"Disputa entre EUA e Europa para direção da OIM é verdadeira deceção" diz analista

por Lusa

A investigadora Marta Foresti considera uma "verdadeira deceção" que a liderança da Organização Internacional para as Migrações (OIM) volte a ser disputada entre a Europa, que apresenta como recandidato o português António Vitorino, e os Estados Unidos (EUA).

"O facto de ser -- novamente -- uma disputa entre os EUA e a Europa é uma verdadeira deceção, visto que as migrações afetam muito mais outras partes do mundo", disse à Lusa Marta Foresti, investigadora principal e ex-diretora executiva do Overseas Development Institute (ODI), um `think tank` independente com sede em Londres e focado no desenvolvimento internacional e questões humanitárias.

"Para mim, o principal problema com esta `disputa` é que não é uma competição aberta com candidatos de um conjunto mais amplo de Estados-membros", frisou Foresti, que é também fundadora e CEO da LAGO, uma plataforma que liga "criativos, inovadores e formuladores de políticas" que trabalham localmente para enfrentar desafios globais.

O Conselho da Organização Internacional para as Migrações (OIM) reúne-se na segunda-feira em Genebra para eleger o seu próximo diretor-geral, num momento em que a questão das migrações enfrenta muitos problemas em várias regiões do mundo.

Os únicos candidatos ao cargo são o atual diretor-geral da OIM, António Vitorino, nomeado por Portugal, e a vice-diretora-geral para a Gestão e Reforma da OIM, Amy Pope, nomeada pelos Estados Unidos da América.

Em declarações à Lusa, Marta Foresti admitiu que este é "um limite do sistema internacional como um todo, não apenas da OIM e não uma crítica a qualquer um dos candidatos".

Porém, Foresti acredita que é necessária uma reforma para que a OIM seja credível e capaz de desempenhar um papel de liderança na gestão global de questões migratórias.

A candidatura de Pope marca a primeira vez nos 70 anos de história da OIM que um vice-diretor-geral em exercício contesta o cargo de um diretor-geral, um movimento incomum que tem preocupado especialistas devido ao potencial impacto que esta rivalidade possa ter na dinâmica diária da OIM.

Para ser eleita, a norte-americana terá que conquistar o bloco da União Europeia que apoiou Vitorino nas últimas eleições e que continua a apoiar o português, além de angariar votos de outros continentes cujas votações poderão oscilar para qualquer um dos lados.

Num artigo de opinião publicado no início do mês no jornal `online` europeu EUobserver, Marta Foresti observou que as reformas e mudanças levam tempo, mas, em muitos aspetos, "a agenda da reforma migratória está a retroceder", apesar do sentido de urgência criado pela emergência climática e as consequências que isso representa para os migrantes.

"Enquanto isso, na Europa e além, continuamos a ver forças políticas nacionalistas a tornar mais difícil e perigosa a mobilidade das pessoas, seja por escolha ou necessidade. Com a elevada instabilidade económica e política em muitas partes do mundo, a vida dos migrantes está a ficar mais difícil a cada dia", escreveu a investigadora, que também já trabalhou como conselheira de Políticas no Ministério das Finanças italiano.

Apesar de em 2018, quando Vitorino foi eleito diretor-geral da OMI, Marta Foresti ter apelado à nova liderança para que promovesse mudanças e reformas, intermediasse acordos, fomentasse debates, promovesse inovações e identificasse oportunidades concretas e pontos de entrada para reformas, agora avalia que "não está claro se a OIM fez progressos suficientes".

"Também incitei a OIM a trabalhar fora das suas parcerias típicas e previsíveis. Embora tenha havido algum novo envolvimento com o setor privado, que tem interesse nas migrações, precisamos de ver os empregadores falarem muito mais alto. Indústrias como tecnologia ou engenharia estão a prosperar devido às contribuições das migrações", indicou.

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