Eleições europeias. Subida de populismo é alerta para partidos tradicionais, mostra estudo

por Lusa

O Conselho Europeu de Relações Exteriores adverte que a tendência de subida do populismo na União Europeia (UE) é "uma chamada de atenção" para os partidos tradicionais, que devem acentuar a defesa do multilateralismo e do Estado de Direito.

Um estudo do ECFR (sigla em inglês), baseado em sondagens e modelos estatísticos, antecipa uma "viragem acentuada à direita" nas eleições europeias, marcadas para 06 a 09 de junho, com partidos populistas e eurocéticos a liderar as intenções de voto em um terço dos Estados-membros da União Europeia (UE) e a ficar em segundo ou terceiro lugares em outros nove países, incluindo Portugal.

"Um aumento iminente da influência e da representação da direita no Parlamento Europeu deve servir de alerta para os decisores políticos europeus sobre o que está em jogo para a UE", defendem Simon Hix e Kevin Cunningham, autores do trabalho do `think-tank`.

As implicações das eleições "podem ter grande alcance", alertam, apontando eventuais bloqueios à legislação necessária para implementar a próxima fase do Pacto Ecológico -- no atual parlamento, uma coligação de centro-esquerda (Socialistas e Democratas, Renovar a Europa, Verdes e a Esquerda) têm conseguido fazer passar as suas políticas ambientais, mas por margens muito curtas.

"Com uma mudança significativa para a direita, é provável que uma coligação `anti-ação política climática` venha a dominar após junho de 2024, o que prejudicaria significativamente o quadro do Pacto Ecológico da UE e a adoção e aplicação de políticas comuns para cumprir os objetivos de emissões líquidas nulas da União", refere o estudo.

Os esforços da UE para garantir o cumprimento do Estado de Direito também podem ser afetados. Até agora, tem sido possível uma "estreita maioria" a favor da imposição de sanções, incluindo a retenção de pagamentos orçamentais, nomeadamente nos casos da Hungria e da Polónia.

Mas, depois de junho de 2024 é provável que seja mais difícil para os eurodeputados centristas e de centro-esquerda (incluindo partes do Partido Popular Europeu) "manter a linha contra a erosão contínua da democracia, do Estado de Direito e das liberdades civis na Hungria e em qualquer outro Estado-Membro que possa seguir nessa direção", consideram os autores, Simon Hix e Kevin Cunningham.

O apoio à Ucrânia também pode ficar comprometido, existindo "uma forte possibilidade" de o partido pró-Rússia Revival, da Bulgária, ganhar três lugares nas europeias, entrando no Parlamento Europeu pela primeira vez.

Além disso, os resultados podem ter um efeito de contágio em votações em países como Alemanha, França e Áustria.

"Há também o perigo, com a possibilidade de Donald Trump regressar à Casa Branca, de a Europa poder contar com uns Estados Unidos menos empenhados a nível mundial. Este facto, aliado a uma coligação de direita e de orientação interna no Parlamento Europeu, pode aumentar a inclinação dos partidos antissistema e eurocéticos para rejeitar a interdependência estratégica e um vasto leque de parcerias internacionais em defesa dos interesses e valores europeus", lê-se ainda no documento do centro de análise.

"Para evitar ou mitigar os impactos de uma tal mudança para a política do populismo, Hix e Cunningham apelam aos decisores políticos para que "examinem as tendências que estão a impulsionar os atuais padrões de votação e, por sua vez, desenvolvam narrativas que falem da necessidade de uma Europa global no atual clima geopolítico, cada vez mais perigoso".

As eleições de junho "devem ter como objetivo salvaguardar e reforçar a posição da UE", refere Simon Hix, citado no relatório.

"As suas campanhas devem dar aos cidadãos razões para otimismo. Devem falar dos benefícios do multilateralismo. E devem deixar claro, em questões fundamentais relacionadas com a democracia e o Estado de Direito, que são eles, e não os que se encontram à margem da política, que estão em melhor posição para proteger os direitos fundamentais europeus", sustenta o coautor, professor no Instituto Universitário Europeu, em Florença.

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