Eleições Timor-Leste. Partido Democrático diz existir expectativa para formar aliança com vencedor

por Lusa

O secretário-geral do Partido Democrático (PD) disse hoje à Lusa que, "pelas conversas informais", há uma expectativa de formar aliança com o vencedor das eleições parlamentares de domingo, o CRNT, de Xanana Gusmão.

"Nós temos o princípio de respeitar a justiça e o povo deu a confiança ao partido CNRT e nesse sentido certamente a posição do PD é continuar a respeitar a voz do povo. E por isso mesmo nós achamos que temos de dignificar esta confiança para depois manter a nossa relação com o povo", disse António da Conceição, numa primeira reação aos resultados.

"Nesse sentido, penso que, embora ainda não tenha havido qualquer convite oficial, pelas conversas informais há esta expectativa", considerou.

O Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, venceu as eleições parlamentares em Timor-Leste, ficando aquém da maioria absoluta.

A força política, que obteve a maior vitória de sempre, garantiu uma ampla representação parlamentar, com 31 dos 65 lugares do Parlamento, mais dez dos que detém atualmente, de acordo com os resultados gerais provisórios do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) timorense.

A contagem final provisória do STAE, que terá de ser verificada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo Tribunal de Recurso, dá ao partido de Xanana Gusmão 288.101 votos (41,62%), um resultado superior ao obtido pelas três forças políticas que compõem o atual Governo.

O cenário mais provável é o de uma aliança entre o CNRT e o PD, o que daria às duas forças políticas uma maioria clara de 37 deputados.

Xanana Gusmão deverá falar à imprensa estar tarde (manhã em Lisboa).

António da Conceição considerou que o resultado demonstra que a população foi "muito madura" na avaliação do atual Governo, considerando que o executivo não trabalhou adequadamente na prestação de serviços.

"O Governo teve sempre o Orçamento Geral do Estado [OGE] aprovado, e a população tinha uma expectativa de que haveria prestações de serviços. Contudo, numericamente, temos OGE, mas na prestação de serviços quase não havia nada. Nesse sentido, o povo avaliou a situação e deu a sua posição", considerou.

A perda da plataforma, composta pelos três partidos do Governo, marca igualmente o fim da presença do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO), partido ligado ao grupo de artes marciais KORKA, aspeto que Conceição destacou.

"Temos de começar a marcar uma posição a este respeito devido à influência de artes marciais. Respeitamos a posição como cidadãos e o seu direito de pertencer [a grupos de artes marciais], mas para o partido é importante ter visão de Estado", considerou.

"Para o futuro deve pensar-se bem, como considerar a existência de partidos políticos e as suas relações com grupos organizados. Para a sociedade civil, que também tem prestado serviços ao povo, consideramos sempre como organizações que não devem ser políticas, quanto mais organizações de artes marciais que, também, várias vezes, têm mostrado posições de confrontação. Situação que deve ser analisada e ponderada", afirmou.

Questionado sobre a perda significativa de apoio da Fretilin, partido que viabilizou o Governo desde 2020 e permitiu que chegasse ao fim do mandato, Conceição disse que o eleitorado penalizou essa decisão.

"Foi de facto um julgamento do povo quanto à situação que ultrapassámos nos últimos anos. A Fretilin deveria ter formado um novo Governo, poderia continuar o mesmo primeiro-ministro, mas deveria ter mudado a sua postura e apresentar-se como partido de alternativa, com novo programa", disse.

"A posição que tomou foi apenas de contestação e não demonstra os princípios da própria Fretilin e, nesse sentido, o povo também julgou isso", afirmou.

Noutro âmbito, Conceição, que é atualmente deputado, disse "não fazer sentido" tentar adiar a posse dos novos deputados para setembro, como têm defendido as bancadas do atual Governo.

"A postura tomada pelas bancadas [do Governo] baseia-se apenas no regimento do Parlamento que não vincula nada com a Constituição. Deve seguir-se a Constituição. O mandato de uma legislatura é de cinco anos, e não há razão para adiar", referiu.

A contagem dos votos vai agora ser validada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), antes dos resultados serem certificados pelo Tribunal de Recurso e da posse dos novos 65 membros do Parlamento Nacional timorense.

 

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