"A orientação sob Trump indica uma vontade de expandir alvos e ação geográfica dos ataques militares" das forças norte-americanas na região, referiu à Al Arabiya uma das principais conselheiras de Biden para o Médio Oriente, Dana Stroul.
As alterações notam-se já na campanha lançada esta semana contra os Houthi, no Iémen.
Desde o fim de semana passado sucederam-se mais de 50 ataques num ritmo diário, atingindo bases militares chave, incluindo locais de lançamento de drones e arsenais. Mas
igualmente as casas de líderes de topo do grupo apoiado pelo Irão e responsáveis do seu programa de drones, ao contrário do tempo de Biden.
De acordo com responsáveis militares norte-americanos, estes bombardeamentos tiveram um impacto significativo nas capacidades militares do grupo islamita apoiado pelo Irão. E o Pentágono planeia alocar na região pessoal e capacidade de defesa aérea adicionais.
As operações deverão persistir até que as perdas operacionais levem os Houthi a desistir da sua agressão, especialmente contra cargueiros que usam as rotas comerciais do Mar Vermelho.
Delegar autoridade
As diretivas operacionais foram igualmente revistas, com os comandantes a serem crescentemente autorizados a tomar decisões que sob Biden tinham de ser autorizadas por escalões mais elevados.
O Pentágono de Trump está a dar maior autonomia aos comandos militares, para determinar alvos e executar ataques quando surge a oportunidade, incrementando os tempos de resposta.
"A delegação da autoridade, desde o presidente através do secretário da Defesa até ao comandante operacional, dá-nos um tempo de operações que nos permite reagir a oportunidades que surgem no campo de batalha, de forma a continuar a pressionar os Houthi", aplaudiu o tenente-general Alex Grynkewich, diretor de operações do Estado-Maior dos EUA.
Stroul reflete por seu lado que esta maior mobilidade operacional permite aos Estados Unidos passar da retaliação ocasional a uma campanha militar sustentada. Aponta contudo a necessidade de seleção cuidadosa de alvos, de forma a minimizar vítimas civis.
Estratégia com riscos
"A Administração Trump dá prioridade a liberdade de navegação e o livre fluxo comercial", sublinhou o general Joseph Votel, ex-comandante do Comando Central dos EUA.
Mas a nova estratégia pedida ao Pentágono tem os seus críticos. Alguns apontam por exemplo os perigos de tal tática para os arsenais norte-americanos.
"Certamente, aumentamos a nossa capacidade de fabrico, mas a procura por munições permanece muito elevada. O Departamento de Estado terá de estar atento a esta questão", notou Votel.
A vontade de Trump em resolver a guerra na Ucrânia, incluindo sob ameaça de cortar apoios militares a Kiev, e a pressão da nova Administração sobre os parceiros europeus da NATO para aumentar a sua participação na Aliança, sobretudo quanto a despesas com armamento, pode refletir uma adaptação estratégica que dá prioridade ao Médio Oriente.
Enquanto o tempo de duração da campanha contra os Houthi não está
determinado e é difícil entender até onde vai a capacidade operacional
do grupo iemenita,
tanto Stroul como Vatel concordam que a campanha
militar por si só não irá resolver a ameaça, sendo necessária uma
estratégia mais abrangente para garantir uma estabilidade duradoura na
área.
Pressão sobre o Irão
Apesar destes receios, o Pentágono tem insistido que o objetivo das recentes operações no Iémen é a proteção dos interesses norte-americanos.
"Há um objetivo último muito claro nesta operação, e isso começa no momento em que os Houthi se comprometam a parar de atacar os nossos navios e de colocar em risco vidas norte-americanas", afirmou segunda-feira passada em conferência de imprensa o porta-voz do Pentágono Sean Parnell.
A Administração Trump voltou entretanto a incluir os Houthi na lista de
Organizações Terroristas, numa tentativa de isolar o Iémen do sistema
financeiro mundial. Biden tinha retirado o grupo da lista ao chegar à
Casa Branca, em 2021.
A mudança marca um aumento da
pressão sobre os grupos apoiados pelo Irão no Médio Oriente, como o
Hamas ou o Hezbollah.
Washington tem multiplicado avisos a Teerão para
deixar de apoiar os Houthi com informação, armas e treino.
Está marcado para a próxima semana na capital norte-americana um
encontro entre responsáveis israelitas e dos EUA sobre o programa
nuclear iraniano e o seu apoio a grupos armados em todo o Médio Oriente.