Descodificado genoma do cão, humanos poderão ter menos genes do que se pensava

por Agência LUSA

Uma equipa de investigadores decifrou o código genético dos cães, comparou-o com o dos humanos e concluiu que as pessoas poderão ter menos genes do que se pensava.

Segundo os cientistas envolvidos no projecto a sequenciação completa do genoma canino revelou também que o ser humano partilha mais ADN com o cão do que com o rato.

A investigação será publicada na edição de quinta-feira da revista Nature.

Os cientistas começaram a fazer comparações detalhadas entre o genoma canino e o humano, para tentar descobrir os genes que tornam cães e humanos vulneráveis a doenças como cancros, problemas cardíacos, cataratas, epilepsia, cegueira e surdez.

De acordo com Eric Lander, director do Broad Institute of Harvard e principal autor do estudo, a comparação entre os genes dos cães, dos humanos e dos ratos demonstrou que algumas características genéticas encontradas em humanos, mas não em ratinhos, não são afinal exclusivas das pessoas, uma vez que aparecem também nos cães.

O trabalho desenvolvido até ao momento aponta também para que as pessoas possam ter menos genes do que os cientistas pensavam.

Os investigadores estimam que os cães têm 19.300 genes, quase todos versões caninas de genes encontrados nas pessoas.

Estudos anteriores apontavam para que as pessoas tivessem mais de 3.000 genes, mas Lander afirmou que o estudo dos cães "está a conduzir os investigadores à dúvida sobre se serão de facto genes humanos reais".

Mas a primeira conclusão a que os investigadores chegaram, após a comparação entre as várias raças de cães é que do pequeno Chihuahua ao gigante Gran Danois todos provêm do mesmo conjunto básico de genes.

Para a investigação foi utilizado o ADN de uma fêmea de boxer, chamada Tasha, disse Eric Lander, acrescentando que Tasha foi escolhida entre mais de cem cães candidatos, por o seu ADN parecer especialmente propício à tarefa de identificar os 2,4 mil milhões de componentes químicos.

Mas os investigadores perceberam depois que qualquer outro cão teria sido igualmente eficaz, afirmou Lander.

Em termos de ADN, dois cães escolhidos ao acaso diferem tanto quanto duas pessoas também escolhidas ao acaso, mas a variação na aparência, tamanho e comportamento dos cães continua a baralhar os investigadores, disse Lander.

"Como é que um grupo tão restrito de genes pode produzir Chihuahuas e Gran Danois?", questionou.

Investigações mais profundas poderão ajudar os cientistas a descobrir o que produz diferenças tão grandes nos corpos entre espécies.

Este novo trabalho também identificou sinais ao longo do ADN canino que vão ajudar a identificar os genes que predispõem os cães a certas doenças, algumas das quais partilhadas com os humanos.

De facto, pode ser mais fácil encontrar genes de doenças nos cães do que nas pessoas, porque o apuramento de raças deixou marcas no genoma dos cães.

Esta pesquisa genética pode beneficiar os cães e os seus donos, considerou um responsável da Fundação para a Saúde Canina do Clube de Canis Norte-americanos.

"Estamos a tentar apagar estas fragilidades genéticas", fazendo uma despistagem das doenças genéticas dos cães antes da reprodução", disse.

à medida que se forem descobrindo esses genes responsáveis por doenças, podem ser eliminados fazendo apenas a reprodução de cães que não os tenham.

Estes resultados estão mais completos do que os anunciados em 2003 sobre o ADN de um poodle macho chamado Shadow.

Até ao momento, os cientistas já decifraram o ADN de ratos, chimpanzés, galinhas e humanos, bem como de muitos outros organismos.

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