Em direto
Caso das gémeas. Nuno Rebelo de Sousa ouvido no Parlamento por videoconferência

Em contexto de polémica racista. Bardella sucede a Le Pen no Rassemblement National

por Carlos Santos Neves - RTP
Jordan Bardella assume a liderança do partido de extrema-direita no contexto da controvérsia que envolve um deputado acusado de racismo Teresa Suarez - EPA

Jordan Bardella tornou-se este sábado o novo líder do partido de extrema-direita francês Rassemblement National, recebendo o testemunho de Marine Le Pen, que vai agora dedicar-se à ação parlamentar desta força política. O eurodeputado de 27 anos assume o cargo no contexto da controvérsia que envolve o deputado à Assembleia Nacional Grégoire de Fournas, suspenso por causa de palavras racistas.

Jordan Bardella, até agora presidente interino do Rassemblement National, ou Reagrupamento Nacional, é tido como uma voz radical da formação. Obteve, no processo de escolha da sucessão de Le Pen, 84,4 por cento dos votos. O adversário era Louis Aliot, presidente da câmara de Perpignan.Há 11 anos, quando sucedeu ao pai, Jean-Marie Le Pen, Marine reuniu 67,65 por cento dos votos contra Bruno Gollnisch. Nas últimas eleições presidenciais, em abril, foi segunda, atrás de Emmanuel Macron.

Bardella é o primeiro líder do Rassemblement National - herdeiro da Frente Nacional fundada em 1972 por Jean-Marie Le Pen – sem o nome da dinastia fundadora. Mantém, todavia, uma relação com uma das sobrinhas de Marine Le Pen, Nolwenn Olivier.

Marine Le Pen vai agora concentrar-se na direção da bancada parlamentar do partido, que ocupa, desde as eleições de junho, 89 dos 577 assentos da Assembleia Nacional.

Com esta mudança na ponte de comando, observa a agência France Presse, Le Pen vê-se livre de “tarefas internas por vezes ingratas”, apontando baterias, enquanto deputada por Pas-de-Calais, no norte de França, ao terreno privilegiado do combate político. Ou seja, o Parlamento. E o próprio Bardella tem repetido o bordão do apoio a uma nova candidatura de Marine à Presidência, em 2027.

No atual desenho da Assembleia, o Reagrupamento Nacional é a mais robusta força da oposição. O campo de Macron já não desfruta de uma maioria absoluta e a aliança de esquerda NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social) ocupa 150 lugares.
Os “identitários” e a Reconquista
Jordan Bardella tem sido criticado, internamente, por aquilo que os seus detratores encaram como complacência para com nomes que deixaram o partido para se filiarem na Reconquista - movimento de Eric Zemmour, o polemista que nas últimas presidenciais alcançou um score de sete por cento.

Uma das personalidades dissidentes é Marion Maréchal, de 32 anos, sobrinha de Marine Le Pen dada como herdeira política do clã da extrema-direita até à antecâmara das eleições deste ano.É conhecido o apoio de Bardella à ideia de capitalizar o recrudescimento da extrema-direita na União Europeia, cujo mais recente capítulo é o triunfo da nova primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, à frente dos neofascistas Fratelli d'Italia.

As ligações do novo líder do Rassemblement aos movimentos “identitários” e anti-imigração são também objeto de reparos crónicos.

Num artigo publicado em outubro, o seu adversário, Louis Aliot, reprovava-lhe a conotação com “os adeptos da grande substituição”, teoria da conspiração marcadamente racista segundo a qual a população branca estaria a ser substituída com a cumplicidade de elites.
“Voltem para África” ou “volta para África”
A sucessão no Rassemblement National consuma-se no momento em que o partido se vê amarrado a uma controvérsia parlamentar protagonizada pelo deputado Grégoire de Fournas, que, na passada quinta-feira, fez um comentário racista durante uma intervenção do deputado negro Carlos Martens Bilongo.

Bilongo, de origem angolana e congolesa, referia-se no Parlamento à crise dos refugiados no Mediterrâneo quando se ouviu, a partir da bancada do partido de Le Pen, um grito de “volta para África”, ou “voltem para África”. “Nem pensar”, reagiria de imediato o deputado da França Insubmissa, da extrema-esquerda.
José Manuel Rosendo e Jaime Guilherme, correspondentes da RTP em Paris

A Assembleia Nacional suspendeu entretanto Fournas. É a primeira vez, desde 1958, que é aplicada tal pena a um parlamentar em França.

c/ agências
Tópicos
pub