Donald Trump. Ucrânia "pode esquecer" adesão à NATO

por RTP
Donald Trump a responder aos jornalistas na primeira reunião do seu gabinete após a tomada de posse Brian Snyder - Reuters

O presidente norte-americano respondeu aos jornalistas, na sua primeira reunião de gabinete desde a tomada de posse em janeiro, focando-se na guerra na Ucrânia, tendo afirmado que Kiev "pode esquecer" a adesão à NATO.

"Podem esquecer isso. Provavelmente foi por isso que tudo começou", disse Donald Trump.

Apesar dos membros da Aliança Atlântica se terem declarado abertos a acolher a Ucrânia, a Rússia tem sido constante na sua oposição ao alargamento da NATO para o leste europeu.

Para Kiev, a pertença do país à mais poderosa organização de Defesa mundial traria garantias de segurança face à constante ameaça imperialista russa e seria mais um passo na integração no bloco ocidental. Donald Trump tem minado a coesão da NATO, ameaçando não vir a cumprir o Artigo 5º, que estipula que um ataque a um parceiro é um ataque a todos.

O Kremlin já aceitou que a Ucrânia venha a aderir à União Europeia, mas mantém recusa absoluta quanto à NATO nas suas fronteiras. 

Este deverá ser um ponto de cedência de Kiev nas negociações de paz entretanto iniciadas entre Washington e Moscovo.
"Acordo muito grande"
O presidente norte-americano confirmou entretanto, no início desta reunião de gabinete, que o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitará os EUA na sexta-feira para assinar um "acordo muito grande", referindo-se ao texto sobre exploração de minérios, terras raras, petróleo e gás ucranianos, cujos termos foram duramente negociados por Kiev nas ultimas semanas e que foram finalmente concertados esta terça-feira.

Trump afirmou que "o acordo que estamos a fazer traz-nos [aos EUA] uma grande riqueza". "Recebemos de volta o dinheiro que gastámos e esperamos poder resolver isto", afirmou, mantendo que "os contribuintes não devem pagar a conta" do dinheiro que os Estados Unidos deram à Ucrânia desde a invasão da Rússia. Um valor que, afirma Trump, ronda os 350 mil milhões de dólares, mas que alguns organismos internacionais, como o Instituto para a Economia Mundial de Kiel, estimam que o valor ronde os 120 mil milhões de dólares.


"O mais importante é que vamos fazer um acordo com a Rússia e a Ucrânia para pararem de matar pessoas", acrescentou, referindo-se às negociações iniciadas em Riade na semana passada, entre delefações americana e russa, sem a presença nem de europeus nem de ucranianos.

Outra consequência do acordo sobre minerais e terras raras, sugeriu o líder dos EUA, será a "segurança automática" que a presença de empresas americanas trará à Ucrânia, porque "ninguém se vai meter com as pessoas quando lá estivermos".

Um dos pontos da proposta inicial daquele acordo relacionava-se com garantias de segurança exigidas por Kiev aos EUA, face a uma eventual ameaça russa, mas o texto final apenas menciona essa cláusula de forma genérica, sem compromissos, algo que continua a preocupar o presidente ucraniano.

Esta quarta-feira, Zelensky afirmou que "não teremos uma paz realmente justa" sem garantias de segurança, acrescentando que "queremos um cessar-fogo, mas se não tivermos segurança nada funcionará". Kiev sublinhou que o acordo é apenas preliminar e que falta inserir garantias de segurança para a Ucrânia.

Trump confirmou esta tarde aos jornalistas que não oferecerá garantias "por aí além" de segurança à Ucrânia, antes de passar a responsabilidade para a União Europeia.

"Vamos fazer com que a Europa o faça, porque... estamos a falar da Europa, é vizinha [da Ucrânia], mas iremos garantir que tudo corre bem" adiantou o presidente norte-americano.

Na eventualidade de um cessar-fogo, diversos países europeus já se disponibilizaram para colocar na Ucrânia soldados da paz, com os EUA a garantirem que não irão participar nessa força

A Rússia já disse por seu lado que não quer a presença de soldados da NATO tão perto das suas fronteiras, pelo que esta deverá ser uma das questões mais difíceis de negociar para as tréguas.
Putin, "um tipo muito inteligente"
Sobre as negociações sobre a guerra, iniciadas com o presidente russo, Vladimir Putin, que têm decorrido sem a participação europeia ou sequer ucraniana, Trump disse que aquele "é um tipo muito inteligente, uma pessoa muito astuta".

"Já lidei com algumas pessoas muito más, mas vou dizer-vos que, no que diz respeito a isto, ele não tinha intenção, na minha opinião, de resolver esta guerra. Acho que ele queria tudo, quando fui eleito, falámos e acho que vamos chegar a um acordo", afirmou.

Trump mostrou-se convicto de que, se ele não tivesse sido eleito, "ele [Putin] teria simplesmente continuado a avançar sobre a Ucrânia".

"Durante esse tempo, muitas pessoas seriam mortas", acrescentou.
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