Donald Trump enviou diretor da CIA a Pyongyang e dá "bênção" à paz entre Coreias

por Christopher Marques - RTP
Mike Pompeo é o diretor da CIA e o escolhido de Trump para ser o próximo secretário de Estado. Leah Millis - Reuters

O diretor da CIA e próximo chefe da diplomacia dos Estados Unidos deslocou-se à Coreia do Norte para um encontro secreto com Kim Jong-un. Mike Pompeo foi o enviado especial de Donald Trump para preparar o encontro entre os dois líderes. Esta quarta-feira, Trump confirmou a viagem de Pompeo, noticiada na terça-feira pela imprensa norte-americana. Na próxima semana, o líder da Coreia do Norte vai reunir-se com o Presidente sul-coreano pela primeira vez na última década. Trump dá a “sua bênção” para que Seul e Pyongyang formalizem a paz.

Na sequência do convite feito por Pyongyang em março, Estados Unidos e Coreia do Sul preparam o inédito encontro entre o Presidente da maior potência e o ditador do país mais fechado do mundo. O jornal The Washington Post revelou esta terça-feira que Donald Trump enviou o próprio diretor da CIA a Pyongyang para preparar a cimeira.

Durante esta viagem, entretanto confirmada por outros órgãos de comunicação norte-americanos, Mike Pompeo encontrou-se pessoalmente com Kim Jong-un. Para além de atual líder da agência de informações dos Estados Unidos, Pompeo é também o escolhido de Donald Trump para assumir a chefia da diplomacia norte-americana, lugar anteriormente ocupado por Rex Tillerson.

Segundo o Washington Post, Pompeo deslocou-se à Coreia do Norte há duas semanas, pouco depois de ter sido designado por Trump para o cargo de secretário de Estado. Atualmente, aguarda que o Senado aprove a escolha de Donald Trump para assumir funções.

Na terça-feira, a Casa Branca e a CIA não confirmaram que Mike Pompeo visitou a Coreia do Norte e se encontrou com Kim Jong-un. Donald Trump disse apenas que se realizaram conversações “de muito alto nível” entre Pyongyang e Washington.

As declarações de Donald Trump ainda provocaram algumas dúvidas, tendo ficado a ideia de que ele próprio tinha conversado ao telefone com Jong-un. A Casa Branca esclareceu entretanto que os dois líderes não conversaram diretamente. Esta quarta-feira, Donald Trump confirmou na rede social Twitter que foi Pompeo quem se encontrou com Kim Jong-un.


“A reunião correu muito bem e criou-se uma boa relação. Os detalhes da cimeira estão agora a ser trabalhados. A desnuclearização será uma coisa boa para o mundo mas também para a Coreia do Norte”, escreveu o líder norte-americano na rede social.

A ida de Mike Pompeo à Coreia do Norte mostra o empenho norte-americano neste processo negocial. Pompeo é o mais importante representante dos Estados Unidos a reunir-se com um líder norte-coreano desde 2000, ano em que a então secretária de Estado Madeleine Albright se encontrou com Kim Jong-il, pai do atual ditador.



A confirmar-se a cimeira entre os dois líderes, Donald Trump irá tornar-se o primeiro Presidente dos Estados Unidos em funções a encontrar-se com o mais alto dirigente da República Popular Democrática da Coreia. Trump revelou na terça-feira que a inédita cimeira deverá realizar-se no início de junho ou até mesmo “um pouco antes”.

As autoridades ainda estudam qual será o local do encontro. O Presidente explicou que estão a ser analisados cinco possíveis locais, tendo descartado que a cimeira se realize nos Estados Unidos.

A CNN avança que um dos locais possíveis é Ulaanbaatar, capital da Mongólia. O encontro poderá ainda realizar-se na zona desmilitarizada que separa a Coreia do Norte e a Coreia do Sul ou uma capital europeia considerada neutra como Estocolmo (Suécia) ou Genebra (Suíça).

A cimeira poderá ainda ser marcada para um local no mar (uma ilha ou um navio), no Sudoeste Asiático (Singapura, Malásia) ou na Coreia do Sul. As fontes da CNN não descartam que Donald Trump se desloque pessoalmente até Pyongyang, apesar de esta possibilidade ser pouco provável.

