"Devolvam-nos a Estátua da Liberdade", clama eurodeputado francês em desafio a Trump

por Carla Quirino - RTP
Estátua da Liberdade, Nova Iorque, EUA William Volcov / Brazil Photo Press via AFP

A Estátua da Liberdade, que a França ofereceu aos Estados Unidos em 1876, deve regressar a território francês. O pedido de devolução, metafórico, foi apresentado pelo eurodeputado Raphaël Glucksmann, que afirma que a América já não representa os valores inerentes à oferta e que a "despreza".

Quase 140 anos depois de a Estátua da Liberdade ter sido oferecida aos Estados Unidos, um político francês sugeriu que é o momento de a escultura colossal, que representa “A Liberdade a Iluminar o Mundo”, regressar a casa.

E quem é que se atreve a reclamar o presente de volta? É o eurodeputado francês de centro-esquerda do Parlamento Europeu Raphaël Glucksmann, que, esta semana, avançou com vários argumentos para que a grande estátua às portas de Nova Iorque regresse a França.

Glucksmann aponta que os EUA já não representam os valores que levaram França a presenteá-los.

"Vamos dizer aos norte-americanos que escolheram ficar do lado dos tiranos, dizer aos norte-americanos que despediram investigadores por exigirem liberdade científica: 'Devolvam-nos a Estátua da Liberdade'", disse Glucksmann.

Acrescentou ainda: "A estátua foi um presente, mas parece que a desprezam. Por isso, vai ficar bem aqui em casa".
A liberdade a iluminar o mundo
A Estátua da Liberdade, produzida em cobre, foi originalmente batizada como La Liberté éclairant le monde (A Liberdade a iluminar o mundo). A escultura neoclássica, concebida pelo político Edouard de Laboulaye e desenhada pelo escultor Auguste Bartholdi, ambos franceses, seria construída por Gustave Eiffel.

A figura feminina representa Libertas, deusa romana. Carrega uma tocha e um tabula ansata (uma tabuleta que evoca uma lei) sobre a qual está inscrita a data da Declaração da Independência dos Estados Unidos, 4 de julho de 1776.

O presente do povo francês, em 1876, assinalou o centenário da independência dos EUA e sublinhava a perseverança da democracia americana e a libertação dos escravos do país.

Também considerada um símbolo da liberdade e da justiça, foi formalmente entregue ao ministro americano em Paris, a 4 de julho de 1880, e  inaugurada a 28 de outubro de 1886, na Ilha da Liberdade, no porto nova-iorquino.
Em jeito de metáfora
A Casa Branca já rebateu os comentários alegando que a França deveria ser “grata” pelo apoio dos EUA durante as duas guerras mundiais.

Glucksmann, por sua vez, devolveu mensagem expressando que a gratidão francesa pelos sacrifícios dos norte-americanos em tempos de guerra é “eterna”. “Se o mundo livre já não interessa à atual Administração, então pegaremos na tocha, e trazemo-la para aqui, para a Europa”, contrapôs.

Mas rapidamente o eurodeputado explicou a metáfora numa publicação no X: “Ninguém, é claro, irá e roubará a Estátua da Liberdade. A estátua é vossa”.

E exaltando o significado da oferta relembra: “Mas o que ela representa pertence a todos”.

Alerta para as contradições
No discurso, num encontro do seu partido, Glucksmann fez referência às palavras da poetisa nova-iorquina Emma Lazarus sobre a estátua, a “mulher poderosa com uma tocha” que prometeu um lar para as “massas amontoadas ansiando por respirar livremente”.

O poema "The New Colossus", de Lazarus, gravado numa placa de bronze no interior do nível do pedestal da Estátua da Liberdade expressa, a uma certa altura, o sentido dessa luz que iluminaria o caminho a quem chegava à cidade: “Enviai-me estes, os sem-abrigo, a tempestade, Eu levanto a minha luz junto à porta dourada".

Este sinal de boas vindas, esperança e oportunidade de uma vida melhor em território norte-americano está em clara contradição com as medidas da Administração Trump - que determinou deportações em massa de pessoas que alegadamente se encontram nos EUA, sem documentação, relembra o eurodeputado.

“Hoje, esta terra está a deixar de ser o que era”, adverte Glucksmann.

O político francês reitera que o significado do apelo é sobretudo “um alerta para um perigo” que está a alastrar na sociedade e espera que esta “chamada de atenção” ajude o mundo a acordar.

“Todos nós na Europa amamos essa nação à qual sabemos que devemos tanto”, realça. E acredita ainda que o aliado ultrapasse esta fase: “os EUA vão levantar-se novamente. Vocês vão erguer-se novamente. Estamos a contar com todos vós”.
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