os negócios estrangeiros e a política de segurança, Josep Borrell, propôs o ano passado a criação de um novo mecanismo específico para a Ucrânia, dentro do EPF, orçado em cinco mil milhões de euros anuais para os próximos quatro anos.
Coincidindo com a ofensiva diplomática em Washington, as autoridades polacas anunciaram esta terça-feira que se juntaram a uma iniciativa liderada pela República Checa para comprar e entregar munições à Ucrânia com caráter de urgência, numa tentativa de aliviar a escassez de armas em Kiev, sem especificar montantes.
O primeiro-ministro checo, Petr Fiala, declarou que o Governo que lidera recebeu dinheiro suficiente dos aliados da Ucrânia para comprar 300.000 munições, com vista a adquirir mais 200.000. O governo checo especificou que o plano visa a entrega de 800.000.
A iniciativa liderada pela República Checa, acordada na Conferência de Apoio à Ucrânia, realizada na semana passada em Paris, já recebeu o apoio de outros países europeus, como a Bélgica, Dinamarca, Lituânia e Países Baixos, e de outras potências internacionais, como o Canadá.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem pedido repetidamente ao Congresso dos EUA que o ajude, mas os líderes Republicanos da Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso) não se têm mostrado dispostos a levar a ajuda à Ucrânia a votação, afirmando que qualquer ajuda deve, em primeiro lugar, suprir as necessidades de segurança das fronteiras norte-americanas.
Os Estados Unidos da América já entregaram quase 50 mil milhões de dólares em assistência à Ucrânia desde o início da Administração Biden, dos quais 44,2 mil milhões desde a invasão russa a 24 de fevereiro de 2022.
com agências