EM DIRETO
Acompanhe na RTP1 e na Antena 1 o jogo dos oitavos de final entre Portugal e Eslovénia

Eleições em França. Líder da direita apela a uma "aliança" sem precedentes com a extrema-direita

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
A líder do partido de extrema-direita francês Rassemblement National (RN), Marine Le Pen e o líder do partido da oposição de direita Les Republicains (LR), Eric Ciotti. Joel Saget - AFP

O líder do partido de direita Les Républicains (RL, na sigla em francês), Éric Ciotti, apelou esta terça-feira a uma "aliança" sem precedentes com o partido de extrema-direita Rassemblement National (RN), de Marine Le Pen, para as eleições legislativas antecipadas em França de 30 de junho e 7 de julho, provocando um protesto no seio do próprio partido. Marine Le Pen saudou imediatamente a "escolha corajosa" de Ciotti, ao contrário de várias figuras do seu partido que o acusam de traição e apelam à sua demissão.

"Precisamos de uma aliança, sem deixar de ser nós próprios" disse Éric Ciotti, numa entrevista ao canal francês TF1 esta terça-feira. “Uma aliança com o Rassemblement National" e os seus candidatos, declarou no Telejornal das 13h, confirmando que tinha mantido conversações com Marine Le Pen e Jordan Bardella, que venceu as eleições europeias em França com mais de 30 por cento dos votos.

O presidente do Les Républicains  - o partido de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy - começou por defender que "é necessário servir um país que está em perigo” e criticou o presidente francês, Emmanuel Macron, por ter estragado o país e o ter conduzido ao estado em que hoje se encontra: "com mais violência, mais insegurança" e perante o “perigo melenchonista"

Fazendo referência a Jean Luc-Mélenchon, o líder da esquerda radical francesa da França Insubmissa, um dos partidos que constituem a possível união de esquerdas, que começou conversações na segunda-feira com vista a defrontar a extrema-direita nas próximas eleições. 

Éric Ciotti anunciou o seu desejo de criar uma aliança sem precedentes com a extrema-direita em França, para "ter um grupo poderoso na Assembleia Nacional".e "dar uma alternativa ao país".
"Escolha corajosa"

A líder do Rassemblement National reagiu imediatamente ao anúncio, elogiando a "escolha corajosa" e o "sentido de responsabilidade" de Ciotti, que defendeu uma posição contrária à do seu partido da direita tradicional, herdeiro do movimento gaulista, que sempre recusou trabalhar com a extrema-direita em França.

“Quarenta anos de um pseudo cordão sanitário, que levou à perda de muitas eleições, estão em vias de desaparecer”, disse à agência France Presse, Marine Le Pen, que tem vindo a seguir uma estratégia de desdemonização e normalização do seu partido na última década, nomeadamente através do seu afastamento da presidência do partido e aposta no jovem líder Jordan Bardella para o cargo.

O próprio Jordan Bardella que confirmou mais tarde um acordo com os Republicanos, com o apoio do seu partido a "várias dezenas de deputados" nas eleições legislativas, numa entrevista à France 2.  O líder da extrema-direita disse que  "continuará" a discutir o assunto com o presidente do LR "nas próximas horas e, provavelmente, um pouco mais tarde".

"Haverá um acordo entre o Rassemblement National e os Republicanos", afirmou Bardella, saudando "o facto de Éric Ciotti ter respondido favoravelmente" ao apelo que lançou "a todos os grupos patrióticos (...) que queiram contribuir para esta maioria de recuperação", incluindo ao partido da sobrinha de Marine Le Pen, Reconquista, considerado mais extremista do que o RN, mas que não resultaram numa aliança.

"As conversações com Marion Maréchal foram infrutíferas", afirmou Bardella, acrescentando que "para construir uma aliança e uma maioria é preciso confiança e penso que as ações e as posições muito excessivas de Éric Zemmour (presidente do partido) tornaram nulas as condições para um acordo".

A confirmação do acordo com os Republicanos, por parte do líder do RN, surge apesar da divisão no seio do partido da direita tradicional sobre o desejeo de aliança manifestado por Éric Ciotti. Durante o dia de hoje vários membros do partido manifestaram-se imediatamente contra esta aliança e acusaram o presidente Ciotti de seguir uma "linha pessoal" e apelaram à sua demissão. 


É o caso do presidente do Senado francês do LR, Gérard Larcher, um dos pesos pesados do partido que sempre se opôs à aproximação à extrema-direita e que afirmou que "nunca apoiaria um acordo com o Rassemblement National". E que, na sequência das declarações de Éric Ciotti, defendeu que este "não pode continuar a presidir o partido e que se devia demitir," através de uma publicação na rede social X.

c/agências
pub