A duas semanas da tomada de posse, o Presidente-eleito Joe Biden, concentra todos os esforços em Atlanta, na Geórgia. No comício de segunda-feira, na véspera da segunda volta das eleições daquele Estado para os dois lugares no Senado, o futuro Presidente dos Estados Unidos não poderia ter sido mais óbvio quanto ao carácter decisivo deste escrutínio.
“Geórgia, toda a nação está a olhar para vocês. (…) Um Estado pode traçar o caminho, não apenas para os próximos quatro anos, mas para a próxima geração”, afirmou Joe Biden durante um comício drive-in em Atlanta.
Todas as atenções se centram nesta segunda volta que irá determinar que partido vai controlar o Senado. Do lado do Partido Democrático concorrem a esta eleição Jon Ossof e Raphael Warnock, contra Kelly Loeffler e David Perdue, do Partido Republicano.
Esta segunda volta acontece porque nenhum dos candidatos ao Senado alcançou mais de 50 por cento dos votos na eleição de novembro. As regras eleitorais no Estado da Geórgia estabelecem que o candidato deve ultrapassar essa margem para ser eleito.
Os republicanos partem para esta corrida com alguma vantagem simbólica, uma vez que
necessitam apenas de garantir a eleição de um senador para assegurar o controlo da câmara alta do Congresso. Para além disso, o Estado da Geórgia é tendencialmente republicano e
há 20 anos que não elege nenhum candidato democrata para o Senado.
Já os democratas necessitam de vencer os dois lugares em jogo de forma a controlar o Senado, o que teria repercussões positivas para o Presidente-eleito, Joe Biden, dando maior margem a uma para a futura Administração norte-americana.
Não obstante as dificuldades, Joe Biden espera repetir hoje a reviravolta obtida na eleição presidencial de 3 de novembro, naquele que foi o primeiro escrutínio desde 1992 em que o candidato do Partido Democrático venceu aquele Estado.
Se os dois democratas vencerem, o partido de Joe Biden passa a controlar as duas câmaras do Congresso e a Casa Branca.
“Não perdemos na Geórgia”, insiste Trump
Ciente da importância desta segunda volta na Geórgia para a política norte-americana nos próximos anos, também o Presidente cessante, Donald Trump, se deslocou àquele Estado num último esforço de campanha.
“Devo dizer que a parada desta eleição não poderia ser mais alta. O vosso voto de amanhã vai decidir que partido controla o Senado dos Estados Unidos. Os democratas radicais estão a tentar conquistar os dois lugares da Geórgia para poderem exercer poder absoluto e sem restrições sobre todos os aspetos das vossas vidas”, disse Donald Trump num comício em Atlanta.
O Presidente incumbente aproveitou ainda para voltar a criticar uma eleição presidencial que considera “fraudulenta” e prometeu continuar a lutar com todas as forças para se manter na Presidência.
Donald Trump insistiu novamente que não perdeu para Joe Biden na Geórgia e que os democratas “não vão tomar a Casa Branca”.
Nesta chamada telefónica, Donald Trump pede ao responsável estadual republicano que “encontre” votos suficientes que lhe garantam a vitória sobre Joe Biden e invertam o resultado eleitoral.
Os resultados obtidos na Geórgia já foram certificados em dezembro e a vitória de Joe Biden no Colégio Eleitoral deverá ser ratificada pelo Congresso norte-americano já esta quarta-feira.
No comício de segunda-feira, Donald Trump abordou diretamente esta sessão formal do Senado que decorre amanhã,
convidando o Presidente do Senado que irá presidir a esta sessão - o vice-presidente cessante Mike Pence - a rejeitar a ratificação do resultado eleitoral.
“Espero que Pence fique do nosso lado”, disse o Presidente norte-americano, acrescentando que “não gostará tanto dele” caso certifique o resultado.
Republicanos divididos
Em reação às últimas investidas do atual Presidente, Joe Biden disse no comício de ontem que os políticos “não podem reivindicar, tomar ou confiscar o poder para si”.
“O poder é dado, é concedido, apenas pelo povo americano”, acrescentou o Presidente-eleito.
A revelação do telefonema entre Donald Trump e o secretário de Estado da Geórgia no domingo e o discurso inflamado de segunda-feira
abalou os republicanos que concorrem aos dois lugares no Senado por aquele território, numa altura em que as sondagens mostram que está tudo em aberto, escreve hoje o jornal The Guardian.
É que do lado democrata, o Presidente-eleito, Joe Biden, e a vice-presidente eleita, Kamala Harris, foram dando sinais de unidade dentro do partido e têm apostado na mobilização em ações de campanha de apoio aos dois candidatos ao Senado pela Geórgia.
Mas no Partido Republicano, o Presidente cessante, Donald Trump, tem dedicado os últimos meses a atacar os líderes republicanos da Geórgia, que acusa – sem provas – de ignorar casos de fraude eleitoral, tal como no telefonema revelado no domingo. Ainda em dezembro, Trump chamou “estúpido” ao Governador republicano da Geórgia, Brian Kemp, e convidou-o a apresentar a demissão.
A votação na Geórgia decorre esta terça-feira a partir das 7h00 locais (12h00 em Lisboa) e termina às 19h00 (00h00 em Lisboa).
Neste momento, antes do escrutínio, os republicanos contam com 52 dos 100 lugares do Senado. Se dois destes lugares forem conquistados pelo Partido Democrático, ambos os partidos ficam empatados com 50 senadores, mas os democratas conseguem a maioria com recurso ao voto da vice-presidente eleita Kamala Harris, que irá presidir ao Senado.
O controlo no Senado deixaria à futura Administração mais margem de manobra para a aprovação de legislação em questões centrais como a saúde ou o ambiente, que têm geralmente forte oposição dos republicanos. Para além disso, o controlo do Senado seria desde logo decisivo na aprovação dos políticos e dos cargos judiciais designados por Joe Biden.