As Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) afirmaram que ao início da noite passada a situação no país, face aos violentos protestos pós-eleitorais, sobretudo em Maputo, era estável e que estão no terreno em "apoio" às forças de segurança.
"Em momentos como este, com manifestações ocorrendo em algumas regiões, o nosso papel estende-se também ao apoio das forças de segurança na manutenção da ordem e tranquilidade públicas, sempre atuando de forma subsidiária e em coordenação com as autoridades civis", disse o general Omar Saranga, em representação das FADM.
Garantiu que os militares no terreno estavam, ao início da noite, a remover pneus queimados e outros destroços de barricadas das avenidas da capital onde manifestantes deixaram as vias praticamente intransitáveis, após violentos confrontos com as forças policiais, que durante todo o dia dispararam tiros e gás lacrimogéneo na tentativa de desmobilizar estes grupos.
"Nós, digo todas as Forças de Defesa e Segurança, estão a controlar a situação. E os moçambicanos estão a compreender que a prioridade não é destruir, a prioridade é construir. E a nossa presença, com outras forças, é exatamente para contribuir para esse efeito", garantiu na mesma declaração, em Maputo, o general Omar Saranga, Chefe do Estado-Maior do Comando no Teatro Operacional Norte.
"O estado geral da nação é estável. Está controlado. As instituições públicas, embora não estejam a funcionar na sua maior força - se hoje não o fizeram é porque as condições não o permitiam -- porque há que salvaguardar a vida desses moçambicanos", acrescentou, sublinhando que "o direito de uns não deve impedir o direito de outros".
"Nos próximos dias é continuar a agir como agimos hoje [quinta-feira]. Mostrar que estamos firmes na construção de um Moçambique forte e unido", disse ainda.
Durante todo o dia de quinta-feira, enquanto eclodiam focos de conflitos em toda a capital, incluindo no centro de Maputo com manifestantes a montarem barricadas de pneus a arder em várias artérias centrais, o comportamento dos militares, que chegaram também a escoltar sem incidentes manifestantes que queriam regressar a casa, foi reconhecido por vários setores da sociedade, sendo até visíveis momentos de interação pacífica com a população.
"Mostra que as FADM são uma força credível em defesa que cumprem o dever e a tarefa de defender todos os moçambicanos, independente da sua cor religiosa, partidária ou outra", afirmou o general Omar Saranga.
A Lusa constatou ao início da noite de quinta-feira que dezenas de militares moçambicanos estavam no centro de Maputo, carregando pás, para limparem a destruição e vandalização provocada pelas manifestações.
Ainda não eram 19:00 locais (17:00 em Lisboa) quando dois camiões de transporte de militares chegaram à avenida Acordos de Lusaka, palco esta manhã de várias ações de vandalização e saque de duas lojas, de mobiliário e telecomunicações, no centro comercial do grupo sul-africano Shoprite.
Após uma rápida formatura, de arma a tiracolo e pás nas mãos, os militares seguiram para aquela avenida e ruas adjacentes para limparem as marcas de dezenas de pneus e contentores do lixo incendiados, removendo pedras de todos os tamanhos e todo o rasto de destruição, perante o olhar surpreendido dos moradores.
"Um grande serviço que estão a fazer", desabava uma moradora, ao ver o trabalho dos militares, que retiravam destroços ainda incandescentes das mesmas ruas que, horas antes, estavam tomadas pelo caos e pela destruição, bem como o que sobrou das barricadas montadas por apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro e que convocou estes protestos.
No mesmo local, horas antes, a polícia tinha travado manifestações dos apoiantes de Venâncio Mondlane com tiros para o ar e lançamento de gás lacrimogéneo, com aqueles a responderem com arremesso de pedras e garrafas.