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Dia da Terra. Conhecer e dar a conhecer uma data para ajudar o Planeta

por Nuno Patrício - RTP
Fotos: NASA/DR

Hoje é Dia da Terra, também conhecido como Dia do Planeta Terra ou Dia da Mãe Terra. Um dia que serve para lembrar da importância do planeta para a vida que o habita, e também assim da gestão dos seus recursos. Um dia já muito celebrado, mas cujos princípios de preservação ambiental e sustentabilidade não são respeitados em muitos países que aderiram à efeméride.

A data comemorativa alerta para a mudança e para a forma como tomamos medidas no que respeita ao clima, gestão de recursos e poluição. E procurando investir na defesa do planeta estamos a preservar e a proteger a nossa saúde, as nossas famílias e os nossos meios de subsistência.

Um fator fundamental para a qualidade de vida das futuras gerações.

Mas será que todos temos consciência de que este dia existe? Uma resposta que procurámos junto de Francisco Ferreira da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável.

“Eu penso que sim. Eu penso que a humanidade, em algumas regiões, com maior informação sobre os problemas que o planeta atravessa, sem dúvida alguma que está mais do que consciente deste Dia da Terra, e está consciente que o ambiente está de tal forma ameaçado que obviamente nós precisamos de um desenvolvimento diferente, mais sustentável e (com a consciência) de que a humanidade está em risco”, principalmente, diz Francisco Ferreira, a população dos países em desenvolvimento e que dependem e muito dos recursos naturais que este planeta ainda tem para oferecer, a custo da sua natureza.
Dia da sobrecarga terrestre cada vez mais próximo
Todos os dias são extraídos do planeta recursos, sejam eles animais, vegetais ou minerais. Recursos que servem a humanidade no seu dia-a-dia e a que muitos, principalmente nos países desenvolvidos, não dão a importância e valor justo.

Gastamos muitas vezes recursos quase de forma gratuita, onde o consumismo não é sentido como prejudicial e fonte de esgotamento de recursos.

Ainda que existam campanhas de sensibilização, a reciclagem e a economia circular ainda deixa muito a desejar.

Com exceção dos anos em contexto de pandemia COVID-19, em que se verificou uma forte contração da atividade económica e condicionamentos à mobilidade de pessoas, com as emissões de gases de efeito de estufa a sofrerem uma redução de 8,5 por cento face a 2019 e o consumo de energia final a cair uns 7,2 por cento - onde a qualidade do ar melhorou 33,8 por cento, nem todos os indicadores ambientais tiveram a mesma evolução positiva.

Por exemplo, e de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, verificou-se um aumento na produção de resíduos urbanos por pessoa. O indicador de preparação para a reutilização e reciclagem sofreu um decréscimo de três por cento, fixando-se em 38 por cento, piorando a convergência com a meta de 50 por cento pré-estabelecida para estes anos. E a deposição de resíduos urbanos em aterro cresceu oito por cento, para um total de 53 por cento, afastando-se assim da meta de 35 por cento definida.

A acrescer a estes valores, houve também a diminuição do grau de adesão das empresas a atividades de gestão e proteção do ambiente em 16,3 por cento, ou seja,  menos 1,8 pontos percentuais face a 2019.

Exemplos nacionais que com o retorno da normalização vão ter tendência para aumentar. E as perspetivas mundiais de consumo vão no mesmo sentido.

Causas e efeitos que Francisco Ferreira, olhando para as metas que se estabeleceram para 2030, diz existirem fortes probabilidades de falhanço.

“Entre os objetivos e a realidade, a diferença é infelizmente muito grande. Apesar de todas as convenções que têm surgido em vários domínios, continuamos a perder a biodiversidade e continuamos a aquecer o planeta”.

O presidente da Zero dá mesmo dados estatísticos e diz que cada português por ano emite 5,7 toneladas de dióxido de carbono equivalente. Um valor que para estarmos em linha com o Acordo de Paris, que se estabeleceu em 2016, teríamos de reduzir em 48 por cento até 2030. Um exemplo entre muitos, como a produção de lixo, consumo de água e de carne ou a redução da área artificializada.

