Eleições na Alemanha. As propostas dos partidos e os principais candidatos
É um dos maiores países da Europa e o mais populoso da União Europeia. Nesta eleição federal antecipada, as sondagens apontam para uma mudança política na Alemanha, com o candidato da CDU, Friedrich Merz, na linha da frente para substituir o atual chanceler Olaf Scholz, do SPD. Outro dos elementos a destacar neste escrutínio é a possível ascensão da extrema-direita a um inédito segundo lugar. Mas quem são os candidatos e o que propõem principais partidos?
Na corrida à eleição de 23 de fevereiro, há ainda a destacar a ascensão de um partido de extrema-direita nas sondagens. A Alternativa para a Alemanha (AfD) deverá ficar em segundo lugar, com mais de 20 por cento dos votos, aquele que seria o melhor resultado de sempre a nível federal deste partido fundado em 2013.
As restantes forças partidárias já afastaram qualquer hipótese de coligação com o partido de Alice Weidel. No entanto, nas escassas semanas de campanha, o líder da CDU ensaiou um extremar de posições, ao apresentar um conjunto de propostas sobre a imigração que foi apoiado pela AFD. Caiu o “brandmauer”, a cerca sanitária que afastava há décadas a extrema-direita da aprovação de uma proposta no Bundestag.
Mas esta estratégia de Merz para conquistar votos à direita parece ter falhado. Nas sondagens após a manobra parlamentar, os conservadores da CDU/CDU recuaram quase 3 por cento nas sondagens, enquanto a Alternativa para a Alemanha subiu praticamente esse mesmo valor.
O resultado deste domingo irá ditar a constituição do novo Bundestag, mas também aquele que será o chanceler alemão, uma figura com um papel predominante na política nacional mas também europeia. Conhecemos os principais candidatos e o que defendem.
Friedrich Merz (CDU/CSU)
O líder da União Democrática Cristã (CDU) é apontado como o próximo chanceler do país. Rival de Angela Merkel, Friedrich Merz é em muitos aspetos a antítese da antiga líder alemã. De resto, Merkel não se coibiu de criticar o seu sucessor na liderança da CDU.
A antiga chanceler afirmou mesmo que “não podia continuar no silêncio” após a votação da CDU ao lado da extrema-direita a respeito da imigração. “Mesmo sob condições difíceis, as maiorias não se podem formar com a AfD”, vincou.
Destaca-se também pela posição muito mais restrita em relação à imigração, algo que ficou patente nas últimas semanas, com o polémico voto ao lado da AfD. Merz defende, entre outras medidas, a revogação de passaportes para alemães naturalizados condenados por crimes, a redução dos programas de ajuda aos requerentes de asilo ou a restrição do reagrupamento familiar e a detenção de estrangeiros sem documentos na fronteira.
Friedrich Merz defende um apoio mais robusto à Ucrânia na guerra contra a Rússia e defende a renovação das forças armadas do país. A frase forte da campanha de Merz é a defesa de “uma Alemanha de que nos podemos orgulhar novamente”.
Olaf Scholz (SPD)
O atual chanceler alemão, o primeiro após 16 anos de liderança de Angela Merkel, procura uma muito improvável reeleição ao fim de mais de três anos no cargo. Nas últimas eleições federais, o partido ficou em primeiro lugar e liderou a coligação “semáforo”, com FDP e Verdes.
A governação de Scholz, de 66 anos, ficou indubitavelmente marcada pela invasão russa da Ucrânia, consumada escassos meses após a tomada de posse do novo chanceler alemão.
Este desenvolvimento marcou os últimos anos, sobretudo pela elevada dependência energética alemã em relação ao gás russo. Ainda assim, a Alemanha é o principal país europeu a fornecer ajuda a Kiev.
Este partido defende ainda o aumento do salário mínimo de 12,41 euros para 15 euros por hora. Ou seja, cerca de 1.985 euros num trabalho de 40 horas semanais.
Não se situando tão à direita como o adversário da CDU/CSU, o partido endureceu a sua posição quanto à imigração. Caso vença as eleições, o SPD propõe-se a acelerar a deportação de requerentes de asilo cujo pedido tenha sido rejeitado e a manutenção de controlos fronteiriços terrestres.
Defende, no entanto, a manutenção da lei da cidadania, o que facilita a obtenção da cidadania alemã por estrangeiros.
Apesar da experiência dos últimos anos como chanceler, há quem defenda que Olaf Scholz deveria ter cedido o lugar de liderança do partido ao atual ministro da Defesa, Boris Pistorius.
