Em Marselha. Papa Francisco condena "globalização da indiferença" para com os migrantes
O Para Francisco já está em Marselha para uma visita de dois dias dedicada à crise migratória do Mediterrâneo. Esta sexta-feira, Francisco condenou a “indiferença que vai ensanguentando o Mediterrâneo”, afirmando que impedir o resgate de migrantes no mar é um “gesto de ódio”.
Dez anos depois, as palavras de Francisco são semelhantes perante uma crise migratória que se agravou.
Num discurso após uma cerimónia na basílica de Marselha, o Papa Francisco afirmou que “estamos perante uma cultura de indiferença” que “vai ensanguentando o Mediterrâneo”.
“Não podemos continuar a testemunhar as tragédias dos naufrágios causados pelo tráfico hediondo e pelo fanatismo da indiferença”, afirmou. “Devemos ser exemplares no acolhimento mútuo e fraterno”, apelou Francisco, denunciando mais uma vez o “imenso cemitério” em que se tornou o Mediterrâneo, onde “está sepultada a dignidade humana”.
“Perante uma tragédia destas, não servem as palavras, mas sim as ações”, insistiu o Papa, condenando “a paralisia do medo”.
O chefe da Igreja católica defendeu que os migrantes que correm o risco de se afogar no mar “devem ser resgatados”, afirmando que esse é “um dever da humanidade, um dever da civilização”. Impedir esses resgates é “um gesto de ódio”, disse Francisco.
Referindo-se ao aumento do desembarque de refugiados em Lampedusa, o Papa Francisco condenou a condição em que vivem muitos migrantes, considerando que revela “uma crueldade e uma terrível falta de humanidade”.
"Eles mantêm-nos em campos de concentração líbios e depois atiram-nos ao mar", acrescentou o Pontífice. “Não podemos admitir ver os seres humanos a serem tratados como moedas de câmbio, prisioneiros e torturados”, acrescentou.
Número de migrantes que chegam a Itália duplicou
Esta é a primeira visita de um papa à cidade de Marselha em 500 anos. A visita histórica de Francisco à segunda maior cidade francesa, onde convivem diversas comunidades e religiões, acontece numa altura em que uma nova vaga de chegadas de migrantes à ilha italiana de Lampedusa levou a União Europeia a adotar um plano de emergência para ajudar Roma a gerir os fluxos migratórios do Norte de África. Desde o início do ano, quase 130.000 migrantes chegaram a Itália, quase o dobro do número do mesmo período de 2022 e o triplo de 2021.
A situação mais crítica é vivida em Lampedusa, onde em apenas três dias, perto de dez mil migrantes chegaram à ilha, que tem cerca de seis mil habitantes.
Perante estes números alarmantes, a União Europeia adotou um plano de emergência para ajudar Roma a gerir os fluxos migratórios provenientes do Norte de África.
“Apresentam-nos soluções com um discurso muito securitário e não um discurso humanitário que assenta no resgate e proteção das pessoas”, explicou Isabel Silva em entrevista à RTP.
Depois da oração na basílica de Marselha, Papa reza num monumento dedicado àqueles que morreram no mar - um número estimado em mais de 28 mil desde 2014, segundo a Organização Internacional para as Migrações.
No sábado, está prevista uma missa no estádio Orange Vélodrome, onde são esperadas 57 mil pessoas, e um encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, apesar de não ser uma visita de Estado.