Por enquanto, Donald Trump mostra-se otimista. O Presidente dos Estados Unidos considera que há respeito mútuo entre os dois países, pelo que é a hora certa para falar e resolver problemas com décadas. “Há uma verdadeira oportunidade para resolver um problema mundial. Não é um problema dos Estados Unidos, do Japão ou para outro qualquer país. É um problema para o mundo”, insistiu o inquilino da Casa Branca.
E o Japão?
As mais recentes revelações sobre o encontro entre Kim Jong-un e Donald Trump surgiram no dia em que o Presidente dos Estados Unidos voltou a receber o primeiro-ministro do Japão. Tóquio está entre os grandes aliados de Washington, mas tem dúvidas quanto à nova postura norte-americana para com Pyongyang. O Japão tem defendido uma linha dura com o regime comunista.

Abe tenta ainda assegurar que Tóquio tenha uma palavra a dizer na resolução deste conflito e que um eventual acordo salvaguarde a segurança e os interesses japoneses. O encontro entre Abe e Trump encontra-se ainda ensombrado pela nova política comercial norte-americana.

A Casa Branca anunciou que vai impor taxas aduaneiras à importação de aço e alumínio, tendo posteriormente decidido isentar todos os seus principais aliados do pagamento das mesmas. O único aliado que ficou de fora da isenção foi precisamente o Japão.

Apesar das dificuldades, os dois líderes continuam a mostrar grande afabilidade. Shinzo Abe foi o primeiro líder internacional a encontrar-se com Donald Trump depois da sua eleição e esta é já a segunda vez que o Presidente norte-americano o recebe na sua mansão de Mar-a-Lago, na Florida. Na terça-feira, o primeiro-ministro japonês elogiou a “determinação inabalável” e a “coragem” do magnata.
Cimeira das Coreias

As revelações sobre os preparativos para o encontro entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte surgem a pouco mais de uma semana da realização de uma cimeira entre as duas Coreias. Este será o primeiro encontro entre os líderes dos dois países desde 2007.

Oficialmente os dois países continuam em guerra, uma vez que o acordo de armistício de 1953 nunca deu lugar a um tratado de paz. Seul confirmou esta quarta-feira que pretende transformar o armistício em acordo de paz. O porta-voz da Presidência sul-coreana defendeu ainda que o acordo de paz não poderia fazer-se apenas entre Seul e Pyongyang, defendendo que deve ser alargado a outros países.

Na terça-feira, Donald Trump afirmou que daria a sua “bênção” a um eventual acordo de paz entre os dois países, tendo recordado que há 60 anos que as Coreias se encontram oficialmente em guerra.

O Presidente da Coreia do Sul e o líder norte-coreano vão encontrar-se a 27 de abril na zona desmilitarizada que separa os dois países. Será a primeira vez, desde a assinatura do armistício, que o mais alto dirigente da Coreia do Norte pisa solo sul-coreano.

Este encontro realiza-se depois de uma surpreendente mudança no conflito coreano. No fim de 2017, esta possibilidade parecia longínqua, depois de meses de escalada na tensão entre Seul, Pyongyang e Washington e os sucessivos ensaios nucleares levados a cabo pela Coreia do Norte.

As mudanças foram, no entanto, ocorrendo, impulsionadas pela chegada de Moon Jae-in à Casa Azul, a residência oficial do presidente da Coreia do Sul. Também Kim Jong-Un mudou de discurso, tendo defendido no início do ano que a Coreia do Norte é um país defensor da paz e uma “potência nuclear responsável”. O ditador apelou ainda a uma redução da tensão militar e à melhoria das relações com o Sul.

Os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano representaram outra etapa fundamental na aproximação entre as duas Coreias. Pyongyang enviou uma delegação à cidade sul-coreana de PyeongChang, liderada pela irmã do próprio Kim Jong-un, e que culminou depois nos convites feitos a Seul e Washington para que se realizassem cimeiras ao mais alto nível. A primeira está marcada para 27 de abril, entre Moon Jae-in e Kim Jong-un.
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