Doadores ameaçam reter 90 milhões de dólares se Joe Biden continuar candidato

por Graça Andrade Ramos _ RTP
Doadores ameaçam reter 90 milhões de dólares se Joe Biden continuar candidato Nathan Howard - Reuters

De acordo com fontes não identificadas citadas pelo jornal New York Times esta sexta-feira, alguns dos maiores doadores do Partido Democrata preparam-se para reter cerca de 90 milhões de dólares em donativos se Joe Biden não desistir de se recandidatar à Casa Branca.

É uma das maiores pressões sobre o presidente de 81 anos, que luta com todas as forças para convencer o partido e os apoiantes de que vale a pena continuar a apostar na sua candidatura, depois de um desastroso debate televisivo contra o rival republicano, Donald Trump, que deixou em pânico as hostes democratas.

A notícia da reticência dos doadores, que incluem alguns dos grandes contribuintes do maior comité político de apoio a Biden, o Future Forward, é apenas mais um empurrão para a desistência. 

O próprio New York Times, o jornal mais influente nos meios progressistas norte-americanos, apelou já oficialmente à sua substituição.

Desde a sua amiga pessoal e ex-presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, ao ator George Clooney, líder dos apoios democratas em Hollywood, multiplicam-se os apelos a Biden, para que reflita e se afaste da corrida.

Em resposta às pressões, o presidente tem escolhido mostrar toda a sua determinação, numa altura em que a maior oposição surge de dentro do seu próprio partido.

Ainda esta quinta-feira, com todos os holofotes dos EUA e do mundo sobre ele, Joe Biden transformou uma conferência de imprensa, após a cimeira da NATO, numa autêntica ação de campanha, atacando Donald Trump e a Rússia e elencando elogios ao seu desempenho pessoal nos últimos quatro anos na Casa Branca.

Biden garantiu, mais uma vez, que é "o candidato mais bem preparado" para vencer Trump, descartando uma eventual substituição pela sua vice-presidente, Kamala Harris.

Duas gaffes minaram contudo os seus esforços para voltar a cair nas boas graças dos democratas, espalhando-se como um vírus nas redes sociais.

Uma escassa hora antes de falar com os jornalistas, Biden chamou "presidente Putin" ao presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e falou em ‘vice-presidente Trump’ quando pretendia referir-se a Kamala.

A questão sombreou toda a cimeira da NATO, esta semana, mas múltiplos chefes de governo da Aliança fizeram depois questão de frisar a sua admiração pelo presidente norte-americano. "Lapsos acontecem a todos", referiu por exemplo o presidente francês, Emmanuel Macron.
Focar os olhos em Trump
A prestação de Biden na conferência de imprensa, desempenhada geralmente em voz firme e face a um conjunto de perguntas pré-combinadas, convenceu pelo menos um influente representante democrata no Congresso, James Clyburn, que expressou esta sexta-feira o seu apoio num programa televisivo da NBC.

"Estou com tudo. Vou com Biden, seja para onde for que ele decida ir", afirmou no Today.

Clyburn, de 83 anos, é uma voz respeitada entre os negros americanos, cujo apoio é essencial à campanha de Biden. Serviu no Congresso mais de 30 anos e foi um importante apoio na candidatura do democrata em 2020.

Mas o seu apoio foi contraposto por mais uma voz significativa a pedir ao presidente que passe o testemunho. Com Brittany Pettersen, esta sexta-feira, são já 18 os representantes do Partido Democrata a pedir diretamente ao presidente que desista.

"Por favor, passe a tocha a um dos nossos múltiplos e capazes líderes democratas para que tenhamos a melhor hipótese de vencer Donald Trump", escreveu Pettersen nas redes sociais.

A maior preocupação dos democratas passa pela possibilidade de, caso os republicanos vençam as presidenciais, perderem não só a Casa Branca mas também lugares na Câmara dos Representantes e no Senado, deixando-os com uma influência enfraquecida em Washington.

Muitos interrogam-se também quanto à vitalidade de Biden em servir num cargo tão exigente por mais quatro anos.As sondagens indicam um país dividido sem vantagem significativa de nenhum candidato mas revelam que a maioria dos americanos pensa que Biden não devia recandidatar-se.

A conferência de imprensa e as gaffes de Biden alimentaram tanto apoiantes como detratores do presidente.

Joe Biden entaramelou algumas respostas mas mostrou-se lúcido em questões globais, incluindo na Guerra na Ucrânia e no conflito na Faixa de Gaza, prova da sua grande experiência nesse tipo de assuntos.

Para os profissionais esteve contudo longe de ser convincente. Sob condição de anonimato, um dos responsáveis séniores da campanha democrata descreveu a conferência como "o pior de todos os mundos".

"Nada boa. Mas não suficientemente má para o fazer mudar de ideias", acrescentou à agência Reuters.

Outro estratega, que esteve envolvido na campanha de Biden há quatro anos, considerou que a prestação de quinta-feira não iria acalmar os receios democratas.

Mas o angariador de donativos Dmitri Mehlhorn, citado pela Reuters, garantiu que outros doadores lhe disseram ter ficado convencidos pela prestação vigorosa de Biden. "Esta é uma pessoa que pode bater Trump", afirmou.

Dentro de algumas horas, mais um comício, agora em Detroit, será nova ocasião para se comprovar se o presidente está ou não capaz de aguentar a campanha e de convencer os eleitores. Depois do debate com Trump, qualquer erro presidencial, por menor que seja, tem já sido e continuará a ser, realçado e analisado, além de toda a proporção.

Caso falhem os apelos à desistência, a estratégia democrata passará por desviar as atenções para os erros de Donald Trump, tentando colocar par a par as fragilidades de ambos.
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