Detenção do líder dos coletes amarelos volta agitar a França

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Stephane Mahe, Reuters

Um dos líderes do movimento que ficou conhecido como os “coletes amarelos” foi detido na noite passada em Paris. Eric Drouet foi levado juntamente com outros cinquenta presentes numa homenagem às pessoas que morreram durante as manifestações iniciadas há um par de meses no país. Uma detenção, consideram os analistas, que poderá voltar a acordar um movimento meio adormecido.

O motivo apontado pela polícia para a prisão de Eric Drouet, um camionista de longo-curso de 33 anos e visto como líder e porta-voz dos “coletes amarelos”, foi a “organização de uma manifestação não autorizada”, na realidade uma acção marcada para a Praça da Concórdia, centro de Paris, em homenagem às pessoas que morreram ou ficaram feridas durante as acções do movimento. Além de Drouet, vários outros participantes foram detidos para verificação de identidade.

Na resposta a uma convocatória de Eric Drouet através das redes sociais, umas cinquenta pessoas acorreram ao Arco do Triunfo para se dirigirem depois à Concórdia e aí acenderem velas em homenagem às baixas do movimento. As detenções ocorreram nos Campos Elísios, quando Drouet conversava, segundo a sua advogada, com as pessoas que decidiram acompanhá-lo à Concórdia.
Mais um tiro no pé do Eliseu

Esta detenção, a segunda de Eric Drouet, surge numa altura em que o movimento dos “coletes amarelos” perdeu fôlego, apesar das consequências para a equipa do Presidente Emmanuel Macron, que continua a desintegrar-se, silenciosamente, no interior do Palácio do Eliseu. A prisão do líder dos “coletes amarelos” foi já comentada como um tiro no pé do executivo francês, uma vez que poderá tornar-se no oxigénio de que o movimento necessitava para regressar em força às ruas.

Por mais do que uma razão, os comentadores acreditam que a detenção daquele que é o seu líder mais reconhecido pode vir a dar novo ímpeto aos “coletes amarelos”, uma vez que apesar de semanas de mobilização nunca chegaram a ver satisfeito o seu caderno reivindicativo.

Antes do Natal, Macron apenas congelou as contas do imposto sobre os combustíveis e aumentou em 100 euros o salário mínimo, mantendo contudo a revogação do imposto de solidariedade das altas fortunas, cujo regresso era exigido nas ruas depois de o Presidente neoliberal, numa das suas primeiras medidas assim que chegou ao poder, o ter substituído pelo imposto sobre o imobiliário.
Segunda detenção

Eric Drouet foi detido uma primeira vez a 22 de Dezembro, igualmente durante uma manifestação não autorizada, por posse de arma proibida, naquele que foi o sexto sábado consecutivo de reivindicações levadas às ruas de Paris.

Face à detenção desta noite, Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda francesa e do movimento França Insubmissa, recorreu ao Twitter para denunciar o que considera ser um abuso de poder das forças policiais.


“Mais uma vez Éric Drouet é detido? Porquê?" Abuso de poder. Uma polícia política que agora já assedia os líderes do movimento dos coletes amarelos”, acusou Mélenchon.

Esta quinta-feira, Drouet saiu em liberdade depois do que disse terem sido horas de múltiplos interrogatórios por altas figuras da segurança do Estado francês, o que o levaria a declarar à imprensa que “tudo o que se passa aqui é político”.
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