A Organização Mundial da Saúde recomendou, esta quarta-feira, o uso generalizado da primeira vacina criada contra a malária. Os especialistas acreditam que a decisão pode salvar dezenas de milhares de crianças africanas todos os anos.
“Comecei a minha carreira como investigador da malária e, por muito tempo, esperei pelo dia em que finalmente tivéssemos uma vacina eficaz contra esta antiga e terrível doença. Hoje chegou esse dia, um dia histórico. Hoje a OMS recomenda o uso alargado da primeira vacina do mundo contra a malária”, declarou o responsável numa conferência de imprensa em Genebra.
A vacina RTS,S, também conhecida como Mosquirix, foi desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK) e teve a sua eficácia comprovada já há seis anos. Desde 2019, foi administrada a mais de 800 mil crianças no Gana, Quénia e Malawi, no âmbito de um programa piloto.
A sua eficácia é relativamente limitada: ao longo de quatro anos de ensaios, preveniu 39 por cento dos casos de malária e 29 por cento dos casos graves da doença entre crianças pequenas em África.
Em agosto deste ano, porém, um estudo da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres descobriu que a vacina, quando administrada em conjunto com medicamentos anti-malária, reduz em 70 por cento o risco de hospitalização ou morte em crianças.
“Usar esta vacina em conjunto com as ferramentas já existentes para a prevenção da malária pode salvar dezenas de milhares de vidas a cada ano”, disse Tedros esta quarta-feira. “É segura e reduz significativamente a ameaça de vida provocada pela malária grave, e estimamos que tenha uma elevada relação custo-benefício”, acrescentou.
O diretor-geral da OMS frisou que a doença “tem estado presente há milénios”, pelo que “o sonho de uma vacina contra a malária era um sonho antigo e inatingível”. “Hoje, a vacina RTS,S, desenvolvida ao longo de mais de 30 anos, muda o rumo da história da saúde pública. Ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas este é um grande passo nesse caminho”, sublinhou.
Thomas Breuer, dirigente da GSK, disse que a farmacêutica responsável pela nova vacina está orgulhosa. “Esta decisão histórica tão aguardada pode revigorar a luta contra a malária em África, numa altura em que o progresso no controlo da doença está estagnado”, considerou.
A GSK diz-se comprometida em fornecer até 15 milhões de doses por ano pelo valor máximo de cinco por cento do custo de produção. Comprometeu-se também a trabalhar com parceiros, financiadores e governos para aumentar o fornecimento da vacina.
Os especialistas esperam que o anúncio hoje feito pela OMS encoraje as farmacêuticas a desenvolverem outras vacinas contra a malária.
Este ano, cientistas da Universidade de Oxford disseram ter desenvolvido uma vacina com 77 por cento de eficácia contra a doença, comprovados num ensaio com 450 crianças na Burkina Faso. Essa mesma vacina vai iniciar agora ensaios em larga escala com 4800 crianças em quatro países.
A OMS estima que, atualmente, ocorram 229 milhões de casos de malária por ano, 94 por cento dos quais no Continente Africano. Em todo o mundo, 409 mil mortes por ano estão associadas a esta doença, que afeta principalmente bebés e crianças.