Diploma para presépios obrigatórios em escolas deixa Governo italiano debaixo de críticas

por Carla Quirino - RTP
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O partido Irmãos da Itália apresentou esta semana uma proposta legislativa para "proteger" tradições cristãs, como os presépios, e evitar que as escolas "modifiquem a essência do Natal". Os diretores dos estabelecimentos de ensino criticam os planos do partido de extrema-direita da primeira-ministra Giorgia Meloni. Afirmam que a ideia é "descabida".

A senadora dos Irmãos de Itália (FdI) Lavinia Mennuni apresentou um projeto de lei que pretende repreender as escolas que realizam celebrações diversificadas nas sala de aulas, nomeadamente no período do Natal.

“Há alguns anos temos assistido a decisões inaceitáveis e embaraçosas de algumas escolas que proíbem presépios ou modificam a essência profunda do Natal, transformando-o em improváveis festividades de inverno para não ofender os crentes de outras religiões”, declarou Mennuni, a principal signatária do projeto de lei proposto.

O partido Fdl, liderado pela primeira-ministra, Giorgia Meloni, defende que esta lei “é absolutamente essencial para salvaguardar e proteger as raízes culturais [de Itália], que são representadas pelo presépio”.

A proposta visa ainda “recordar o profundo significado” de tais iniciativas “em termos de humanidade e da sua relação com a identidade nacional italiana”.

Caso seja aprovada, a nova legislação poderá penalizar disciplinarmente os diretores das escolas que promovam a ausência de presépios nas festividades de dezembro, assim como “peças teatrais” alternativas à quadra.Lei descabida
O presidente da associação nacional de diretores ANP, Antonello Giannelli, citado na agência de notícias italiana Ansa, reagiu de imediato com claras críticas aos planos do Fdl: "As tradições do país certamente devem ser levadas em conta, mas impô-las por lei é descabido".

O presidente da associação de diretores DirigentiScuola, Attilio Fratta, descreveu o projeto como uma "farsa". “Estou surpreso, como é possível dar credibilidade a essas notícias”, observou.

“Estas são medidas que servem apenas para desviar a atenção dos italianos dos problemas reais que a escola e o país enfrentam”, acrescentou Fratta.

O sindicato dos professores FLC CGIL vincou que a Itália é um país laico e que “não são aceitáveis operações como esta, que interferem, entre outras coisas, na autonomia escolar”.

“Apoiaremos, de todas as maneiras possíveis, o princípio da autonomia escolar e da laicidade das escolas públicas. Eles (Fdl) precisam de reler a Constituição”, vincou a presidente da FLC CGIL, Gianna Fracassi.
Hipocrisia
Duras críticas chegaram também da oposição no Parlamento, que descreveu este projeto como mais uma tentativa do partido de Meloni para explorar a religião para fins políticos.

“Pontual como um relógio suíço, durante o Natal, as propostas da direita para salvaguardar as tradições cristãs italianas regressam”, sublinhou Riccardo Magi, secretário do partido de esquerda Mais Europa (Più Europa).

Referindo-se à agenda anti-imigrante do Governo, Magi afirmou: “[Esta é] a mesma direita, liderada por Giorgia Meloni, para quem hoje, a sagrada família que foge da perseguição provavelmente terminaria num centro de detenção, talvez na Albânia , esperando para saber por algum juiz na Itália se eles são ou não dignos de pisar em território italiano”.

Em causa está um plano de Meloni para alojar até três mil requerentes de asilo da Albânia enquanto aguardam o registo dos pedidos.

O Mais Europa acrescentou que a lei do presépio estava cheia de “hipocrisia, roçando o insulto”, e assinalando que o Governo está mais preocupado em “salvaguardar os símbolos religiosos como se fossem aspetos do folclore”, ao mesmo tempo que "torna os resgates mais difíceis para aqueles que arriscam as vidas no mar”.
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