Economia, pilar social e abertura. Começou a presidência portuguesa da União Europeia
O primeiro-ministro, António Costa, recebeu esta terça-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, no primeiro encontro oficial da presidência portuguesa da União, que terá como prioridades a recuperação económica, o pilar social e uma política externa de abertura.
Adiante o primeiro-ministro advertiu, em resposta aos jornalistas, que é preciso moderar a ansiedade dos cidadãos em relação às vacinas contra a Covid-19, salientando que o plano de vacinação abrange 450 milhões de europeus e "acompanhará todo o ano de 2021".
"Termos conseguido assegurar que as vacinas eram distribuídas a todos os Estados-membros, de acordo com a sua população, foi um momento fundamental de aproximação entre a Europa e os cidadãos", explicou António Costa.
"Toda a gente pode ter acesso à vacina, simultaneamente e de forma justa".
Questionado sobre a possibilidade de as doses de vacinas já encomendadas pela Comissão Europeia não chegarem para as necessidades da população europeia, até porque algumas das multinacionais contratadas não têm ainda as vacinas aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento, o primeiro-ministro defendeu que "é preciso ter-se consciência do momento que se está a viver na história da humanidade".
"Nunca como agora esteve em curso um processo de vacinação em que só na Europa serão vacinados 450 milhões de pessoas. É preciso que se compreenda que nem se produzem num dia 450 milhões de doses, nem se administram num dia 450 milhões de doses. Este é um processo que vai acompanhar todo o ano de 2021", advertiu o chefe do Executivo português.
"Temos de saber gerir a nossa ansiedade. Percebo bem que todos estejam fartos desta ameaça da Covid-19", observou.
O primeiro-ministro português elogiou depois a ação da Comissão Europeia em matéria de vacinação, apontou que cada Estado-membro tem "a liberdade de poder definir o seu próprio plano de vacinação" e manifestou-se confiante de que todos os Estados-membros procuram fazer o melhor possível para conseguir atingir objetivos.
"O grosso da vacinação vai ocorrer no segundo e terceiro trimestres deste ano, mas o plano desenvolve-se ainda até ao primeiro trimestre do próximo ano. É preciso ter consciência de que a descoberta da vacina, a sua posterior produção, compra, distribuição e inoculação não se faz num dia", avisou.
Neste ponto, António Costa reforçou que este processo de vacinação "requer método, terminação e execução".
Antes, em resposta a uma anterior pergunta, já o primeiro-ministro tinha afirmando que ele, tal como outros líderes políticos europeus, "estão a fazer figas" para que a Agência Europeia do Medicamento aprove mais vacinas contra a covid-19.
"Mas, nessa aprovação, sabemos que o critério fundamental é o da segurança", acrescentou.
Questionado pelos jornalistas sobre a controvéria em torno da nomeação de José Guerra para procurador europeu, o primeiro-ministro considerou o caso "irrelevante" para a presidência portuguesa da União Europeia, ao passo que o presidente do Conselho Europeu manifestou confiança em Portugal.
Questionado sobre as consequências do facto de o Governo português ter enviado, em 2019, para a União Europeia dados incorretos sobre o currículo profissional de José Guerra, depois nomeado procurador europeu, António Costa desvalorizou.
"Não foi um tema abordado nesta reunião e creio que não tem qualquer relevância para a presidência portuguesa, nem para a forma como a presidência portuguesa vai decorrer", respondeu.
"Esse assunto não foi evocado", acentuou Charles Michel.
O formato de uma eventual cimeira com África não pode ser decidido apenas pela União Europeia (UE), sendo necessário esperar pela decisão dos líderes africanos, sublinhou ainda o presidente do Conselho Europeu, em Lisboa.
"Devemos esperar agora que as autoridades africanas se pronunciem sobre o formato. Não podemos decidir sozinhos sobre o formato", disse Charles Michel em resposta aos jornalistas na conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro português.
Charles Michel recordou que chegou a estar prevista uma reunião com a União Africana (UA) para meados de dezembro, "mas a Covid-19 tornou essa reunião impossível e foi adiada".
Agora aguarda-se "o que as autoridades africanas têm a dizer sobre o momento e o formato em que tal reunião poderá acontecer".
O presidente do Conselho Europeu sublinhou, porém, que, "mais importante do que o formato é o objetivo" dessa cimeira.
"A UE está muito empenhada com o conjunto dos países africanos, porque temos muito a fazer em comum, nomeadamente estimular os investimentos, apoiar a estratégia de desenvolvimento sustentável para África, desenvolver as parcerias operacionais", enumerou.
Charles Michel adiantou ainda que existe um "acordo político de princípio" para "relançar o debate sobre a questão da dívida dos países africanos", que se tornou mais premente em contexto de pandemia.
O primeiro-ministro considerou também que a existência de avanços no pilar social da União Europeia, que é uma das prioridades da presidência portuguesa, é essencial para combater os populismos e responder "aos medos" dos cidadãos.
Questionado sobre a tradicional oposição de Estados-membros europeus mais liberais (casos da Irlanda ou da Holanda) a um aprofundamento de regras de caráter social na União Europeia, o primeiro-ministro português defendeu a importância da cimeira social prevista para 7 de maio no Porto, onde se procurará um compromisso comum em torno do pilar social.
"No dia seguinte, no dia 8 de maio, também no Porto, haverá um Conselho informal, onde será trabalhada uma declaração que reafirme o compromisso de todos os Estados-membros no sentido de desenvolver este pilar social - um pilar que não vale por si só, mas que deve ser encarado como uma base sólida para dar confiança a todos os cidadãos", reagiu António Costa.
De acordo com o primeiro-ministro, a União Europeia enfrenta os desafios das transições climática e digital "e ninguém deve ficar para trás".
"O medo é aquilo que mais alimenta o populismo. Se queremos combater o populismo de forma eficaz, temos de dar confiança aos cidadãos - confiança perante aquilo que são os receios", sustentou.
No presente, António Costa apontou a Covid-19 como o principal receio manifestado pelos cidadãos, razão pela qual o processo de vacinação em curso na União Europeia "é fundamental".
"Mas há também outros receios. As pessoas têm receio que com a digitalização o seu posto de trabalho seja ocupado por um robô, e têm medo de que com a transição climática haja impacto em indústrias tradicionais como a do automóvel. Temos também de nos vacinar contra esses medos", argumentou.
Para António Costa, uma das vacinas contra o medo passa pela existência "de um pilar social forte" na União Europeia, que dê prioridade "às qualificações e às requalificações dos cidadãos".
"Temos de investir na inovação para que haja maior competitividade, mas também tem de haver proteção alargada para que ninguém fique para trás e todos participem na sociedade do futuro, que se pretende mais sustentável do ponto de vista ambiental e mais digital", acrescentou.