O presidente da Aliança Global para as Vacinas (Gavi), Durão Barroso, pediu hoje à União Europeia que acelere o acesso às vacinas nos países em desenvolvimento, aumentando contribuições multilaterais e doando doses em excesso através da plataforma Covax.
"Temos capacidade para distribuir 1,8 mil milhões de vacinas aos países de baixo rendimento para proteger as populações de alto risco, mas para atingir este objetivo precisamos de 2 mil milhões de dólares de fundos adicionais", disse Durão Barroso.
"Contribuições adicionais para a Gavi e a Covax são essenciais para a União Europeia (UE) mostrar a sua liderança na saúde global, reforçar o seu apoio a África e impulsionar a solidariedade internacional para controlar a pandemia", acrescentou.
O apelo do responsável da Gavi foi feito numa mensagem em vídeo transmitida durante um painel sobre a cooperação UE-África no acesso às vacinas para a covid-19 durante a conferência sobre saúde global organizada pelo Governo português, no âmbito da presidência do Conselho da União Europeia.
"A rapidez no acesso é fundamental e a União Europeia pode ajudar a acelerar o processo, assegurando que as doses de vacinas em excesso são doadas através da Covax", defendeu também o presidente da Gavi.
O ex-presidente a Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro português reconheceu, por outro lado, o importante contributo da União Europeia - um dos maiores doadores da plataforma Covax -, para a distribuição de vacinas aos países em desenvolvimento, considerando que "a nível mundial é o único verdadeiro esforço multilateral" no contexto da pandemia.
"Sabemos que haverá vacinas suficientes para todos nos países desenvolvidos. A questão é partilhar as doses em excesso. Temos um problema de rapidez e, por isso, seria importante assumir o compromisso com essa parceria o mais rápido possível", afirmou.
De acordo com Durão Barroso, desde 24 de fevereiro, quando as primeiras vacinas covid-19 chegaram ao Gana, foram distribuídas pela Covax mais de 30 milhões de doses em 55 países participantes na plataforma liderada pela Gavi e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Podemos celebrar o sucesso que se tornou possível graças ao envolvimento de 191 governos, representando 90% da população mundial", disse.
Assinalou que a chegada das vacinas aos países de baixo rendimento aconteceu apenas 83 dias após a administração da primeira vacina nos países de alto rendimento, um progresso relativamente ao que aconteceu com a pandemia de H1N1, quando um pequeno grupo de países ricos comprou quase a totalidade de `stocks` da vacina contra a gripe suína.
" A situação está longe de ser perfeita e há desigualdades que persistem, mas o mundo está mais focado do que nunca numa abordagem igualitária", disse, alertando, no entanto, que a maior operação de distribuição de vacinas a nível mundial está apenas no início.
O presidente da Gavi alertou que não é possível sair desta pandemia sem acesso global às vacinas.
"As vacinas têm potencial para um impacto mais poderoso na pandemia do que qualquer estímulo fiscal. A melhor política económica hoje é a política das vacinas, é o caminho para que as economias recomecem a funcionar", defendeu.
Mais de 30 oradores, entre governantes, decisores políticos, peritos e representantes das instituições europeias, participam hoje numa conferência virtual sobre o reforço do papel da União Europeia (UE) na saúde global.
A conferência, que decorre no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE, abordará temas como "A saúde global em tempo de pandemia, as alianças estratégicas UE-África, nomeadamente no acesso a vacinas, e a promoção da cobertura universal em saúde".
Durão Barroso falou num painel em que também participou a diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti.