El Salvador. Mais dois mil presos acusados de pertencerem a gangues chegam à prisão de Tecoluca

por Carla Quirino - RTP
Secretaria de Imprensa da Presidência via Reuters

Presos acusados de pertencer a gangues, detidos durante o estado de emergência de El Salvador, estão gradualmente a encher a superlotada prisão de Tecoluca. Nesta terça-feira foram transferidos mais dois mil homens que estavam encarcerados em diferentes presídios do país. Foram necessárias fortes medidas de segurança.

As imagens divulgadas pelo Governo de El Salvador mostram todo o processo de transferência de dois mil presos, alegadamente, associados aos gangues que operam no país.

As autoridades, fortemente armadas, escolheram a madrugada para escoltar mais dois mil prisioneiros para a prisão de alta segurança de Tecoluca, entretanto já superlotada de milhares de outos elementos de gangues, acusados ou condenados.

Esta operação foi anunciada pelo presidente de El Salvador, Nayib Bukele que se tornou popular devido à política opressiva a nível interno. Bukele fez da luta contra a criminalidade dos gangues uma das suas bandeiras para as eleições presidenciais do país em Fevereiro. Acabou por ganhá-las com 85 por cento dos votos e desta forma deverá manter-se no poder por mais cinco anos.

Os presos foram transportados em carrinhas com as mãos algemadas atrás das costas, a cabeça apoiada na cadeira da frente e vestindo apenas uns calções de algodão branco. Transporte dos presos para o CECOT | Secretaria de Imprensa da Presidência via Reuters

Conhecida por uma super-prisão, o Centro de Confinamento de Terrorismo, CECOT, a 74 km a sudeste da capital San Salvador, ocupa 166 hectares, em Tecoluca. Foi um dos principais projetos do presidente Bukele, concluído em janeiro do ano passado.

"Transferimos mais de 2.000 membros de gangues das prisões de Izalco [oeste], Ciudad Barrios [leste] e San Vicente [sudeste], para o Cecot", escreveu Bukele na rede social X.

A construção do CECOT tem o propósito de aprisionar os membros mais violentos e cabecilhas dos principais gangues do país, MS-13 e Barrio 18.

Membros de gangues esperam na carrinha ao chegarem ao CECOT, em Tecoluca | Secretaria de Imprensa da Presidência via Reuters 

Nestas instalações de alta segurança onde não entra sol, só existe luz artificial 24 horas por dia, os presos são obrigados a comer com as mãos, porque a utilização de facas e garfos poderiam transformar-se em armas mortais. Entre os alimentos estão arroz, farelo, ovos cozidos ou macarrão.

Os presos só podem sair das celas 30 minutos por dia. Podem exercitar-se, usando apenas o próprio peso corporal. Não existe qualquer objeto de treino devido ao medo de se espancarem uns aos outros ou aos guardas com halteres ou barras.

À chegada elementos da Guarda Secretaria de Imprensa da Presidência via Reuters

Dentro do CECOT existem oito módulos com um número indeterminado de presos em cada um, porém as autoridades não revelam quantas pessoas lá se encontram. No projeto, a capacidade de toda a prisão é de 40 mil presos.

Os condenados dormem em cubículos colados uns aos outros, em forma de beliches de quatro andares, sem almofadas ou colchão..
 
Guardas penitenciários fortemente armados vigiam os recém-chegados membros de gangues, enquanto são verificados os processos no Centro de Confinamento de Terrorismo | Secretaria de Imprensa da Presidência via Reuters 

Alguns grupos de Direitos Humanos criticam a instalação prisional chamando-a de “buraco negro dos Direitos Humanos”. Enquanto que diversos funcionários da ONU descreveram o CECOT como um “poço de betão e aço”, que foi construído para "despachar os prisioneiros sem aplicação da pena de morte".

Um relatório do grupo de direitos humanos Cristosal concluiu que 174 reclusos foram torturados e mortos de forma violenta desde que o Presidente Nayib Bukele lançou a dura campanha contra os gangues.
Muitos exibem tatuagens de algarismos, simbolizando a afiliação a gangues | Secretaria de Imprensa da Presidência via Reuters

O aumento da criminalidade em El Salvador remonta à guerra civil na década de 1980 que empurrou muita população de latino-americanos a refugiarem-se nos EUA. Terá sido nas rua de Los Angeles que se formaram os gangues MS-13 e Barrio 18.

Quando a guerra terminou, os grupos de El Salvador regressaram ao país e com eles trouxeram as suas afiliações a gangues, rivalidades e violência.

As autoridades estimam que o Barrio 18 tenha cerca de 65 mil membros globais, enquanto o MS-13 tem entre 50 mil e 70 mil.

No rol dos crimes estão os homícidios, tráfico sexual e de drogas, extorsão, lavagem de dinheiro e sequestro.

O número de assassinatos em El Salvador – considerado por muitos como a capital mundial do homícidio – caiu 56,8 por cento em 2022 após a repressão levada a cabo pelas medidas do Governo.

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