Diplomatas norte-americanos na Síria para reuniões com novos dirigentes
Diplomatas norte-americanos chegaram nas últimas horas à Síria para se encontrarem com as novas autoridades do país, dominadas por radicais islâmicos. O objetivo é promover a unidade após 13 anos de guerra civil, segundo o Departamento de Estado em Washington.
A delegação inclui Barbara Leaf, a diplomata norte-americana responsável pelo Médio Oriente, e Daniel Rubinstein, um diplomata especializado no mundo árabe que é agora responsável pelos contactos com a Síria. Também Roger Carstens, encarregado de recolher informações sobre os americanos dados como desaparecidos na Síria, como o jornalista Austin Tice, raptado em agosto de 2012, está presente.
Trata-se da primeira missão diplomática formal enviada a Damasco desde o início da sangrenta guerra civil que eclodiu em 2011.
A visita ocorre no momento em que os governos ocidentais estão a abrir gradualmente os canais de comunicação com o HTS e o seu líder Ahmed al-Sharaa. E começam a debater se devem ou não retirar a designação de terrorista ao grupo. A viagem da delegação dos EUA segue-se a contactos com a França e a Grã-Bretanha, nos últimos dias.Nos encontros, os responsáveis norte-americanos discutirão com os representantes do HTS um conjunto de princípios, tais como a inclusão e o respeito pelos direitos das minorias, que Washington pretende que sejam incluídos na transição política da Síria, disse o porta-voz.
A delegação também vai trabalhar para obter novas informações sobre o jornalista americano Austin Tice, que foi capturado durante uma viagem de reportagem à Síria em agosto de 2012, e outros cidadãos americanos que desapareceram durante o regime de Assad.
“Os representantes do HTS vão reunir-se diretamente com o povo sírio, incluindo membros da sociedade civil, ativistas, membros de diferentes comunidades e outras vozes sírias sobre a sua visão para o futuro do seu país e sobre a forma como os Estados Unidos podem ajudar a apoiá-los”, revelou o porta-voz do departamento.
Segundo a mesma fonte, os diplomatas norte-americanos “também planeiam reunir-se com representantes do HTS para discutir os princípios de transição aprovados pelos Estados Unidos e pelos parceiros regionais em Aqaba, na Jordânia”, disse o porta-voz.Os Estados Unidos cortaram relações diplomáticas com a Síria e encerraram a sua embaixada em Damasco em 2012.
Esta deslocação acontece uma semana depois de o secretário de Estado Antony Blinken ter afirmado que os EUA tinham estado em contacto direto com o HTS durante a sua visita aos países vizinhos da Síria.
Os Estados Unidos seguem assim os passos da França, cuja bandeira está agora hasteada na embaixada encerrada em 2012, da Alemanha, do Reino Unido e das Nações Unidas, que enviaram enviados para estabelecer contactos com as autoridades de transição, cujos primeiros passos no poder são observados com prudência.
A queda de Bashar al-Assad foi acolhida com cenas de júbilo, quase 14 anos após o início da guerra civil desencadeada em 2011 pela repressão das manifestações pró-democracia, que causou a morte de meio milhão de pessoas e a fuga de seis milhões para o estrangeiro.
Cauteloso, o Ocidente está a tentar estabelecer laços com o novo governo, consciente do risco de fragmentação do país e do ressurgimento do grupo jihadista Estado Islâmico, que nunca foi completamente erradicado da Síria.
Governo de transição
Em contexto de grande tensão no Médio Oriente, os rebeldes sírios tomaram o controlo de Damasco a 8 de dezembro, forçando Bashar al-Assad a fugir para Moscovo, ao cabo de mais de 13 anos de guerra civil, pondo fim ao domínio de décadas da sua família.
A ofensiva-relâmpago levantou questões sobre se os rebeldes serão capazes de assegurar uma transição ordenada.As forças sob o comando de al-Sharaa - mais conhecido como Abu Mohammed al-Golani - substituíram o governo da família Assad por um governo de transição de três meses que estava a governar um enclave rebelde na província de Idlib, no noroeste da Síria.
Desde a queda de Assad, o líder do HTS, Ahmed al-Sharaa, anteriormente conhecido pelo seu nome de guerra Abu Mohammed al-Jolani, adotou um tom conciliatório, apelando à unidade da Síria, à proteção das minorias e à dissolução das fações rebeldes. Blinken afirmou que é demasiado cedo para avaliar a sinceridade de Jolani e que qualquer alívio das sanções dependeria de ações.
Em 2013, Washington designou al-Sharaa como terrorista, afirmando que a Al Qaeda no Iraque o tinha encarregado de derrubar o regime de Assad e de estabelecer a sharia islâmica na Síria. A Frente Nusra, antecessora do HTS, realizou ataques suicidas que mataram civis e adotou uma visão sectária violenta.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os seus principais assessores descreveram o derrube de Assad como uma oportunidade histórica para o povo sírio, que há décadas vive sob o seu regime opressivo, mas também avisaram que o país enfrenta um período de risco e incerteza.
Washington continua preocupada com o facto de o Estado Islâmico poder aproveitar o momento para ressuscitar e também quer evitar quaisquer confrontos no nordeste do país entre as fações rebeldes apoiadas pela Turquia e as milícias curdas aliadas dos EUA.
c/ agências
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