Diplomacia de Kiev na China. Ucrânia aceitaria falar se Rússia mostrasse boa-fé

por Cristina Sambado - RTP
NurPhoto via AFP

A Ucrânia está pronta para conversações com a Rússia se o Governo de Vladimir Putin estiver disposto a negociar de boa-fé, afirmou Dmytro Kuleba, ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros durante conversações com o homólogo chinês, Wang Yi.

Kuleba afirmou que está a procurar um "terreno comum" nas conversações com Wang Yi, sobre uma solução para a guerra do seu país com a Rússia.
No encontro os dois países manifestaram a esperança de alcançar a paz na guerra entre Kiev e Moscovo.
Num vídeo divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba aparece na chegada ao local da reunião, na cidade de Cantão, sul da China, e a trocar impressões com o homólogo chinês, Wang Yi.

A Ucrânia deseja seguir o caminho da paz, da recuperação e do desenvolvimento”, frisou Dmytro Kouleba. “Estou convencido de que estas são prioridades estratégicas que partilhamos".

“Estou convencido de que estas são as prioridades estratégicas que partilhamos”, continuou o responsável ucraniano, acrescentando que “a agressão russa destruiu a paz e atrasou o desenvolvimento”.

A guerra não afeta apenas a Ucrânia, mas também "mina a estabilidade internacional e o desenvolvimento de boas relações entre vizinhos, incluindo o comércio entre China e Europa", acrescentou.

Kuleba instou Wang a encarar as relações entre Pequim e Kiev sob o prisma da possível adesão da Ucrânia à União Europeia (UE).

"Cada uma das nossas novas conversas é mais informativa do que a anterior. Esta é uma dinâmica muito positiva", disse o ministro ucraniano, recordando que os dois se reuniram em fevereiro passado à margem da Conferência de Segurança de Munique.

Na reunião desta quarta-feira, os temas discutidos foram "as relações bilaterais, a agenda internacional e, acima de tudo, o caminho para a paz", acrescentou Kuleba.

Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, o ministro ucraniano disse esperar que a “República Popular da China desempenhe um papel construtivo na superação dos desafios à segurança regional e global”, apontando para os riscos para o leste da Ásia suscitados pela parceria militar recentemente estabelecida entre Rússia e Coreia do Norte.

Até sexta-feira, Dmytro Kuleba efetua a primeira visita de um responsável ucraniano à China desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022.

Questionada sobre o encontro entre Wang Yi e Dmytro Kuleba, a porta-voz da diplomacia chinesa, Mao Ning, disse que “trocaram pontos de vista” sobre o conflito.


"A China considera que a resolução de todos os diferendos deve ser levada à mesa das negociações, mais cedo ou mais tarde. A resolução de qualquer litígio deve ser sempre alcançada através de meios políticos", afirmou o governante chinês.

Para o chefe da diplomacia de Pequim, "tanto a Ucrânia como a Rússia mostraram sinais de vontade de negociar a vários níveis", embora tenha reconhecido que "as condições e o momento não são ainda os mais adequados".

“Wang Yi sublinhou que a crise na Ucrânia entrou no seu terceiro ano, que o conflito continua e que existe o risco de escalada e de alastramento”, afirmou Mao Ning durante uma conferência de imprensa.

O chefe da diplomacia chinesa realçou que Pequim atribui grande importância às relações com a Ucrânia. Salientou o crescimento do comércio entre os dois países e frisou que as relações bilaterais continuaram a desenvolver-se normalmente, "apesar das situações internacionais e regionais complexas e em constante mudança".

Segundo a porta-voz do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, “a Rússia e a Ucrânia mostraram recentemente, em diferentes graus, que estão dispostas a negociar”.

“Mesmo que as condições ainda não tenham sido cumpridas, apoiamos todos os esforços conducentes à paz e estamos dispostos a continuar a desempenhar um papel construtivo na obtenção de um cessar-fogo e no reinício das conversações de paz”, sublinhou a porta-voz.

Mao Ning, acrescentou ainda que a China vai "apoiar a comunidade internacional na obtenção de um maior consenso e na procura conjunta de formas práticas de resolver politicamente a crise".

Apesar dos seus fortes laços económicos, diplomáticos e militares com Moscovo, que se reforçaram ainda mais desde a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, a China tem procurado, desde há vários meses, mediar o conflito.

Pequim está a apresentar-se como um parceiro comedido em comparação com o Ocidente, que é acusado de “adicionar combustível ao fogo” ao fornecer armas à Ucrânia.
Pequim nunca condenou invasão
A China é regularmente acusada pelos americanos e europeus de oferecer à Rússia, que é alvo de fortes sanções ocidentais, um apoio económico crucial para o seu esforço de guerra.

Pequim nega, mas o Ocidente já está a impor sanções contra empresas chinesas acusadas de ajudar Moscovo.

A China, que partilha o desejo da Rússia de criar um contrapeso aos Estados Unidos, nunca condenou a invasão russa e acusa a NATO de negligenciar as preocupações de segurança de Moscovo.

No entanto, num documento sobre a guerra do ano passado, o gigante asiático apelou também ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados, incluindo a Ucrânia.

A visita de Kuleba à China surge uma semana depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter aberto a porta a conversações com a Rússia, dizendo-se favorável à participação de Moscovo numa futura cimeira de paz.

Uma primeira cimeira foi organizada em meados de junho na Suíça. No entanto, a Rússia não foi convidada e a China decidiu não participar, considerando que não havia qualquer hipótese de se registarem progressos nestas condições.

A China tinha estabelecido um certo número de condições para a sua eventual participação: uma cimeira deve, na sua opinião, “permitir a participação igual de todas as partes” e uma “discussão justa de todos os planos de paz” - incluindo a posição russa, que Kiev recusa.

O plano do presidente russo Vladimir Putin implica uma capitulação de facto da Ucrânia. Como condição prévia para a cessação das hostilidades, pede quatro regiões ucranianas, para além da Crimeia anexada em 2014, e que a Ucrânia renuncie à sua adesão à NATO.

c/ agências
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