Diminuição da ajuda em armamento aumenta os riscos para a Ucrânia em 2024

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Viacheslav Ratynskyi - Reuters

A Ucrânia enfrente sérios desafios e riscos à medida que caminha para o segundo ano de conflito com a Rússia. O alerta é feito por vários especialistas, que afirmam que a ajuda armamentista à Ucrânia está muito aquém do apoio enviado à Rússia.

A Ucrânia está em desvantagem com a Rússia no que diz respeito à ajuda militar por parte dos aliados, o que coloca desafios acrescidos a Kiev para 2024.

Em março deste ano, a Ucrânia pediu aos aliados que enviassem um quarto de milhão de projéteis por mês para ajudar na resposta à ofensiva russa. A União Europeia, por seu lado, prometeu enviar um milhão de projéteis no prazo de um ano – um terço do que a Ucrânia tinha solicitado – e até novembro tinha enviado apenas 300 mil.

Moscovo, por sua vez, recebeu mil contentores com munições da Coreia do Norte em outubro. Isso traduz-se em cerca de 300 mil projéteis – a mesma quantidade entregue à Ucrânia pela UE ao longo de oito meses – e os especialistas afirmam que o número poderá ser superior, dado que a Rússia poderá ter recebido mais projéteis norte-coreanos por via ferroviária.

“Para grande surpresa do Ocidente, a Rússia provou ser mais hábil em garantir o que queria do exterior, inclusive da China”, disse Yiorgos Margaritis, professor emérito de História da Universidade Aristóteles de Salonica, à Al Jazeera.

“A quantidade de projéteis prometida pela Coreia do Norte – dez milhões – é monstruosa. E eles já forneceram um décimo disso”, observou.

“[A Rússia] está bem abastecida, não se importa com a quantidade de perdas e tem apoio de terceiros, o que não deixa dúvidas. Todos estes três elementos não são iguais no lado ucraniano”, disse Jens Bastian, membro do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, à Al Jazeera.

Ao contrário da UE, a resposta dos EUA na ajuda à Ucrânia foi mais rápida e dinâmica, tendo aumentado em seis vezes a produção de munições de artilharia. No entanto, os EUA já anunciaram que não vão aprovar um novo pacote de apoio militar à Ucrânia até ao final de 2023, dado que o Congresso norte-americano continua a bloquear um novo apoio a Kiev.
Falta de coordenação da UE
A UE tem quatro meses para cumprir a promessa de enviar um milhão de projéteis à Ucrânia, mas tudo indica que esse prazo irá falhar. Tal como explicou o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, as novas entregas de munições a Kiev terão de vir de novas produções, o que torna impossível o envio até março. Segundo a agência Reuters, até 6 de dezembro, os Estados-membros da UE tinham encomendado apenas 60 mil do milhão de projéteis prometidos à Ucrânia.

Os especialistas criticam a falta de coordenação do bloco europeu em matéria de defesa e alertam para os riscos da sua própria segurança.


“Não temos uma indústria de defesa europeia integrada nem uma política de defesa europeia integrada, e a Ucrânia tem destacado isso há dois anos”, disse Bastian. “O senhor Borrell está a deixar claro que o fracasso a nível da UE é também um fracasso de países individuais que não têm a capacidade de produzir em escala dentro de um período de tempo definido”, acrescentou.

Bastian Giegerich, diretor-geral do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, com sede em Londres, disse à Al Jazeera que “a Europa precisa de uma mudança histórica no pensamento político, juntamente com gastos de defesa significativamente mais elevados e um esforço determinado para redefinir as perceções públicas sobre a necessidade de uma defesa forte”.

“Nenhum desses requisitos parece garantido atualmente”, afirma Giegerich, acrescentando que a menos que esses requisitos sejam cumpridos, “a tão gabada capacidade de dissuasão da NATO poderá falhar”.

“A Rússia pode já não considerar a Europa como tendo defesas credíveis e ficar tentada a atacar um membro da NATO”, alerta.
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