Derrota em Bakhmut pode ditar "compromissos inaceitáveis", avisa Zelensky

por Inês Moreira Santos - RTP
Soldados ucranianos munidos de equipamento norte-americano disparam uma bateria Howitzer M119 perto de Bakhmut Oleksandr Ratushniak - Reuters

A situação em Bakhmut permanece "sob controlo", segundo o comandante das forças terrestres da Ucrânia. Mas as forças russas continuam a lutar por avanços na região e Volodymyr Zelensky alertou que, caso a Rússia vença a longa batalha por esta cidade, o povo ucraniano "vai sentir-se cansado" e fazer pressão "para chegar a um compromisso" com Moscovo.

As forças russas continuam a investir na tentativa de conquistar a cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, mas as autoridades ucranianas garantem que não estão a ter muitos progressos. As defesas antiaéreas ucranianas informaram, esta quarta-feira, que abateram um bombardeiro russo Su-24M perto da cidade de Bakhmut e, segundo as garantias da vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Maliar, a região será defendida “enquanto for preciso defesa militar”.

“Estamos a defender Bakhmut com tanta devoção como em qualquer outro assentamento. O uso das nossas forças e meios é determinado não pela conveniência política, mas pelos recursos necessários para repelir o inimigo e realizar missões de combate nesta área”, disse Maliar através do Telegram.

“A batalha por Bakhmut não é um apocalipse. Esta é outra página heroica na guerra contra a Federação Russa pelo poderoso exército ucraniano”.

Já do lado russo, as notícias dão conta de avanços no território e na cidade vizinha de Avdiikva, apesar da forte resistência de Kiev, e assumem que tem quase o controlo total de uma central de metais. Segundo as agências internacionais, as forças russas ganharam algum terreno mas não conseguiram cercar as forças ucranianas.
"Não podemos falhar"
Há sete meses que a ofensiva russa se concentra em Bakhmut e o chefe de Estado ucraniano admitiu, na terça-feira, que a queda da cidade no leste da Ucrânia seria uma pesada derrota política. Em entrevista à Associated Press, Zelensky sublinhou que até ao momento não se sentiu pressionado para assinar um acordo de paz com "compromissos inaceitáveis".

"Não podemos falhar qualquer passo porque a guerra é uma maratona (...). Pequenas vitórias, pequenos passos", disse Zelensky.

Com a conquista de Bakhmut, Vladimir Putin podia "apregoar esta vitória ao Ocidente, à sua sociedade, à China, ao Irão”. E se o presidente russo "vir um pouco de sangue - sentir que estamos fracos - ele vai forçar, forçar, forçar".

O receio de Zelensky é, como admitiu, que a firmeza da comunidade internacional mude não apenas com o destino de Bakhmut mas também com o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2024. Do lado republicano, o candidato Donald Trump e o seu provável rival Ron DeSantis têm questionado se Washington deveria continuar a fornecer ajuda militar à Ucrânia e se o conflito deveria ser uma prioridade para a segurança nacional norte-americana.

"Os Estados Unidos realmente compreendem que, se pararem de nos ajudar, não iremos vencer", explicou o chefe de Estado ucraniano.
Putin está "informativamente isolado" e sem aliados

Ainda na entrevista de terça-feira, Volodymyr Zelensky disse que Vladimir Putin era uma “pessoa isolada informativamente falando” e que tinha “perdido tudo” no último ano de guerra.

“Ele não tem aliados”
, disse o presidente ucraniano, acrescentando que era claro que nem mesmo a China estava disposta a apoiar a Rússia.

Zelensky afirmou então que gostaria de receber em Kiev Xi Jinping, o líder da China, um dos poucos aliados da Rússia, e que divulgou, no final de fevereiro, o que chamou de um plano para a paz na Ucrânia.

"Estamos prontos para vê-lo aqui", disse Volodymyr Zelensky, referindo-se a Xi Jinping. "Quero falar com ele. Tive contacto com ele antes da guerra. Mas durante todo este ano, mais de um ano, não tive".

Volodymyr Zelensky disse que o anúncio, feito no sábado pelo Kremlin, de um acordo para implantar armas nucleares táticas na Bielorrússia, país que faz fronteira com a Ucrânia, foi uma manobra de distração, porque a visita de Xi Jinping "não foi boa para a Rússia".
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