Duas coligações de partidos guineenses anunciaram hoje que vão colocar o povo nas ruas do país nos próximos dias 14, 15 e 16 em protesto contra o que consideram de "falta de liberdades e abusos do poder" na Guiné-Bissau.
Os dirigentes da Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) e da Aliança Patriótica Inclusiva (API -- "Cabas Garandi" (Cabaça Grande)) estiveram hoje reunidos num hotel da capital guineense para afinar estratégias políticas.
Em nome das duas coligações, Baciro Dja, antigo primeiro-ministro e membro da coligação API, anunciou ter sido acordada a convocação de manifestações para os dias 14, 15 e 16 deste mês, para colocar o povo nas ruas.
O responsável, ladeado de vários outros dirigentes das duas coligações, afirmou que, nos próximos dias, serão dadas as diretrizes aos militantes, salientando que as manifestações constituem um direito, pelo que não carecem de autorização das autoridades.
A coligação PAI-Terra Ranka, que venceu as eleições legislativas em junho de 2023, é liderada pelo atual presidente eleito do parlamento guineense, Domingos Simões Pereira, sendo a API coordenada por Nuno Nabiam, ex-primeiro-ministro.
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ), que na Guiné-Bissau tem as competências de Tribunal Constitucional, indeferiu a candidatura da PAI-Terra Ranka às eleições legislativas antecipadas que deveriam ter lugar no próximo dia 24, mas que acabaram por ser adiadas para data ainda a anunciar.
Aquela instância considerou que a PAI-Terra Ranka não apresentou os documentos que lhe foram solicitados para provar a "validade da coligação" e ainda se "recusou a retirar das listas [de candidatos a deputado] Domingos Simões Pereira".
O STJ defende que Simões Pereira é indiciado num processo judicial pela alegada prática de crime de corrupção.
Para Simões Pereira, trata-se de uma tentativa de o retirar das próximas eleições presidenciais, ainda sem data marcada, mas que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, remete para novembro de 2025, apesar de terminar o seu mandato em fevereiro próximo.
O STJ também instou a API a retirar das listas de candidatos a deputado pessoas que se apresentaram como membros de partidos que fazem parte da coligação, mas dos quais entende que perderam a condição de militantes.
O Supremo exige, nomeadamente, a renúncia de militância de elementos do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G-15) integrantes das listas da API.
O Madem está dividido em duas alas, uma que se posicionou do lado do Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, para uma eventual candidatura ao segundo mandato, e outra hostil a Embaló.
O antigo ministro das Obras Públicas Fidélis Forbs considera que o Supremo Tribunal de Justiça, "a mando de alguém", quer que os militantes do Madem que não apoiam Sissoco Embaló fiquem fora das próximas eleições legislativas.
A mesma divisão também acontece no Partido da Renovação Social (PRS), igualmente integrante da API.
O PRS também se encontra dividido em duas alas, uma de apoiantes de Sissoco Embaló e outra que não o apoia.
As manifestações vão juntar militantes das coligações de partidos, mesmo perante a ordem decretada pela polícia desde janeiro passado, que proíbe quaisquer manifestações públicas de partidos e cidadãos.
"Proibição em democracia?", questionou Domingos Simões Pereira quando Baciro Djá foi questionado por um jornalista sobre se as manifestações vão mesmo ter lugar apesar da proibição da polícia.
Baciro Dja respondeu que a manifestação "é um direito" que assiste a qualquer cidadão guineense.
No próximo dia 16 são esperados em Bissau convidados de vários países do mundo para assistir às festividades do 60.º aniversário das Forças Armadas e ainda às celebrações do 51.º aniversário da independência da Guiné-Bissau.