"Desenvolver Moçambique". Filipe Nyusi empossado Presidente

por RTP
António Silva - EPA

Filipe Nyusi tomou posse como quarto Presidente de Moçambique. A cerimónia decorreu na Praça da Independência em Maputo e contou com a presença de dez chefes de Estado. Marcelo Rebelo de Sousa foi o único Chefe de Estado da União Europeia a assistir à investidura.

O Presidente Moçambicano fez a leitura do juramento com a mão direita sobre a Constituição, perante a presidente do Conselho Constitucional, Lúcia Ribeiro.

Nyusi jurou, “pela sua honra, respeitar e fazer respeitar a Constituição da República”, e “desempenhar fielmente as suas funções como Chefe de Estado”. No seu discurso, Filipe Nyusi prometeu, à semelhança do que tinha feito em 2015, quando tomou posse para o primeiro mandato, ser “o Presidente de todos os moçambicanos”, “sem distinção da raça, origem étnica, religião e filiação política”. E frisou que “a paz será a sua prioridade absoluta”.

Renovo a promessa de trabalhar por um Moçambique com que todos sonhamos. A nossa agenda é desenvolver Moçambique, é fazer com que esse desenvolvimento não seja feito à custa da injustiça, da prepotência e da desigualdade”, realçou.

O Presidente da República defendeu que “nenhum moçambicano pode impingir aos outros o que é meramente a sua convicção pessoal”.

O novo Chefe de Estado garantiu que “não haverá tréguas na luta contra a corrupção” e “não haverá pequenos nem grandes corruptores” e reafirmou que o povo continuará a ser o seu “patrão”.

Nyusi asseverou que o seu Governo irá trabalhar para que o país continue a crescer e seja de todos os moçambicanos.

O Presidente da República acrescentou que “a bússola do seu Governo continua a ser assegurar a felicidade de todos os moçambicanos”. E que o país irá dar “passos decisivos rumo à fome zero”.

Na área da Saúde, prometeu “melhorar as condições de trabalho dos funcionários” e fazer vincar o projeto “um distrito, um hospital”.

Em relação ao facto de a Frelimo ter maioria qualificada, Filipe Nyusi frisou que “não se pode reduzir a importância de ideias”, porque “a Assembleia da República representa todos os moçambicanos”.

O Presidente da Republica prometeu ainda na área da Justiça “expandir a construção de infraestruturas”. “Reforçar a liberdade de expressão e de imprensa” de forma a “garantir a pluralidade de ideias”

No seu discurso, Filipe Nyusi não esqueceu os chefes de Estado e de Governo presentes na cerimónia e deu “calorosas boas vindas à capital da nossa pérola do Índico”.
“A vossa presença aqui hoje é uma inequívoca expressão do vosso apreço pelo povo moçambicano e pela enorme vontade de fazer valer as nossas relações de amizade e cooperação”, sublinhou.
Três mil convidados
À cerimónia assistiram cerca de três mil convidados, segundo a organização, num espaço vedado que ocupa a Praça da Independência, dominada pela estátua de Samora Machel, primeiro Presidente de Moçambique.

Outras pessoas juntam-se fora da vedação, num evento transmitido em direto pelos principais canais de televisão do país.Do lado português, além de Marcelo Rebelo de Sousa, participaram na cerimónia o ministro dos Negócios Estrangeiro, Santos Silva, e a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro.

Da lista de presenças presidenciais constaram, além do Presidente da República de Portual, outros dois líderes lusófonos: João Lourenço, presidente de Angola, e Jorge Carlos Fonseca, chefe de Estado de Cabo Verde, que atualmente detém a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização que contará também com a participação do secretário-executivo, o português Francisco Ribeiro Telles.

Ruanda, Quénia, Zâmbia, Zimbabué, África do Sul, Botswana, Maurícias completam a lista de chefes de Estado presentes.

Uganda e Guiné Equatorial tiveram vice-presidentes a assistir.