Alice Weidel (AfD)
Numa altura em que a Alternativa para a Alemanha (AfD) ocupa o segundo lugar destacado nas sondagens, Alice Weidel é uma candidata de destaque, ainda que muito dificilmente chegue à liderança do país, uma vez que todos os partidos do espetro politico alemão se recusam a entrar em coligações com a extrema-direita.
É, no entanto, a líder preferida de Elon Musk, o influente membro da Administração Trump, dono da rede social X e da Tesla, que no mês passado declarou apoio à AfD nestas eleições.
Num país ainda muito marcado pelas cicatrizes do nazismo, Elon Musk diz que a Alemanha “ainda se foca demasiado na culpa do passado” e que o país se deve libertar do seu passado. O ativismo político do multimilionário norte-americano levou a uma queda de 60 por cento na venda de veículos da Tesla.
Apoios internacionais à parte, Alice Weidel segue de facto a cartilha dos líderes de extrema-direita. A antiga economista da Goldman Sachs tem 46 anos e é fluente em mandarim. Ocupa a liderança da AfD desde 2022 mas é a líder parlamentar do partido no Bundestag desde 2017.
Destaca-se pelas suas posições a respeito da imigração, ao defender o fecho de fronteiras terrestres da Alemanha e o apelo às deportações em massa num plano de “remigração”. Ao contrário dos partidos mainstream, a AfD defende a manutenção do “travão da dívida”, ao mesmo tempo que quer reduzir impostos.
A nível de política externa, o Alternativa para a Alemanha é um partido próximo de Vladimir Putin e defende o fim das sanções contra Moscovo e corte radical no apoio militar a Kiev. Advoga ainda a retirada da Alemanha da União Europeia e que o país deve abandonar os acordos internacionais subscritos a respeito do clima.
Robert Habeck (Os Verdes)
Atual vice-chanceler e ministro da Economia e Ação Climática, Habeck desempenhou um papel central na solução governativa encabeçada por Olaf Scholz. O partido que lidera tem surgido muito próximo do SPD nas últimas sondagens, com cerca de 13 por cento.
O partido defende a eliminação gradual dos sistemas de aquecimento a combustíveis fósseis na Alemanha, uma política que levou a uma quebra na popularidade do Governo. Defende ainda o apoio à Ucrânia e a aquisição conjunta de armas na União Europeia.
O posicionamento nas sondagens coloca-o novamente como possível parceiro de uma coligação de Governo. No entanto, Robert Habeck, de 55 anos, poderá ter anulado essa hipótese ao criticar abertamente o candidato da CDU, Friedrich Merz, por se ter aliado à extrema-direita numa votação no Bundestag.
Habeck disse mesmo que as ações de Merz o “desqualificavam” para ocupar o cargo de chanceler.
Christian Lindner (FDP)
Lindner também foi ministro do Governo de Scholz. De resto, foi a sua demissão que esteve na origem da crise política que levou à marcação de eleições antecipadas. Com uma posição conservadora do ponto de vista fiscal, o partido que se aliou ao SPD nos últimos anos opõe-se com veemência à reforma do “travão da dívida”.
É a grande novidade destas eleições federais na Alemanha. A aliança Sahra Wagenknecht (BSW) nasce de uma cisão à esquerda, em concreto no partido Die Linke e obteve um resultado surpreendente nas eleições regionais que já disputou.
Considerado um partido populista de extrema-esquerda, partilha ainda assim algumas das ideias comuns à extrema-direita, o que Wagenknwcht designou de “conservadorismo de esquerda”: se propõe ideias da esquerda ao nível económico, como o investimento em serviços públicos infraestruturas ou a aposta nos apoios sociais, adota uma posição anti-imigração e contra o apoio da Alemanha à Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Poderá colher bons resultados entre possíveis eleitores da AfD e Die Linke, surgindo nas últimas sondagens à frente do antigo partido, Die Linke, e dos liberais do FDP.
Jan van Aken e Heidi Reichinnek (Die Linke)
A esquerda concorre a estas eleições com Jan van Aken e Heidi Reichinnek, que surgem nas sondagens com cerca de 5 por cento dos votos.
Apesar da ameaça representada pela dissidência da antiga líder, Sahra Wagenknwcht, o Die Linke tem registado um aumento significativo de filiados nas últimas semanas: pelo menos 23.500 pessoas desde o início de 2025. Este movimento parece ser uma resposta à tendência de crescimento da extrema-direita na Alemanha mas também ao paradoxo do BSW.