Descendentes de refugiados judeus reclamam cidadania alemã

por RTP
De acordo com o artigo 116 da Constituição da Alemanha, todos os antigos refugiados – bem como os seus descendentes – podem pedir a nacionalidade alemã Thomas Peter - Reuters

Mais de 100 descendentes de refugiados judeus voltaram a desafiar o Governo de Angela Merkel para recuperar a nacionalidade alemã. A maior parte dos pedidos já havia sido rejeitada por estes não serem filhos de pais alemães.

Doze anos de regime nazi, 12 anos de ditadura com a ascensão de Hitler ao poder. A perseguição política, racial e religiosa do II Reich obrigou milhares de judeus a fugir.

Com a sua partida, entre 30 de janeiro de 1933 e 8 de maio de 1945, todos os refugiados alemães com raízes judaicas foram privados dos seus direitos. Fugitivos, deixaram de ser considerados alemães e passaram a ser vistos como um alvo a abater.

O Holocausto dizimou cerca de seis milhões de judeus durante a II Guerra Mundial. Ainda assim, alguns refugiados conseguiram sobreviver e regressar, mais tarde, às origens, o que permitiu aos descendentes pedir a nacionalidade alemã.

“Não sou suficientemente alemã para ser cidadã”, lamenta Barbara Hanley, descendente de refugiados. Apesar de ser neta e filha de alemães judeus, o pai era inglês. “Até 1953 a nacionalidade era conferida através do pai”. Por ter nascido em 1945, o seu pedido foi recusado. “O meu erro foi ter nascido demasiado cedo e a minha mãe ter a sexualidade trocada. Não consigo sequer expressar a raiva que esta injustiça criou em mim”, confessa.
O que diz a Lei Fundamental alemã

De acordo com o artigo 116 da Constituição da Alemanha, todos os antigos refugiados – bem como os seus descendentes – podem pedir a nacionalidade alemã. Já os cidadãos que regressaram ao país, após o término da II Guerra Mundial, nunca deveriam ter sido privados dos seus direitos e deveres.

Apesar de o artigo 116 se encontrar em vigor, muitos são os casos que foram rejeitados pelas mais variadas razões.

“Porque é que me vou expor a tanta humilhação e rejeição?”, questiona Sylvia Finzi. Filha de mãe com nacionalidade alemã-judaica, Sylvia confessa que foi muito difícil decidir “se tirava a nacionalidade do país que preparou o assassínio da minha mãe, bem como de outros seis milhões de Judeus”. Ainda assim, decidiu arriscar, mas só quando terminou de preencher o formulário é que percebeu qual iria ser o desfecho. Sylvia viu o carimbo da rejeição ao ler que a mãe tinha casado com um refugiado italiano.

Adotada por pais alemães, Jacqueline Danson também foi excluída da equação. “Ter de provar o meu valor perante a sociedade alemã é um insulto”, afirma. “Apesar de, na altura, perante a lei, ser considerada filha de pais adotivos, não sou considerada sua descendente pois o meu sangue não é suficientemente alemão”.

Já Nicholas Courtman, membro do grupo de exclusão e investigador do departamento alemão na Universidade de Cambridge, também foi rejeitado pelo facto de a sua avó ter deixado o país “cedo demais”.

“É incompreensível como é que alguns alemães foram rejeitados devido à data de nascimento ou com quem é que as suas mães casaram”, revela Ulla Jelpke, do partido de esquerda Die Linke. “Os cidadãos a quem foi retirada a cidadania pelos nazis têm o direito de reaver a sua cidadania, sem exceção” conclui.
Tópicos
PUB