Valores que neste Dia da Terra têm de ser levados em conta segundo cinco pilares fundamentais (Pessoas, Planeta, Prosperidade, Parcerias e Paz). Sem eles não se conseguirá a estabilidade, harmonia e a sustentabilidade natural, refere Francisco Ferreira.
Catástrofes naturais, secas e alterações climáticas. Estará a natureza a defender-se ou a adaptar-se?
Não é possível esconder ou ignorar as mudanças climáticas no planeta. Os mais recentes dados disponibilizados pela comunidade cientifica revelam alterações sem precedentes no clima mundial.

Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (PIAC), o aquecimento global está a causar alterações cada vez maiores em todas as regiões do mundo - e em alguns casos irreversíveis - no que são os padrões de precipitação, nos oceanos e nos ventos.

Para a Europa, por exemplo, o relatório prevê o aumento da frequência e da intensidade de eventos meteorológicos extremos, incluindo ondas de calor marinhas, e alerta para o facto de que um aumento da temperatura de dois graus Celsius terá efeitos críticos para natureza e pessoas.

Efeitos que resultarão também em elevadíssimos custos para a economia e que limitarão a capacidade dos países de produzirem alimentos.

Consequências naturais e também da ação humana na produção de gases de efeito de estufa aceleram todo o processo. De ter ainda em conta a exploração dos recursos naturais e a constante poluição do solo e do mar.

Estará a natureza a adaptar-se e a defender-se? Para Francisco Ferreira, apesar destes fenómenos, a natureza é ainda muito condescendente para com a vida na Terra e o ser humano: “Temos tido muita sorte”, diz, ”e à custa de termos 70% de oceanos, que têm absorvido a maior parte do calor que os gases de efeito de estufa que se acumulam na atmosfera… se não fossem os oceanos, a assumir aqui uma parte muito grande deste aquecimento global, as temperaturas já tinham disparado para muito acima dos 1,5 graus que aumentámos desde a era industrial”.

Precisamente nesse sentido a União Europeia estabeleceu um plano de combate às alterações climáticas e ao incentivo a uma ação climática ambiciosa.

Com o Pacto Ecológico Europeu, a União Europeia renovou o seu compromisso de dar o exemplo, posicionando-se como um líder mundial em matéria de política e ação climática.

Em fevereiro de 2022, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União aprovaram conclusões sobre os resultados da Conferência das Partes (COP26) e definiram as prioridades para o trabalho da UE em matéria de diplomacia climática.

Houve por parte dos membros políticos a reafirmação do elevado nível de ambição dos esforços da União Europeia a nível mundial, com o apelo a uma ação mais rápida para alcançar os objetivos acordados na COP26, comprometendo-se também a colaborar com parceiros de todo o mundo nos seguintes domínios:
  • objetivos climáticos mais ambiciosos a nível mundial
  • reforço da ação e do financiamento para a adaptação às alterações climáticas
  • eliminação progressiva do carvão e fim das subvenções ineficientes aos combustíveis fósseis
Estamos sempre a tempo
Somos na realidade fonte do problema, mas na verdade também somos a solução para diminuir os problemas que causamos no planeta. E basta por vezes “um pequeno passo para o homem, para dar um salto gigante na salvaguarda da humanidade”, como por exemplo poupar água, reciclar, andar a pé ou passar a usar transportes públicos.

Um suavizar da pegada ecológica através de padrões de consumo e de vida das pessoas que no global fazem toda a diferença.

Para o presidente da Associação Zero, práticas amigas do ambiente já deviam estar enraizadas na sociedade. E deixa outros exemplos.

“Tudo o que seja produtos a granel, levar as nossas embalagens, recipientes, sacos para impedirmos mais produção de resíduos, reparar fugas de água, fecharmos a torneira sempre que não precisamos (e também na alimentação) e inspirarmo-nos na dieta mediterrânica para reduzir a quantidade de proteína animal (…) e por último aproveitar as construções existentes”. Pequenos grandes passos que servem para melhorar a nossa pegada ecológica.

As comemorações do Dia da Terra tiveram lugar pela primeira vez nos Estados Unidos, no dia 22 de abril de 1970, promovidas pelo senador americano Gaylord Nelson (1916-2005), que organizou um fórum ambiental que envolveu 20 milhões de participantes.
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