Duas em cada cinco espécies de plantas estão em risco de extinção

por RTP
Ann Wang - Reuters

Um relatório do Jardim Botânico Real de Kew, do Reino Unido, alerta que 40 por cento das espécies de plantas existentes no mundo estão em risco de extinção em consequência da destruição de habitats naturais.

As plantas e fungos são um dos pilares que sustentam a vida na Terra. “Como blocos de construção de ecossistemas, as plantas e fungos têm o potencial de nos ajudar a enfrentar os desafios ambientais atuais, como as mudanças climáticas”, lê-se no relatório do Jardim Botânico de Kew.

No entanto, “esses benefícios naturais podem ser comprometidos pela perda de biodiversidade, provocada por humanos que devastam ou degradam a vegetação natural e sobreexploram espécies selvagens, bem como pela mudança nos padrões climáticos”.

Os investigadores alertam que dois quintos das plantas do mundo estão em risco de extinção e afirmam que estão numa “corrida contra o tempo” para encontrar e identificar espécies antes que estas se extingam. Em 2019, foram identificadas cerca de quatro mil novas espécies de plantas e fungos.

Essas espécies ainda desconhecidas, e muitas já registadas, eram um verdadeiro “baú do tesouro” inexplorado, à medida que poderiam ter grandes benefícios para a medicina – nomeadamente como potenciais tratamentos para o coronavírus ou outras possíveis pandemias –, biocombustíveis, alimentos ou mesmo para o próprio ecossistema, podendo desempenhar um papel crucial na circulação de nutrientes. Agora, estas espécies “estão a desaparecer antes mesmo de termos a oportunidade de analisar as suas características”.

“Cada vez que perdemos uma espécie, desperdiçámos uma oportunidade para a humanidade”, disse Alexandre Antonelli, diretor de ciência do Jardim Botânico de Kew, citado por The Guardian. “Estamos a perder a corrida contra o tempo, à medida que as espécies estão a desaparecer antes de as podermos encontrar e identificar”, acrescentou o cientista, ao mesmo tempo que sublinha que “não seríamos capazes de sobreviver sem plantas e fungos”.
“Era de extinção”
Em 2019, o Jardim Botânico de Kew relatou que 571 (21 por cento) espécies foram eliminadas desde 1750. No entanto, os cientistas estimam agora que o risco de extinção pode ser muito superior, com uma estimativa de 140 mil, ou 39,4 por cento, de plantas ameaçadas pela extinção.

Stefano Padulosi, um ex-cientista da Alliance of Biodiversity International, alerta que “os milhares de espécies de plantas negligenciadas são a salvação para milhões de pessoas na Terra atormentadas por mudanças climáticas sem precedentes, insegurança alimentar e nutricional generalizada e pobreza”.

A investigação atual destaca ainda que 723 plantas usadas para fins medicinais estão em risco de extinção, sendo a colheita excessiva um problema em algumas partes do mundo.

“Apenas sete por cento das plantas [conhecidas] têm usos comprovados para a medicina e, portanto, as plantas e fungos do mundo permanecem amplamente inexplorados como potenciais fontes de novos medicamentos”, disse Melanie-Jayne Howes, líder da pesquisa. “Portanto, é absolutamente crítico que protejamos melhor a nossa biodiversidade para que estejamos mais bem preparados para os desafios emergentes para o nosso planeta e saúde”, acrescentou. A principal causa das perdas de espécies de plantas é a destruição de habitat naturais para a criação de terras agrícolas. A sobreexploração de plantas, construções, poluição e, cada vez mais, a crise climática também são causas determinantes para a extinção de ecossistemas.

Antonelli alerta que estamos a viver numa era de extinção: “É um quadro muito preocupante de risco e necessidade urgente de ação”.

O relatório intitulado “Situação Mundial das Plantas e Fungos” foi liderado pela instituição Jardim Botânico Real de Kew em colaboração com 210 cientistas de 42 países.
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