O Governo chinês enviou à cerimónia Cai Dafeng, enviado especial do Presidente Xi Jinping.
Eleito para um segundo mandato
Filipe Nyusi foi reeleito, à primeira volta, para um segundo mandato há três meses, depois dos resultados eleitorais de 15 de outubro terem dado uma larga vantagem à Frente da Libertação de Moçambique com 73 por cento dos votos.
Para o Parlamento, a Frelimo conseguiu eleger 184 dos 250 deputados, ou seja, 73,6 por cento dos lugares, cabendo 60 (24 por cento) à Renamo e seis assentos (2,4 por cento) ao MDM, anunciou a Comissão Nacional de Eleições.
Em segundo lugar ficou Ossufo Momade, candidato da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), com 21,88 por cento, e em terceiro Daviz Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), com 4,38 por cento.

Os resultados foram contestados pela oposição e vários observadores apontam irregularidades, mas o líder da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) assume agora um mandato reforçado, apesar da crise económica e dos problemas financeiros do país.

Em Moçambique, o Chefe de Estado é também o chefe do Governo, por imperativos constitucionais derivados do regime presidencialista em vigor. Ainda hoje, Filipe Nyusi deve formar um novo Governo.
Quem é Filipe Nyusi?
Filipe Jacinto Nyusi foi o único Chefe de Estado moçambicano reeleito que não teve participação direta na luta de libertação nacional e sem patente militar, mas que fez da conquista da paz um dos seus principais objetivos.

Nyusi chegou à Presidência da República com as credenciais de engenheiro - que levou, como presidente do clube, o modesto Ferroviário de Nampula a campeão nacional de futebol moçambicano -, e com uma passagem fugaz pelo cargo de ministro da Defesa, sob a presidência de Armando Guebuza.

O seu Governo teve de lidar com uma rebelião militar movida pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), devido a diferendos sobre os resultados eleitorais de 2014, e com o corte de ajuda financeira ao Orçamento do Estado (OE), na sequência do caso das dívidas ocultas do Estado.

"Farei de tudo para que o país tenha paz", disse, amiúde, expondo-se a situações vistas como "contranatura" no seu partido, como quando foi procurar o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, nas matas da Gorongosa para conversar sobre a paz, em 2017.


Para evitar que a aproximação fosse torpedeada por membros radicais da Frelimo, a deslocação à Gorongosa foi ultrassecreta e só foi comunicada a alguns jornalistas no dia em que aconteceu.

No plano internacional, entendeu rapidamente que tinha de começar a ouvir o Fundo Monetário Internacional (FMI), para que o país saísse da situação de quase "pária" a que foi votado nos mercados internacionais pelo incumprimento perante credores das dívidas não declaradas.

Sempre destacou o facto de o seu Governo conseguir pagar salários mensalmente perante uma situação difícil de "sanções e de crise" impostas pelos doadores e pela conjuntura.


Lembrando um estilo muito peculiar do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, Filipe Nyusi não se coíbe de dirigir reprimendas públicas a figuras do Estado moçambicano.

O caráter intempestivo de Nyusi já se tinha revelado em autênticas provas orais a que submete publicamente dirigentes distritais sobre dados de governação local nas visitas presidenciais que realiza pelo país.

Amante e conhecedor da Matemática por força da sua formação de engenheiro e professor na Universidade Pedagógica, as perguntas sobre estatísticas e números que Filipe Nyusi levanta costumam causar autêntico pavor aos funcionários do Estado.O "bailarino", como é também tratado em círculos mais próximos, por ser um amante da dança, é ainda conhecido pelo relativo desapego ao protocolo do Estado.

No início do mandato, sentou-se várias vezes no chão com crianças em salas de aulas sem carteira para se solidarizar com os alunos que estudam sem grandes condições, dando depois algumas lições de Matemática.

Participou nalgumas partidas de futebol de caráter recreativo pela equipa do Governo e fez alguns minutos em jogos inaugurais de campeonatos escolares.

Descrito como um homem de família, brincalhão e de sorriso fácil, Filipe Nyusi, 55 anos, nasceu em Namua, distrito de Mueda, província de Cabo Delgado, é casado e pai de quatro filhos.

c/ Lusa
Tópicos
PUB