O analista guineense Diamantino Domingos Lopes defendeu hoje que a educação pública na Guiné-Bissau piorou porque não é uma prioridade e há interesse em "manter a sociedade ignorante" e perpetuar um sistema "criminoso e corrupto".
"Uma sociedade responsável, um Governo consciente sabe que a transformação se faz pela educação. Quem se educa são os recursos humanos que são o principal produto, o principal recurso, a principal riqueza e esse produto precisa de ser bem treinado, precisa de ter uma boa constituição para dar resposta aos desafios do desenvolvimento", afirmou o sociólogo guineense.
O setor da educação na Guiné-Bissau é há vários anos "o parente pobre" do país, apesar de a maior parte da população ser jovem.
Atingido por sistemáticas greves dos professores, a pandemia provocada pelo novo coronavírus ainda afetou mais o setor com anos letivos anulados ou prolongados. Há jovens que estão há dois anos para passar de ano, mesmo com notas positivas, segundo testemunhos feitos à Lusa.
Desorganizado, o sistema de educação público não oferece garantias e quem tem algum dinheiro acaba por inscrever os filhos no setor privado, onde lecionam muitos dos professores do setor público.
"Não é uma prioridade, porque visa manter o `status quo`, uma sociedade ignorante, que bate as palmas aos infratores, aos criminosos, aos corruptos", afirmou o analista.
"Portanto, mantendo este `status quo`, o sistema continua a funcionar", disse.
Para o analista, é preciso compreender-se que uma sociedade esclarecida promove o "desenvolvimento, a democracia, o Estado de Direito, porque terá oportunidade de ter noção das coisas" e conhece os seus direitos e o que "vale para o país".
"Neste momento, o que acontece é que se faz passar uma ideia de que há certas figuras que são vetores do desenvolvimento do país e que algumas pessoas não contam, por exemplo, as bases. Quer dizer, entregamos o futuro do país, o nosso futuro, o nosso bem-estar, a um grupo de pessoas", afirmou.
Segundo Diamantino Domingos Lopes, continua a prevalecer a ideia de haver um "revolucionário salvador e isso não é justo" porque "cada um deve dar a sua parte para desenvolver o país".
"Essa é a consciência que se deve incutir na sociedade, mas isso faz-se com educação. Negando a oportunidade de escola a um grande número de pessoas na sociedade, vai-se mantendo o `status quo` e vamos continuar a olhar para essas pessoas como figuras importantes, que com um piscar de olhos podem transformar a sociedade, o que não é verdade", disse.