Eleições Moçambique. Ativista alerta que limitações na Internet podem aumentar protestos

por Lusa

O ativista sócio-económico moçambicano Célio Lázaro afirmou hoje que as limitações no acesso à Internet, desde o início das manifestações pós-eleitorais, pode ter o efeito contrário e aumentar a insatisfação e protestos populares em Moçambique.

"Por causa destas publicações, que dependemos de Internet, para ter acesso, sentimo-nos restringidos. Já não conseguimos usar a Internet, ficou claro que pessoas sofrem com isso, as empresas sofrem (...), as próprias operadoras perdem muito dinheiro e começam a criar uma insatisfação aos clientes", afirmou Célio Lázaro, em declarações aos jornalistas, na Beira, capital da província de Sofala, no centro de Moçambique.

"E isto não está a contribuir para acabar com os protestos, mas sim estão a intensificar mais a insatisfação popular. Porque eu quero usar a Internet e sinto-me restringido, então vou para a rua, se em casa não tenho nada a fazer. Nós, atualmente, resumimos as nossas vidas no uso da Internet e muito estudantes saem prejudicados porque têm trabalho para concluir", frisou.

O ativista sugeriu que as operadoras de telecomunicações que limitam o acesso à Internet sejam responsabilizadas criminalmente, por contribuírem para a limitação dos direitos dos cidadãos.

"Uma forma de reduzir a tensão social seria garantir maior transparência no processo eleitoral, atendendo às demandas por verdade e Justiça que emergiram nos últimos dias", concluiu.

O ministro dos Transportes e Comunicações moçambicano admitiu, no domingo, que as restrições à Internet, sobretudo nas redes sociais, resultou da própria ação dos operadores, para que não fosse utilizada para a "destruição do país", no contexto das manifestações pós-eleitorais.

"É uma combinação de muitos fatores. A destruição de infraestruturas, mas também a segurança dos próprios operadores, que têm de trabalhar num ambiente de segurança. Também a responsabilidade civil dos operadores, posso dizer, quando veem que a Internet está a ser utilizada para a destruição do país", disse o ministro Mateus Magala, questionado pelos jornalistas.

"Certamente eles próprios tomaram medidas para prevenir que a Internet seja um bem coletivo, não um mal usado para destruir o nosso país", afirmou.

Há cerca de duas semanas que o acesso à Internet, nomeadamente redes sociais e WhatsApp, está limitado, sendo estes habituais meios para convocação e divulgação de manifestações.

"Quando vemos violações que põe em perigo a integridade de todos os moçambicanos na nação, temos que agir como tal, para que os nossos meios de comunicação não sejam usados para a destruição do país. É nesse contexto que, por exemplo, muitas pessoas, por causa da segurança, não se fizeram ao serviço. Será que foi o Governo que disse para eles não irem ao serviço? Não, o Governo disse `vamos trabalhar`, mas as pessoas tomaram a decisão, pela perceção do risco onde estão, que não se podiam locomover", acrescentou Magala.

O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.

Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional, sem prazos para esse efeito e ainda a analisar o contencioso.

Após protestos nas ruas que paralisaram o país nos dias 21, 24 e 25 de outubro, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo na quinta-feira, 07 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia, para dispersar.

Venâncio Mondlane convocou na segunda-feira mais três dias de protestos no país, a partir de quarta-feira, exigindo a reposição da verdade eleitoral.

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