Diretor de grupo humanitário de Gaza condenado a 12 anos de prisão em Israel

por Lusa
Dudu Grunshpan - Reuters

Um tribunal israelita condenou hoje a 12 anos de prisão o diretor de uma organização humanitária internacional em Gaza, com base em acusações de terrorismo, e após investigações independentes não terem encontrado provas dos delitos.

Mohammed el-Halabi, diretor da organização de caridade cristã Word Vision International em Gaza, tinha sido preso em 2016 e acusado de desviar dezenas de milhões de euros para o grupo militante islâmico Hamas.

O julgamento e a sua detenção prolongada têm agudizado ainda mais as tensões entre Israel e as organizações humanitárias que prestam ajuda aos palestinianos.

"É inconcebível", afirmou o advogado de el-Halabi, Maher Hanna, sobre a duração da sentença. "Eles insistem que a injustiça persista durante todo o processo".

Tanto el-Halabi como a World Vision negaram as alegações de que são acusados e, numa auditoria independente de 2017, não foram encontradas quaisquer provas de financiamento ao Hamas.

A Austrália, um dos maiores doadores para o trabalho humanitário da organização de Gaza, chegou também a conclusões semelhantes nas suas investigações.

Na auditoria independente, uma equipa de advogados, incluindo vários ex-procuradores norte-americanos, analisou cerca de 300 mil e-mails, realizou mais de 180 entrevistas e reviu quase todas as transações financeiras da World Vision, desde 2010 até 2016.

Em 2017, foi apresentado um relatório resultante desta investigação, com mais de 400 páginas, que não encontrou provas de que el-Halabi estivesse filiado no Hamas ou tivesse desviado quaisquer fundos, e que terá sido disponibilizado às autoridades de Israel.

Pelo contrário, a investigação percebeu que o diretor tinha imposto controlos internos na organização e ordenado aos funcionários que evitassem qualquer pessoa com suspeitas de ligação com o Hamas, defenderam os investigadores.

"A detenção, o julgamento de seis anos, o veredicto injusto e esta sentença são representativos das ações que dificultam o trabalho humanitário em Gaza e na Cisjordânia", afirmou a organização.

Em junho, o tribunal distrital da cidade israelita de Beersheba (sul) tinha concluído que el-Halabi era membro de uma organização terrorista, que fornecia informações e participava em exercícios militares, carregando consigo uma arma.

Foi acusado ainda de desviar dinheiro para o grupo Hamas, que teria utilizado os fundos para atividades militantes, bem como em aconselhamento de crianças e concursos de memorização do Alcorão entre os apoiantes.

Segundo a defesa de el-Halabi, o arguido tenciona recorrer do veredicto e da sentença para o Supremo Tribunal do país, sendo que já recusou vários acordos em troca da liberdade.

No ano passado, Israel proibiu seis grupos da sociedade civil palestiniana por alegados laços terroristas e, no início deste mês, fechou os escritórios na Cisjordânia de algumas destas organizações.

Depois da detenção de el-Halabi, a World Vision suspendeu as suas atividades em Gaza, onde mais de dois milhões de palestinianos vivem sob um bloqueio israelo-egípcio imposto quando o Hamas tomou o poder há quase 15 anos.

Israel argumenta que as restrições são necessárias para conter o grupo terrorista, enquanto os palestinianos encaram a opressão como uma forma de punição coletiva.

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