Desinformação "inundou" o X antes das eleições europeias

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Uma investigação neerlandesa conclui que, no período que antecedeu as eleições para o Parlamento Europeu, as redes sociais em França, na Alemanha e em Itália foram "inundadas" por desinformação. De acordo com o estudo divulgado esta sexta-feira, as contas estavam coordenadas para espalhar informações falsas, principalmente na plataforma X, o antigo Twitter.

O estudo realizado nos Países Baixos constatou que grande parte das contas identificadas nos quatro países, incluindo em território holandês, foi criada após a invasão russa à Ucrânia, tendo sido, contudo, ativadas algumas semanas ou dias antes das eleições europeias. Nessa altura, registou-se um crescimento vertiginoso do número de seguidores, acrescentam os investigadores da Trollrensics, citados pelo jornal britânico The Guardian.

“O impacto destas contas está a aumentar de uma forma alarmante”, refere o estudo da Trollrensics, uma consultora especializada e encomendada pelos partidos holandeses Socialista e Democrata no Parlamento Europeu. “Podemos concluir com absoluta certeza que uma grande rede coordenada de contas estava a influenciar as eleições da UE na Alemanha, França e Itália”.

Analisando as redes sociais na Alemanha, França, Itália e nos Países Baixos com um software especializado, os investigadores verificaram 2,3 milhões de publicações de 468 mil contas, identificando cerca de 50 mil como contas que criadas para espalhar desinformação.

Nas redes socias francesas foram identificadas mais de 127 mil publicações que mencionavam Éric Zemmour, o fundador do partido político de extrema-direita Reconquête. Destas, 20 por cento tinham sido publicadas por contas de desinformação. E na Alemanha, 10 por cento das publicações sobre o Alternative für Deutschland eram também dessas contas.A Trollrensics salientou, no entanto, que a “percentagem real” de informações falsas veiculadas nesses dois países era, provavelmente, maior.

Por outro lado, o estudo não encontrou redes organizadas para difundir desinformação nos Países Baixos. Já em território italiano, a informação menos fidedigna referia-se pouco às eleições, tocando sobretudo em assuntos controversos como a migração ou a vacinação.

Ainda de acordo com a mesma investigação, o aumento destas redes e dos seguidores demonstra que conseguem “assumir o controlo de um debate inteiro simplesmente a inundar o X com publicações, republicações, comentários e gostos”. Estas contas estão, além disso, “densamente conectadas” e são, provavelmente, geridas por humanos e não por Inteligência Artificial.

A Trollrensics é especializada em analisar redes de desinformação que normalmente incluem contas de “trolls” que tentam interferir de forma organizada para influenciar a opinião pública. Intitulado “Investigação às Eleições Europeias”, o relatório indica que estas redes de desinformação “necessitam de recursos humanos e tempo significativos”.

Muitas das contas agora identificadas foram criadas depois logo no início de janeiro deste ano e acumularam um grande número de seguidores muito rapidamente. E ainda há outro indicador que os investigadores consideram alarmante e que prova a atividade coordenada: quase todas as contas seguidas pelos investigadores seguiram-nos de volta.

“A técnica é usada principalmente para dar credibilidade à conta, pois parece mais legítima se tiver um grande número de seguidores”, explica o relatório.

Nas palavras de Robert van der Noordaa, cofundador da Trollrensics citado no estudo, se “estivermos cercados em qualquer plataforma de rede social por contas do mesmo país, que publiquem no mesmo idioma e todas elas estiverem a dizer 'vote nesta pessoa', isso provavelmente funciona muito melhor do que a Coca-Cola dizer 'beba Coca-Cola'”.
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