Donald Trump deixa dúvidas sobre participação no debate com Kamala Harris

por Graça Andrade Ramos - RTP
Donald Trump a 8 de agosto de 2024 Vincent Alban - Reuters

O debate, o único até agora entre os dois candidatos à presidência norte-americana, está marcado para dia 10 de setembro, na cadeia ABC. Mas, se não houver acordo quanto às regras, poderá não acontecer.

Domingo à noite, Donald Trump deixou várias dicas na sua rede Truth Social de que poderá desistir. 

Acusou a cadeia televisiva que está a organizar o debate de parcialidade a favor dos democratas e denunciou um dos seus jornalistas, Jonathan Karl, que considerou ter sido tendencioso numa entrevista recente com o senador republicano do Arkansas, Tom Cotton. 

Diz ainda que está a ser preparado um painel de "inimigos de Trump".

Trump acabou a perguntar "porque hei de fazer o debate contra Kamala Harris nesta rede?".

As razões oficiais para uma eventual desistência são contudo mais prosaicas e têm girado em torno dos microfones, se ficam ou não sempre ligados.
Desacordo

A equipa do candidato republicano defende que os microfones se ativem apenas quando um interveniente estiver a falar, ficando mudo o do adversário.

Ao contrário do que preferiram no debate de junho na CNN, entre Donald Trump e Joe Biden, onde todas as fragilidades do ainda presidente ficaram expostas, os democratas pretendem que fiquem sempre ligados

Brian Fallon, o principal gestor de campanha de Harris, afirmou em comunicado que "achamos que a equipa de Trump prefere os microfones mudos porque não confia que o seu candidato consiga adotar uma postura presidencial ao longo de 90 minutos".

"Suspeitamos que nem sequer falaram desta disputa ao seu chefe, porque seria embaraçoso admitir que não acreditam que ele consiga dominar-se contra a vice-presidente Harris sem a vantagem de um botão mudo", insinuou ainda.

Jason Miller, o homólogo republicano de Fallon, tem insistido que o convite para o debate de dia 10 foi aceite no pressuposto de que as regras se iriam manter iguais ao da CNN

"O campo Harris, depois de ter aceitado as regras da CNN, pediu um debate sentado, com notas e declarações iniciais. Nós dissemos, nenhuma alteração às regras seria aceite", afirmou.

Miller considerou ainda "curioso que isto só surja agora, quando a campanha de Harris começou a preparar o debate. Até o seu porta-voz disse que o debate sobre debates estava resolvido. Claramente estão a notar algo de que não gostam", concluiu, deixando ainda no ar que Harris poderá perder-se se não puder consultar papéis durante o debate.

A campanha da vice-presidente negou que tenha tentado as alternativas de um debate sentado e com notas. E garantiu que Kamala Harris está preparada
para "lidar com as constantes mentiras de Trump e interrupções ao vivo".

"Trump devia deixar de se esconder atrás de um botão mudo", acrescentou Fallon no seu comunicado.
As dúvidas de Trump

Já na segunda-feira, instado a comentar sobre a divergência, Trump afirmou aos repórteres que ele próprio preferiria ter o microfone sempre ligado.

O ex-presidente sublinhou que não dá contudo grande importância ao assunto. "A mim não me interessa. Preferiria tê-lo, provavelmente, ligado. Mas o acordo era de que iria ser como foi da última vez", lembrou.

"Não estou a perder muito tempo com o debate. Penso que toda a minha vida me preparei para um debate", acrescentou o candidato republicano. "Não se podem meter conhecimentos na cabeça, sabem, 30 anos de saber numa semana. Por isso, sabem, há alguma preparação para o debate mas sempre os fiz mais ou menos da mesma maneira".

O debate na ABC foi aceite oficialmente por ambos os candidatos no início de agosto, apesar de Donald Trump preferir desde sempre um outro cenário, incluindo uma "audiência em arena", organizada pela Fox News.

Este domingo à noite, o ex-presidente não mencionou na Truht Social o problema dos microfones, mas voltou a manifestar o seu desagrado com o debate. 

"Porque é que Harris recusou os convites da Fox, da NBC, da CBS e até da CNN”, questionou.

Nas suas publicações, Donald Trump lembrou que Donna Brazil, membro do painel do programa This Week na ABC e do Comité Nacional Democrata, se afastou da CNN depois de e-mails pirateados e publicados no Wikileaks terem revelado que ela enviou à equipa de campanha de Hillary Clinton, em 2016, detalhes das perguntas que iram ser feitas durante o debate naquela cadeia.

"Irá Donna Brazil dar as perguntas à Candidata Marxista como o fez com a Bandida Hillary Clinton" perguntou Trump, recorrendo aos epítetos com que se refere tanto a Kamala Harris como à sua adversária de há oito anos. 

"Irá a melhor amiga de Kamala, que dirige a ABC, fazer o mesmo", acrescentou, referindo-se a Dana Walden e considerando que os organizadores da ABC lhe deixam muitas dúvidas.

"Fiquem ligados!" rematou, antecipando que poderá haver novidades em breve.
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