Detida suspeita de atentado à bomba que matou bloguer militar russo Vladlen Tatarsky

por Inês Moreira Santos - RTP
Conhecido como Vladlen Tatarsky, mas com o nome de nascimento de Maxim Fomin, o bloguer estava a participar num debate quando foi morto num café nas margens do Rio Neva Anton Vaganov - Reuters

Vladlen Tatarsky, bloguer militar russo e defensor da guerra na Ucrânia, morreu no domingo vítima de uma explosão num café de São Petersburgo. O caso está a ser investigado, segundo as autoridades russas, como um assassinato premeditado. A principal suspeita, identificada como Darya Trepova, foi entretanto detida.

Conhecido como Vladlen Tatarsky, mas com o nome de nascimento de Maxim Fomin, o bloguer estava a participar num debate quando foi morto num café nas margens do Rio Neva, no centro histórico de São Petersburgo. Dados preliminares das autoridades indicam que a bomba se encontrava dentro de uma estatueta oferecida ao bloguer.

Mais de 30 pessoas ficaram feridas na explosão, de acordo com o Ministério da Saúde da Rússia, e foi aberta uma investigação por “assassinato de alto escalão”, na terminologia judicial russa.Meios de comunicação social russos e outros bloguers militares avançaram que Tatarsky estava reunido com um grupo de pessoas, quando recebeu uma caixa, entregue por uma mulher, com um busto que acabou por explodir.


O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak veio atribuir a explosão a uma "luta política interna" russa.

"As aranhas estão a comer-se umas às outras numa jarra", escreveu no Twitter. “A possibilidade de haver terrorismo interno como um instrumento de luta política interna era uma questão de tempo”.

A porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, acusou a Ucrânia, alegando que as atividades de Tatarsky "conquistaram o ódio do regime de Kiev" e que, à semelhança de outros bloguers, há já muito que o influenciador pró-russo enfrentava ameaças ucranianas.
Já Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo paramilitar Wagner, disse que "não culparia o regime de Kiev", mas um "grupo de radicais".

O grupo patriótico russo organizador do evento, Cyber Front Z, alega que adotou medidas de segurança, mas reconheceu que "foram insuficientes".

"Houve um ataque terrorista. Tomamos certas medidas de segurança, mas infelizmente não foram suficientes", lê-se numa publicação no Telegram.
Leituras divergentes
Num vídeo, a testemunha Alisa Smotrova disse que uma mulher, que se identificou como Nastya, fez perguntas e trocou impressões com Tatarsky durante o debate. Nastya terá dito que fez um busto do bloguer, mas suspeitando que este pudesse ser uma bomba, os guardas pediram que fosse deixado à porta. Nastya e Tatarsky riram-se e a mulher foi então buscar o busto, oferecendo-o a Tatarsky, que o terá colocado numa mesa próxima.

A agência de notícias russa Interfax informou, por sua vez, que uma mulher de São Petersburgo, Darya Trepova, foi detida por alegado envolvimento no atentado. A mulher já tinha sido detida anteriormente por participar de manifestações contra a guerra, acrescentou.

De acordo com a comunicação social russa, as autoridades estão a considerar que o busto seja a possível fonte da explosão, embora não descartem a possibilidade de um explosivo ter sido colocado no café antes do evento.

Até ao momento, ninguém reivindicou publicamente o atentado, mas bloguers militares e comentadores apontaram de imediato o dedo à Ucrânia, comparando este incidente ao homicídio, em agosto passado, de Darya Dugina, comentadora televisiva e filha de Alexander Dugin, filósofo russo próximo do Kremlin. Darya morreu quando o carro em que seguia explodiu. Na altura, as autoridades russas atribuíram a culpa aos serviços secretos militares da Ucrânia, embora Kiev tenha negado o envolvimento.

Tatarsky, que apresentava relatos regulares sobre Ucrânia, tinha mais de 560 mil seguidores na plataforma Telegram. Nascido no Donbass, coração industrial da Ucrânia, Tatarsky trabalhou como mineiro de carvão antes de iniciar um negócio de mobiliário.

Ao passar por dificuldades financeiras, assaltou um banco, cumprindo por isso pena de prisão. Tatarsky escapou durante uma rebelião separatista apoiada pela Rússia, em 2014, semanas após a anexação da Crimeia por Moscovo. Depois disso, juntou-se a rebeldes separatistas e lutou na linha de frente, antes de se dedicar aos blogues.

c/ agências
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