"Devolvam-nos a Estátua da Liberdade", clama eurodeputado francês em desafio a Trump
A Estátua da Liberdade, que a França ofereceu aos Estados Unidos em 1876, deve regressar a território francês. O pedido de devolução, metafórico, foi apresentado pelo eurodeputado Raphaël Glucksmann, que afirma que a América já não representa os valores inerentes à oferta e que a "despreza".
Quase 140 anos depois de a Estátua da Liberdade ter sido oferecida aos Estados Unidos, um político francês sugeriu que é o momento de a escultura colossal, que representa “A Liberdade a Iluminar o Mundo”, regressar a casa.
E quem é que se atreve a reclamar o presente de volta? É o eurodeputado francês de centro-esquerda do Parlamento Europeu Raphaël Glucksmann, que, esta semana, avançou com vários argumentos para que a grande estátua às portas de Nova Iorque regresse a França.
Glucksmann aponta que os EUA já não representam os valores que levaram França a presenteá-los.
"Vamos dizer aos norte-americanos que escolheram ficar do lado dos tiranos, dizer aos norte-americanos que despediram investigadores por exigirem liberdade científica: 'Devolvam-nos a Estátua da Liberdade'", disse Glucksmann.
A liberdade a iluminar o mundo
A Estátua da Liberdade, produzida em cobre, foi originalmente batizada como La Liberté éclairant le monde (A Liberdade a iluminar o mundo). A escultura neoclássica, concebida pelo político Edouard de Laboulaye e desenhada pelo escultor Auguste Bartholdi, ambos franceses, seria construída por Gustave Eiffel.
A figura feminina representa Libertas, deusa romana. Carrega uma tocha e um tabula ansata (uma tabuleta que evoca uma lei) sobre a qual está inscrita a data da Declaração da Independência dos Estados Unidos, 4 de julho de 1776.
O presente do povo francês, em 1876, assinalou o centenário da independência dos EUA e sublinhava a perseverança da democracia americana e a libertação dos escravos do país.
Também considerada um símbolo da liberdade e da justiça, foi formalmente entregue ao ministro americano em Paris, a 4 de julho de 1880, e inaugurada a 28 de outubro de 1886, na Ilha da Liberdade, no porto nova-iorquino.
Em jeito de metáfora
A Casa Branca já rebateu os comentários alegando que a França deveria ser “grata” pelo apoio dos EUA durante as duas guerras mundiais.
Glucksmann, por sua vez, devolveu mensagem expressando que a gratidão francesa pelos sacrifícios dos norte-americanos em tempos de guerra é “eterna”. “Se o mundo livre já não interessa à atual Administração, então pegaremos na tocha, e trazemo-la para aqui, para a Europa”, contrapôs.
Mas rapidamente o eurodeputado explicou a metáfora numa publicação no X: “Ninguém, é claro, irá e roubará a Estátua da Liberdade. A estátua é vossa”.
E exaltando o significado da oferta relembra: “Mas o que ela representa pertence a todos”.
Alerta para as contradições9. No one, of course, will come and steal the Statue of Liberty.
— Raphael Glucksmann (@rglucks1) March 17, 2025
The statue is yours. But what it embodies belongs to everyone.
And if the free world no longer interests your government, then we will take up the torch, here in Europe.
No discurso, num encontro do seu partido, Glucksmann fez referência às palavras da poetisa nova-iorquina Emma Lazarus sobre a estátua, a “mulher poderosa com uma tocha” que prometeu um lar para as “massas amontoadas ansiando por respirar livremente”.
O poema "The New Colossus", de Lazarus, gravado numa placa de bronze no interior do nível do pedestal da Estátua da Liberdade expressa, a uma certa altura, o sentido dessa luz que iluminaria o caminho a quem chegava à cidade: “Enviai-me estes, os sem-abrigo, a tempestade, Eu levanto a minha luz junto à porta dourada".
Este sinal de boas vindas, esperança e oportunidade de uma vida melhor em território norte-americano está em clara contradição com as medidas da Administração Trump - que determinou deportações em massa de pessoas que alegadamente se encontram nos EUA, sem documentação, relembra o eurodeputado.
“Hoje, esta terra está a deixar de ser o que era”, adverte Glucksmann.
O político francês reitera que o significado do apelo é sobretudo “um alerta para um perigo” que está a alastrar na sociedade e espera que esta “chamada de atenção” ajude o mundo a acordar.
“Todos nós na Europa amamos essa nação à qual sabemos que devemos tanto”, realça. E acredita ainda que o aliado ultrapasse esta fase: “os EUA vão levantar-se novamente. Vocês vão erguer-se novamente. Estamos a contar com todos vós”.