"Deepfakes" e "doppelgangers". Como a Rússia estará a interferir nas eleições europeias
A UE e vários dos seus países membros têm, nos últimos meses, lutado contra a campanha de desinformação russa que visa as eleições europeias. Os europeus acusam Moscovo de estar a contaminar as eleições ao espalhar notícias falsas através de ferramentas que se baseiam em inteligência artificial, como "deepfakes" e "doppelgangers".
“Se voltarmos a 1917, à criação da Cheka, a primeira organização de inteligência da Rússia, vemos que eles são os mestres da desinformação há mais de 100 anos”, diz Morgan Wright, consultor-chefe de segurança da SentinelOne, uma empresa norte-americana de segurança cibernética, em declarações à CNN.
“Eles usam as mesmas táticas há décadas, são as ferramentas que mudam – agora é a inteligência artificial e as redes sociais”, explica.
Essa influência russa nas eleições europeias está a ser feita através de ferramentas que se baseiam em inteligência artificial, como “deepfakes” e “doppelgangers”. “Deepfakes” são conteúdos de vídeo ou imagem que são adulterados com recurso a técnicas de IA (Inteligência Artificial). Já “doppelganger” é o nome atribuído a uma campanha de desinformação que consiste em criar clones de sites noticiosos para difundir conteúdos fraudulentos e falsos.
Estas táticas estão, no entanto, a tornar-se mais sofisticadas e a extravasar das redes sociais e plataformas online para os parlamentos e discursos políticos.
A semana passada, as instalações do Parlamento Europeu foram inclusivamente alvo de buscas no âmbito de uma investigação sobre suspeitas de ingerência da Rússia em território belga. De acordo com esta investigação, membros do Parlamento Europeu foram alegadamente abordados e pagos para promover a propaganda russa através do site de notícias “Voz da Europa”.
Guerras e crise climática no centro da campanha de desinformação
Os temas mais visados por esta campanha de desinformação são a guerra na Ucrânia e no Médio Oriente e a crise climática.
Algumas destas notícias falsas transmitiram a ideia de que as energias renováveis pouco contribuem para a segurança da UE, que as turbinas eólicas estão a provocar poluição tóxica e que o Governo alemão desligou as luzes públicas para economizar a eletricidade.
Algumas destas notícias chegaram mesmo ao Parlamento Europeu, através da voz de políticos populistas. Deputados franceses e italianos chegaram a partilhar a notícia falsa de que as políticas climáticas para reduzir a poluição proveniente da agricultura forçarão os cidadãos da UE a comer insetos.
Esta campanha de desinformação focada no clima é particularmente prejudicial para o partido ecologista “Os Verdes”, que deverá perder vários deputados no Parlamento Europeu nas eleições deste ano.
Como a UE está a combater esta desinformação?
Os responsáveis europeus acusam a Rússia de ter lançado esta campanha de desinformação com o objetivo de desacreditar os Governos europeus e desestabilizar a UE.
“A Rússia tem sido muito oportunista. Está à procura de controvérsia e conflito, e de quaisquer questões atuais que possam explorar”, diz Morgan Wright. “O objetivo é fazer com que as pessoas discutam entre si. Eles não se importam com a política climática”, explica.
Moscovo, por sua vez, nega estar a difundir desinformação e acusa o Ocidente de estar envolvido numa guerra de informação em larga escala para destruir a reputação da Rússia.
A estratégia da UE para combater esta campanha de desinformação baseia-se no Regulamento dos Serviços Digitais, que visa especificamente conteúdos ilegais, publicidade enganosa e desinformação.
A Meta Platforms, a Google e o TikTok anunciaram medidas, incluindo a criação de equipas para combater a desinformação, o abuso de IA e a influência relacionada com as eleições para o Parlamento Europeu.
Os especialistas dizem, no entanto, que o esforço europeu neste combate é desarticulado, o que tem deixado os partidos vulneráveis a campanhas de desinformação e, por sua vez, levado ao crescimento dos partidos populistas e de extrema-direita.
c/agências