Detido gestor de site usado por agressores sexuais como Dominique Pelicot

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Hans Lucas via AFP

O italiano Isaac Steidl, fundador e gerente do site Coco.fr, foi detido esta semana pelas autoridades francesas. O website terá sido utilizado para a prática de mais de 23 mil crimes, nomeadamente de violação, pedofilia e homicídio. O site foi inclusive utilizado por Dominique Pelicot para recrutar dezenas de homens para violarem a sua mulher, Gisèle.

Isaac Steidl, de 44 anos, foi detido na terça-feira e está a ser interrogado depois de ter sido chamado a depor na polícia de Paris.

“Está a ser ouvido sob custódia policial num inquérito da jurisdição nacional de combate ao crime organizado, sob a direção de um juiz de instrução, que avaliará o seguimento a dar”, anunciou o Ministério Público francês.

Steidl é acusado de cumplicidade em tráfico de drogas, posse e distribuição de pornografia infantil, corrupção de menores através da internet, mas também de proxenetismo agravado, associação criminosa e lavagem de dinheiro, detalhou o Ministério Público de Paris.

O site Coco.fr foi fechado em junho de 2024 após as autoridades francesas terem aberto uma investigação. A Procuradoria de Paris anunciou o encerramento deste site “conhecido há muitos anos como facilitador da prática de diversos crimes, nomeadamente atos de criminalidade infantil, proxenetismo, prostituição, violação, venda de estupefacientes, emboscadas, até mesmo homicídios”.

Segundo a procuradora responsável pelo caso, o website terá sido utilizado para a prática de 23.051 crimes – nomeadamente violação, pedofilia e homicídio – que abrangem pelo menos 480 vítimas.
A plataforma foi, inclusivamente, utilizada por Dominique Pelicot para recrutar dezenas de homens para violarem a sua mulher, Gisèle – um caso que ganhou grande notoriedade em França e no resto do mundo.

O fundador do site, de nacionalidade italiana, suspeito de ser o administrador do site, já tinha sido interrogado em junho na Bulgária. Três dos seus familiares, suspeitos de terem “exercido um papel ativo na administração da plataforma ou [de terem] beneficiado dos crimes”, também foram interrogados em França e colocados em liberdade após o interrogatório.
Como funcionava o Coco.fr?
Isaac Steidl criou este website em 2003 com a ajuda dos pais, que investiram 2.000 euros no projeto, depois de Steidl se ter formado em engenharia informática.

Inicialmente o website servia como uma plataforma de encontros que permitia aos utilizadores conversar anonimamente, mas rapidamente atraiu a atenção de pedófilos, criminosos sexuais e traficantes de droga.

Para entrar no site bastava informar o sexo, idade, código postal e criar um pseudónimo, sem qualquer tipo de controlo. Para além disso, era fácil mudar a idade e fingir ser maior de 18 anos para aceder à plataforma.

Ao entrar no site, depois de se registarem, era apresentada uma lista de diferentes fóruns de conversação dedicados a vários temas. A maioria era de natureza sexual, com muitos chats dedicados a fetiches e com conteúdos sexuais explícitos. O site também permitia entrar em conversas privadas e enviar mensagens diretas a outros utilizadores.
O caso de Pelicot e outros
No caso de Pelicot, Dominique utilizou um pseudónimo para se registar no Coco e entrou num chat designado "à son insu" (“sem o seu conhecimento” em português) para recrutar homens para irem a sua casa violar a sua mulher.

Ao longo de dez anos, foi neste site que Pelicot recrutou mais de 80 homens para violarem a sua mulher na sua casa em Mazan, no sul de França. Na conversa, Pelicot dizia que ele e a sua mulher partilhavam o fetiche por homens que tinham relações sexuais com Gisèle enquanto ela dormia, sem referir diretamente que a drogava contra a sua vontade e que Gisèle não tinha conhecimento nem consentia os abusos.

No entanto, segundo os investigadores, Pelicot chegou a usar por diversas vezes a palavra “violação” e descreveu aos potenciais agressores como drogava a mulher. “Estou à procura de um cúmplice pervertido para abusar da minha esposa adormecida”, escreveu Pelicot numa das suas mensagens no Coco. Dominique Pelicot foi condenado a 20 anos de prisão em dezembro passado. Os restantes 50 arguidos foram condenados a penas entre os três e os 13 anos de cadeia.

O caso de Pelicot tornou-se o mais mediático, mas ao longo dos últimos anos foram reportados vários crimes relacionados com o Coco em França, nomeadamente vários utilizadores que foram atacados durante encontros organizados pelo site.

Vários “ataques de emboscada” tinham como alvo homens homossexuais que eram aliciados no Coco para se encontrarem com desconhecidos. Pelo menos dois assassinatos em França foram relacionados a encontros organizados no Coco, de acordo com os media franceses.
PUB