Desaparecidos na Amazónia. Jornalista e ativista terão sido assassinados por pescadores

por RTP

O jornalista britânico Dom Phillips e o ativista brasileiro pró-indígena Bruno Pereira terão sido mesmo assassinados. Um dos suspeitos de envolvimento no desaparecimento do jornalista e do ativista detidos pela polícia assumiu ter participado no crime.

Conduzidos por um dos suspeitos do crime, as autoridades brasileiras encontraram esta quarta-feira restos humanos numa zona remota da Amazónia, no local onde um dos principais suspeitos confessou ter assassinado o jornalista britânico Dom Phillips e o ativista brasileiro Bruno Araújo Pereira. As autoridades acreditam que os restos mortais pertencerão ao jornalista e ao ativista, desaparecidos desde o início do mês, mas terão agora de ser conduzidos exames para a identificação.

Dom Phillips, jornalista e colaborador do jornal The Guardian, e Bruno Araújo Pereira, ativista que militava em favor dos direitos dos indígenas, estão desaparecidos desde 5 de junho, no Vale do Javari, região remota e de selva na Amazónia brasileira perto da fronteira com Peru e Colômbia, onde realizavam uma investigação sobre ameaças de invasores e criminosos contra os indígenas.

Restos mortais foram agora encontrados pela Polícia Federal após um dos principais suspeitos de envolvimento no desaparecimento ter confessado o duplo homicídio e ter conduzido agentes federais ao local onde alegadamente os corpos foram enterrados.

Os alegados autores do homicídio são dois irmãos pescadores Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado", e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como "Dos Santos". O primeiro foi detido na semana passada, sendo considerado o principal suspeito, e o segundo esta última terça-feira.

“A noite passada obtivemos uma confissão do primeiro dos dois suspeitos detidos (...) que nos contou em pormenor como o crime foi cometido e onde os corpos foram enterrados”, declarou o superintendente regional da Polícia Federal, Eduardo Fontes acrescentou.

A zona onde foram encontrados os corpos, no Vale do Javarí, é de acesso "bastante complicado", o que tem atrasado o processo, admitiu Eduardo Fontes.
Assunto mereceu a atenção de Boris Johnson
O primeiro-ministro britânico manifestava-se ontem preocupado com o desaparecimento do jornalista britânico depois de a antiga primeira-ministra Theresa May ter pedido para que o caso recebesse “prioridade diplomática" do Governo britânico.

A deputada do Partido Conservador disse que Dominique Davis, uma das residentes na circunscrição eleitoral que representa, Maidenhead, a oeste de Londres, é sobrinha de Dom Philips e pediu ajuda durante o debate semanal com o primeiro-ministro.

“Como todos nesta Câmara (dos Comuns) estamos profundamente preocupados com o que lhe possa ter acontecido”, respondeu o primeiro-ministro britânico, indicando que os Negócios Estrangeiros estavam em contacto com as autoridades brasileiras: “O ministro responsável tem levantado a questão repetidamente”.
Bolsonaro com discurso desculpabilizador
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, referia-se também ontem ao jornalista desaparecido como uma pessoa mal-vista por denunciar crimes ambientais.

“Esse inglês, ele era malvisto na região porque fazia muita matéria reportagem contra garimpeiro (minerador ilegal), sobre a questão ambiental", afirmou Bolsonaro numa entrevista divulgada no Youtube, ao comentar o desaparecimento de Phillips e do ativista indígena brasileiro Bruno Araújo Pereira.
“Então naquela região lá, que é uma região muito isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio”, acrescentou o presidente brasileiro.

Bolsonaro sugeriu ainda que o jornalista britânico e o ativista brasileiro estavam no local sem a devida autorização das autoridades, informação entretanto desmentida.

“Aquela região, pelo que tudo indica, se mataram os dois, espero que não, eles estão dentro da água. E dentro da água, pouca coisa vai sobrar. Peixe come, não sei se tem piranha no (Vale) do Javari”, concluiu.

c/ Lusa
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