O alerta parte da organização ambientalista internacional WWF no Dia Mundial dos Oceanos. Nas águas do Mediterrâneo, cuja “rota de saída” passa por Portugal, o plástico representa atualmente “95 por cento dos resíduos”. Uma ameaça que pende sobre “espécies marinhas” e, consequentemente, sobre “a saúde humana”. Também esta sexta-feira a portuguesa Quercus adverte que os problemas oceânicos extravasam “a questão dos plásticos”.
A WWF apela ao estabelecimento de um acordo de alcance global para fazer face à poluição oceânica dos plásticos.
O Mediterrâneo está mesmo sob o “perigo de se transformar numa armadilha plástica, com níveis recorde de poluição causada por microplásticos, que ameaçam tanto espécies marinhas como a saúde humana”.
A maior porção dos poluentes plásticos tem origem na Turquia e em Espanha. Seguem-se Itália, o Egipto e França. E “os turistas que visitam a região a cada verão são responsáveis por um aumento de 40 por cento no lixo marinho”.
A Governos, empresas e cidadãos são pedidas ações que permitam diminuir a poluição com plásticos não apenas em zonas costeiras e marítimas - no Mediterrâneo como nos demais oceanos do planeta - mas também em ambiente urbano.
No domínio das relações internacionais, a WWF propõe a negociação de um acordo internacional, com caráter vinculativo, que tenha por objetivo último a eliminação das descargas de plástico para os oceanos. Com metas ambiciosas: garantir até 2030 os 100 por cento de resíduos plásticos reciclados e reutilizáveis e proibir produtos descartáveis, a começar pelos sacos.
“Dados preocupantes” em Portugal
Quanto à situação portuguesa, a WWF aponta “dados preocupantes ao longo da cadeia alimentar marinha, nomeadamente em espécies que servem de alimento a peixes e mamíferos”.
Sandra Henriques - Antena 1
Quanto à situação portuguesa, a WWF aponta “dados preocupantes ao longo da cadeia alimentar marinha, nomeadamente em espécies que servem de alimento a peixes e mamíferos”.
Sandra Henriques - Antena 1
“Os impactos da poluição plástica no Mediterrâneo têm repercussões em todo o mundo, e Portugal, na rota de saída deste mar, é o primeiro a sofrer as consequências, com sérios danos tanto para a natureza quanto para a saúde humana”, afirma a direção executiva da Associação Natureza Portugal – organização associada à WWF -, em nota citada pela agência Lusa.
Em território português, “os microplásticos predominam nas areias das praias, representando 72 por cento do lixo encontrado em zonas industriais e de estuários”.
O país patenteia hoje “dados preocupantes ao longo da cadeia alimentar marinha, nomeadamente em espécies que servem de alimento a peixes e mamíferos”. É o que sugerem investigações científicas mencionadas pela organização ambientalista internacional.
Lisboa e Costa Vicentina ganham relevo pela negativa, dada a proximidade aos estuários dos rios Tejo e Sado.
“Declínio geral”
Ainda segundo os dados do World Wildlife Fund, só um terço dos 27 milhões de toneladas de resíduos plásticos gerados todos os anos em solo europeu segue para reciclagem. Aos aterros chegam 27 por cento.
O relatório estima que o material reciclado equivale a seis por cento da procura de plásticos no Velho Continente.
Na ausência de medidas concretas, o mar poderá apresentar, em 2025, uma tonelada de plástico por três toneladas de peixe. A previsão mais sombria das organizações ambientalistas está guardada para 2050, quando o mundo poderá ter mais plástico do que peixes nos seus oceanos.
A poluição, avisa a diretora executiva da Associação Natureza Portugal, Ângela Morgado, “ameaça o turismo e a pesca”. Os plásticos, acrescenta, constituem “um sintoma do declínio geral da saúde do planeta”.
Ouvida pela rádio pública, a bióloga Rita Sá explica que os plásticos não desaparecem; transformam-se em partículas que, além de contaminarem o ambiente, entram na cadeia alimentar animal.
“Além da questão dos plásticos”
Também a associação ambientalista portuguesa Quercus assinala esta sexta-feira o Dia Mundial dos Oceanos com um sinal amarelo, ao assinalar, em comunicado, que “as ameaças dos oceanos vão mais além do que a questão dos plásticos”.A Quercus propugna a adoção de “legislações mais rigorosas, fiscalização eficiente, investigação e pesquisa científica e tecnológica, educação e sensibilização da população, das crianças e jovens, dos empresários e decisores políticos”.
“Portugal é o País da Europa com maior superfície costeira marinha e encontra-se neste momento em negociações para o aumento da plataforma continental marítima. Neste contexto, o futuro dos oceanos terá ainda um maior impacto no nosso país, quer em termos ambientais, sociais, como económicos”, lê-se no texto difundido pela Quercus.
A estrutura enumera como fatores a ter em conta “a sobrepesca, a pesca ilegal e as capturas acidentais, que colocam em risco a sobrevivência das espécies, afetando de forma significativa as suas populações, não permitindo que estas se regenerem”.
“O que coloca em risco a biodiversidade, conduzindo, muitas vezes à extinção de populações inteiras de organismos marinhos”, acentua a Quercus.
“A procura cada vez maior de proteína proveniente do mar devido ao crescente aumento da população abre portas para uma área em crescente expansão, a aquacultura, que apesar dos benefícios que apresenta no pressuposto fornecimento de proteína marinha sem exploração das comunidades de organismos selvagens, tem também impactos ambientais significativos, como a poluição e destruição dos habitats estuarinos e costeiros”, sinaliza-se no mesmo comunicado.
A Quercus refere ainda o impacto crescente das alterações climáticas nos oceanos, designadamente “a morte massiva de grandes extensões de recifes de corais, que são maternidade e zonas de grande parte da biodiversidade marinha mundial”.
“Recentemente assiste-se a um movimento global e crescente devido à poluição dos oceanos por plásticos, existindo diversas iniciativas, quer empresariais como governamentais para redução e até mesmo eliminação da utilização de plástico, nomeadamente os de utilização única”, escreve, por fim, a associação.
“O problema do plástico nos oceanos agrava-se ainda mais devido a degradação destes, originando micropartículas designadas por microplásticos, que são de remoção extremamente difícil e que acabarão por contaminar todos os ambientes marinhos”.
c/ Lusa