Discurso de Putin mostra que Moscovo se prepara "para mais guerra"

por Inês Moreira Santos - RTP
Olivier Hoslet - EPA

Depois de um discurso de quase duas horas de Vladimir Putin, o secretário-geral da NATO apontou esta terça-feira o presidente russo como o agressor na ofensiva lançada na Ucrânia e que as suas palavras demonstram que "está a preparar-se para mais guerra".

Numa conferência de imprensa conjunta com o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, e o alto representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas, Stoltenberg deplorou o discurso do estado da nação proferido por Putin e o seu anúncio de que a Rússia suspende a participação no tratado New START, o último pacto de controlo de armas nucleares que restava com os Estados Unidos.

A conferência tripartida entre a NATO, a União Europeia e a Ucrânia é "um símbolo da solidariedade", segundo Jens Stoltenberg.

Perto de fazer um ano desde que a guerra "ilegal" russa na Ucrânia começou, o secretário-geral da NATO recordou que a Rússia "é o agressor", Putin é o "autor" deste conflito e que a Aliança Atlântica apoia o direito de Kiev se defender.

"Há quase um ano, a Rússia lançou a sua guerra ilegal contra um vizinho pacífico. Os factos visíveis para todos",
afirmou o secretário-geral da NATO.

"Ninguém está a atacar a Rússia. A Rússia é que é o agressor; a Ucrânia é a vítima da agressão", disse. "Nós estamos a apoiar o direito da Ucrânia à auto-defesa. Um direito incluído na Carta das Nações Unidas".

Segundo Stoltenberg, Moscovo prepara-se para "uma guerra mundial" e intensificar a sua ofensiva.
O secretário-geral da Aliança Atlântica reforçou que “foi o presidente Putin que iniciou esta guerra imperialista de conquista e é Putin que continua a fazer escalar a guerra”.

“Pensou que podia destruir a Ucrânia e dividir-nos, mas subestimou a determinação do povo ucraniano na defesa da sua pátria e subestimou a nossa unidade”.

Segundo Stoltenberg, um ano depois de ter lançado a invasão russa, não há qualquer “sinal de que o presidente Putin esteja a preparar-se para a paz, pelo contrário”.
“Tal como deixou hoje claro, está a preparar-se para mais guerra", repetiu.
"A Rússia está a lançar mais ofensivas, a mobilizar mais tropas e a virar-se para a Coreia do Norte e Irão. Também estamos cada vez mais preocupados com a possibilidade de a China planear apoio militar para a guerra da Rússia”
.

O secretário-geral da NATO insistiu que “Putin não pode ganhar” esta guerra, pelo que é necessário “manter e reforçar o apoio à Ucrânia”.

“Temos de dar à Ucrânia aquilo de que precisa para ganhar e prevalecer como uma nação soberana independente na Europa”, disse.

Além disso, “a decisão de hoje da Rússia de suspender a sua participação no tratado ‘New START’” é condenável, continuou, convidando o Kremlin a repensar esta decisão, com a qual, frisou, "toda a arquitetura de controlo de armas foi desmantelada".

"Lamento a decisão da Rússia de suspender a sua participação num novo programa Start", concluiu.
NATO, UE e Kiev criam grupo de peritos para melhorar apoio militar
A NATO, a União Europeia e a Ucrânia decidiram estabelecer um grupo de especialistas para analisar qual a melhor forma de garantir que o exército ucraniano tem “as armas de que necessita” para repelir a agressão militar russa.

O anúncio foi feito, esta terça-feira, na conferência de imprensa conjunta após uma reunião no quartel-general da Aliança Atlântica, em Bruxelas.

A pedido da Ucrânia, concordámos que a NATO vai ajudar a Ucrânia a estabelecer um sistema de compras de armamento que seja efetivo e transparente. Também concordámos hoje em convocar uma reunião de peritos em aquisições da NATO, UE e Ucrânia, para analisarmos o que mais podemos fazer para assegurar que a Ucrânia tem as armas de que necessita”, anunciou Jens Stoltenberg.

O chefe da diplomacia ucraniana, por seu turno, sublinhou a importância de uma maior coordenação a nível de treino militar, produção e aquisição de armas e o seu fornecimento no campo de batalha.

“Temos de estar conscientes de que, desde fevereiro de 2022, a Ucrânia e os seus parceiros mais próximos estão a implementar aquela que será provavelmente a maior operação logística desde a II Guerra Mundial”, sublinhou, congratulando-se assim com a decisão de estabelecer um grupo de alto nível “para resolver questões relacionadas com a produção de armas e munições”.

Para Dmytro Kuleba, foi também importante a reunião com a NATO e a União Europeia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia afirmou, na conferência tripartida esta terça-feira, que embora haja capacidade de produção e entrega de munição, é necessária coordenação para a fazer chegar às forças ucranianas.

"A capacidade de produzir [armas] está lá. A capacidade de entregar está lá. Portanto, precisamos de coordenação (...) para entregar e foi isso que discutimos hoje", disse Kuleba a na conferência conjunta com o chefe de Política Externa da UE, Josep Borrell e o chefe da NATO, Jens Stoltenberg.
Já para Josep Borrell, o discurso de Vladimir Putin, esta terça-feira, "é mais uma prova" de que a Rússia está a destruir "o sistema de segurança que foi construído após o fim da Guerra Fria".
Borrell reiterou que a Ucrânia precisa de armamento, designadamente munições, com a máxima urgência – que se “mede em semanas, não em meses” – e revelou que, na sequência da reunião de segunda-feira dos chefes de diplomacia da UE, na qual foi abordada esta questão, já pediu formalmente aos ministros da Defesa dos 27 que recorram aos seus ‘stocks’.

“Ontem [segunda-feira] à noite, imediatamente depois da reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros, enviei uma carta a todos os ministros da Defesa da UE, que a receberão hoje, a pedir-lhes que forneçam munições à Ucrânia a partir das suas reservas ou dos contratos que já estabeleceram com a indústria, dando prioridade à Ucrânia”, declarou, lembrando que a questão do armamento é uma competência dos ministros da Defesa, e não dos Negócios Estrangeiros.

Na véspera, o alto representante já adiantara que iria apresentar propostas concretas aos ministros da Defesa na reunião informal agendada para 07 e 08 de março, em Estocolmo.

Borrell destacou também “o significado histórico” da reunião de hoje, que juntou pela primeira vez NATO, UE e Ucrânia, “numa constelação a três, no que é uma clara demonstração da determinação em prosseguir o apoio” à Ucrânia, para se defender, e a condenação da agressão russa.

A discussão de hoje foi essencial para coordenar. Tal como Kuleba disse, essa é a palavra-chave. Devemos coordenar, acelerar e aumentar o nosso apoio. Essa é a única forma de a Ucrânia ganhar esta guerra”, afirmou.

C/Lusa
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