“Restam apenas oito anos para atingir as duas metas globais de deter e reverter o desflorestamento até 2030. Estaremos no caminho certo?” É a pergunta colocada na avaliação feita pela Plataforma de Declaração Florestal perante a lenta a ação praticada pelos estados.
Em 2021, na Cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas de Glasgow - COP26 - líderes de todo o mundo anunciaram um compromisso para acabar com o desmatamento global até 2030, endossado por de 145 países e cobrindo cerca de 90 por cento das florestas globais.
A
avaliação publicada esta segunda- feira afirma que, embora tenha havido um ligeiro recuo,
“nenhum indicador global está no caminho certo para cumprir essas metas de 2030 de parar a perda e degradação florestal e restaurar 350 milhões de hectares de paisagem florestal”.
A área destruída em 2021 reduziu 6,3 por cento, nomeadamente na Indonésia. Mas quase sete milhões de hectares foram perdidos e a destruição das florestas tropicais mais ricas em carbono e biodiversidade desacelerou apenas três por cento.
As emissões de CO2 resultantes das árvores perdidas foram equivalentes às emissões de toda a União Europeia e Japão juntos. Os autores desta análise argumentam que o aquecimento global não poderá ser limitado a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais sem acabar com a destruição das florestas.
A demolição e degradação destas áreas acrescentam cerca de dez por cento às emissões globais de carbono.
Em Glasgow, pela primeira vez, a meta de 2030 “foi adotada ao nível de líderes por muitos países, cobrindo 90% das florestas globais”, mas a aplicação prática falha por falta vontade política, sublinha o documento.
“Temos os dados e sabemos quais são as intervenções que funcionam – o elemento que falta é a vontade política de realmente realizar essas ações”, observa Frances Seymour do World Resources Institute.
Erin Matson, do Climate Focus, membro integrante das organizações que que conduziram a avaliação expressa claramente:
“não estamos no caminho certo. Houve alguma melhora modesta, mas mesmo isso pode ser apenas temporário. Muitos países estão a colocar o seu progresso em risco eliminando ou revertendo proteções. Por exemplo, a Indonésia não renovou a moratória do óleo de palma depois que expirou em setembro de 2021 e uma lei recentemente adotada sobre a criação de empregos representa uma séria ameaça às florestas naturais.”
America do sul lidera a desflorestação
Quatro dos cinco principais países com maiores áreas de desmatamento – Brasil, Bolívia, República Democrática do Congo e Paraguai – aumentaram a destruição em 2021.
A maior área de floresta destruída foi no Brasil, onde o desflorestamento aumentou durante a liderança do presidente Jair Bolsonaro. A disputa eleitoral entre Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente, a 30 de outubro, irá determinar “o destino da Amazónia” , descrevem os cientistas. “As apostas são altas”, declarou Matson, citado na publicação
The Guardian.
Esperança vem da Indonésia
O “progresso excepcional” em alguns países mostrou que a meta de 2030 ainda era possível, realçaram os autores.
A Indonésia, o único país a reduzir o desflorestamento em cada um dos últimos cinco anos. Juntamente com a vizinha Malásia, reduziram a destruição florestal em cerca de 25 por cento, em 2021. A Ásia tropical é a única região na trajetória necessária para cumprir a meta acordada do desmatamento zero até 2030.
A redução de novas áreas para plantações de cacau na Costa do Marfim e Gana ajudou o desmatamento a cair 47% e 13%, respectivamente.
A implantação de novos parques nacionais e medidas para combater a extração ilegal de madeira levaram a uma queda de 28% no Gabão.
A América Latina tropical, México, Venezuela, Colômbia e Guatemala também relataram cortes no desmatamento em 2021.
Floresta intacta | forestdeclaration.org
Proteger e garantir que florestas se mantenham intactas implica maiores benefícios climáticos que apenas o armazenamento de dióxido de carbono, pois “graças ao seu papel na produção de cobertura de nuvens, arrefece o planeta” explica Seymour . “Se levarmos em conta os processos sem carbono, eles amplificam o efeito de desaceleração de acabar com a perda de florestas tropicais em cerca de 50 por cento”, acrescenta.
A cobertura florestal reposta aumentou em alguns países desde 2000, mas em relação à área perdida, a contabilidade ainda apresenta um resultado negativo. “As novas florestas não podem nem conseguem compensar o enorme armazenamento de carbono e a biodiversidade das florestas naturais existentes”, vincaram os autores da avaliação.
Chegar ao desmatamento zero até 2030 requer uma queda de 10% ao ano, o que significa que a atual desaceleração do desmatamento é insuficiente.