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Divisão de democratas sobre Israel obriga Harris a clarificar posição

por Lusa
Brendan McDermid - Reuters

A ofensiva de Israel na Faixa de Gaza continua a dividir profundamente o Partido Democrata norte-americano, obrigando a candidata Kamala Harris a clarificar a sua posição na convenção nacional que começa segunda-feira em Chicago.

A ala progressista do Partido Democrata critica a forma como o Presidente Joe Biden tem apoiado Israel, sem grandes exigências sobre a forma como o Exército israelita tem fustigado a Faixa de Gaza.

Mas a fação moderada do partido não aceita a forma como manifestantes pró-palestinianos se referem a este conflito, acusando Israel de genocídio e exigindo que a Casa Branca embargue o apoio militar ao regime do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Kamala Harris tem sentido nos comícios o incómodo destas divisões e os seus conselheiros já avisaram que a candidata democrata deverá aproveitar as intervenções na convenção de Chicago para esclarecer a sua posição sobre o conflito no Médio Oriente.

Em maio, diversas sondagens revelavam que apenas cerca de um terço dos eleitores registados como democratas apoiavam a posição do Presidente Joe Biden face a Israel e havia sérias divisões sobre o apoio às manifestações pró-palestinianas.

De resto, alguns conselheiros da agora candidata democrata à Casa Branca, Kamala Harris, admitem que a ainda vice-Presidente não escolheu Josh Shapiro para seu companheiro de candidatura, em parte por causa da forma como este governador da Pensilvânia, de religião judia, foi implacável com os protestos pró-palestinianos nas universidades do seu estado.

Num discurso em maio, Shapiro mostrou solidariedade com várias direções de universidades de Filadélfia quando estas consideraram que o comportamento dos seus estudantes que se manifestaram contra Israel violava as leis locais.

A verdade é que Harris acabou a escolher como candidato a vice-Presidente Tim Walz, governador do Minnesota, com posições mais discretas do que as de Shapiro sobre o conflito no Médio Oriente.

Ainda esta semana, depois de a Casa Branca aprovar a venda a Israel de armamento no valor de mais 20 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros), o senador democrata Bernie Sanders -- conotado com a ala mais progressista do Partido Democrata - deu uma entrevista televisiva criticando a atitude de Biden.

"Ao nível da política doméstica, Biden foi um dos presidentes mais progressistas da história recente do país. Mas, ao nível da política externa, não posso deixar de notar o seu afastamento em relação aos progressistas", disse Sanders, mostrando-se preocupado com a forma como Kamala Harris está conotada com as posições da Casa Branca sobre o conflito no Médio Oriente.

"O problema é que a alternativa para os eleitores progressistas, em particular os mais jovens, é que a alternativa ao plano de Biden é o republicano Donald Trump. E nós progressistas, apesar de algumas divergências neste ponto, não podemos deixar que Trump ganhe as eleições de novembro", concluiu Sanders nessa entrevista.

Perante estas divisões internas, e em véspera da importante convenção de Chicago, Harris tem procurado algum distanciamento em relação às posições assumidas pela Casa Branca.

Poucas horas depois de um ataque israelita contra uma escola em Gaza, no dia 11, Harris condenou a morte de civis, lembrando que "já morreram demasiados civis", insistindo na necessidade de se conseguir um cessar-fogo no enclave, rapidamente.

Harris diz entender porque Israel está a atacar o movimento islamita Hamas -- após os ataques em solo israelita, em outubro passado -- a vice-Presidente exige que "sejam poupadas as vidas de civis inocentes" como "uma prioridade da ação de Israel".

Contudo, nem isso tem impedido que grupos de manifestantes pró-palestinianos estejam a interromper comícios de campanha da candidata democrata, com cânticos de contestação ao apoio dos Estados Unidos a Israel.

Num recente comício em Detroit, no estado de Michigan, perante esses cânticos, Harris interrompeu o seu discurso e olhou nos olhos os protestantes.

"Eu estou a falar. Se querem que Trump ganhe, continuem com isso. Caso contrário, calem-se e deixem-me falar", ameaçou Harris, com ar sério.

No final do comício, conselheiros de Harris vieram assinalar aos jornalistas que os manifestantes pró-palestinianos tinham usado a palavra "genocídio" para se referirem ao que estava a acontecer em Gaza, dizendo que a candidata não podia ser complacente com esse tipo de leitura dos acontecimentos.

Antes do comício, Kamala Harris e Tim Walz reservaram algum tempo da sua passagem por Detroit para reunir com o Uncommitted National Movement -- uma organização independente que tem pedido um embargo de armas a Israel -- para lhes comunicar o empenho da candidatura em obter um cessar-fogo no Médio Oriente.

"Que fique claro que a candidata está preocupada com o que se passa em Gaza e fará tudo para evitar a morte de civis inocentes", clarificou um dos conselheiros da candidatura democrata à Casa Branca, no final desse comício.

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