Desenvolvimento de vacinas. Nobel da Medicina atribuído a Katalin Karikó e Drew Weissman

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Katalin Karikó e Drew Weissman são os laureados de 2023 com o Prémio Nobel da Medicina, pelas descobertas relativas a modificações de bases nucleósidas que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes de mRNA contra a covid-19. Os vencedores foram anunciados esta segunda-feira em Estocolmo, na Suécia, pelo secretário do comité de Medicina, Thomas Perlmann.

O Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina de 2023 foi atribuído à investigadora húngara Katalin Karikó, de 68 anos, e ao norte-americano Drew Weissman, de 64 anos, pelas descobertas sobre modificações de bases de nucleosídeos que permitiram o desenvolvimento de vacinas de mRNA eficazes contra a covid-19.


"Quando o SARS-CoV-2 surgiu no final de 2019 e se espalhou rapidamente por todas as partes do mundo, poucos pensavam que as vacinas poderiam ser desenvolvidas a tempo de ajudar a conter a pandemia. No entanto, várias vacinas foram aprovadas em tempo recorde, com duas das vacinas mais rapidamente aprovadas e mais eficazes produzidas com a nova tecnologia de mRNA", é explicado num comunicado.

A descoberta de Karikó e Weissman demonstrou que o "mRNA produzido com bases modificadas evita o reconhecimento imune inato e melhora a expressão proteica", o que levou "à aprovação de duas vacinas contra a covid-19 baseadas em mRNA de grande sucesso, no final de 2020".

Através dos trabalhos dos dois investigadores, foi possível tornar "a vacina de mRNA adequada para uso clínico num momento em que era mais necessária, tornando-a uma contribuição extraordinária para a medicina e abrindo caminho para futuras aplicações de mRNA".

Para esta categoria, as previsões dos especialistas incluíam como candidatos favoritos a investigação sobre as células imunitárias capazes de combater o cancro, o estudo da microbiota humana e os trabalhos sobre as causas da narcolepsia.

O Prémio Nobel da Fisiologia ou da Medicina é uma distinção científica atribuída anualmente pelo Instituto Karolinska e regulado pela Fundação Nobel, distinguindo descobertas notáveis ​​nos campos das ciências da vida, da fisiologia ou da medicina. No ano passado, foi o biólogo sueco Svante Pääbo o laureado com esta distinção.

O geneticista foi distinguido pelas suas investigaçoes sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana e pelo trabalho na recuperação de material genético de ossos de 40 mil anos, produzindo um genoma completo do Neandertal e iniciando o campo dos estudos de ADN antigo.
Mais sobre Prémios Nobel
Desde 1901, os prémios Nobel têm sido atribuídos a homens, mulheres e organizações por trabalhos que levaram a grandes avanços para a humanidade, em linha com os desejos do inventor Alfred Nobel.

A temporada de 2023 dos prémios Nobel arrancou esta segunda-feira com o anúncio do prémio na área da Medicina e prolonga-se até dia 9 de outubro, quando será conhecido o de Economia. Ao longo da semana serão anunciados os vencedores dos galardões de Física (terça-feira), Química (quarta-feira), Literatura (quinta-feira) e Paz (sexta-feira). O anúncio da distinção na área das Ciências Económicas está agendado para dia 9.

Todas as categorias serão anunciadas em Estocolmo, Suécia, exceto o Nobel da Paz que, como habitualmente, será atribuído pelo Comité Nobel Norueguês e terá como cenário o Instituto Nobel Norueguês, em Oslo.

O Nobel da Paz recebeu 351 candidaturas este ano, num contexto em que a guerra na Ucrânia se arrasta, a comunidade internacional está fragmentada e as catástrofes se multiplicam, admitindo-se como possibilidade que o galardão não seja entregue este ano.

"Em muitos aspetos, seria apropriado que o comité não atribuísse o prémio este ano", defendeu o professor sueco Peter Wallensteen, especialista em questões internacionais. "Seria uma boa forma de chamar a atenção para a gravidade da situação mundial, como aconteceu nos anos que se seguiram às duas guerras mundiais".

Mas, em Oslo, o facto de não se conseguir encontrar um vencedor entre as centenas de candidaturas recebidas seria visto como uma admissão de fracasso.

"É muito difícil imaginar" tal cenário, sustentou o secretário do Comité Nobel, Olav Njølstad, citado pela agência France Presse.

"Não diria que é impossível, mas o mundo precisa de algo que o coloque no caminho certo", acrescentou, sublinhando que é "realmente necessário" que o Prémio Nobel da Paz seja atribuído este ano.

Os especialistas avançam como possíveis escolhas as mulheres iranianas que, desde a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro de 2022, depois de ter sido detida por alegadamente violar o rigoroso código de vestuário imposto às mulheres, têm vindo a manifestar a sua revolta; os investigadores de crimes de guerra na Ucrânia ou os ativistas que lutam contra as alterações climáticas, numa altura em que o verão de 2023 foi o mais quente alguma vez registado no mundo e em que o mau tempo, os incêndios e as inundações assolam todo o planeta.

O movimento Fridays for Future, inspirado pela jovem sueca Greta Thunberg, o cacique brasileiro Raoni Metuktire, defensor dos direitos dos povos indígenas, o Tribunal Penal Internacional, as iranianas Narges Mohammadi e Masih Alinejad, a jornalista afegã Mahbouba Seraj e o opositor russo Vladimir Kara-Murza são alguns dos nomes a concurso.

Os vencedores da edição deste ano dos prémios Nobel vão receber um milhão de coroas suecas extra, elevando o valor total recebido pelos premiados para 11 milhões de coroas suecas (cerca de 925 mil euros).

c/ Lusa
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