"Declínio catastrófico". Vida selvagem diminui 73% em 50 anos

por Carla Quirino - RTP
Tartaruga-de-pente Gabriel Barathieu / Biosphoto via AFP

O mais recente relatório da World Wide Fund for Nature, revelado esta quinta-feira, alerta para o "declínio catastrófico", em 73 por cento, nos últimos 50 anos, do tamanho médio das populações de vida selvagem. Só a América Latina e as Caraíbas viram cair 95 por cento dessas populações. A organização de preservação da natureza adverte que os próximos cinco anos vão determinar o futuro da vida na Terra.

Desde elefantes em florestas tropicais a tartarugas-de-pente na Grande Barreira de Corais, as populações estão a diminuir de forma "catastrófica", afirma a organização não-governamental internacional World Wide Fund for Nature (WWF), que desde 1961 trabalha na área de preservação da natureza e redução do impacto humano no meio ambiente.

Os maiores declínios nas populações de vida selvagem foram registados na América Latina e nas Caraíbas, menos 95 por cento. África reporta menos 76 por cento e a Ásia-Pacífico menos 60 por cento.

O relatório Planeta Vivo da WWF deixa claro que, à medida que a Terra se aproxima de pontos perigosos de inflexão de ameaça à humanidade, maior esforço coletivo será necessário para enfrentar as crises climáticas e naturais. Porém, a margem é curta para inverter a tendência. A análise afirma que o futuro da vida na Terra depende do que acontecer nos próximos cinco anos.

O Índice Planeta Vivo (LPI), fornecido pela Sociedade Zoológica de Londres, inclui quase 35 mil tendências populacionais de 5.495 espécies - aves, mamíferos, anfíbios, répteis e peixes - registadas entre 1970 e 2020. O declínio maior ocorre nos ecossistemas de água doce que apresenta uma redução de 85 por cento, seguido pelos terrestres, que decresceram 69 por cento. A vida marinha caiu 56 por cento.

A perda e a degradação de habitats têm sido impulsionadas principalmente pelo sistema alimentar humano e é a ameaça à vida selvagem mais relatada, indica o relatório. A exploração desenfreada de recursos naturais, as espécies invasoras, poluição e as doenças, estão também identificadas como causa do declínio.

Mike Barrett, principal autor e consultor científico chefe do WWF, alerta disse que, devido à ação humana, "particularmente a maneira como produzimos e consumimos nossos alimentos, estamos cada vez mais a perder o habitat natural".
"A natureza a emitir um pedido de socorro"

“O declínio nas populações de vida selvagem pode atuar como um indicador de alerta precoce do aumento do risco de extinção e da perda potencial de ecossistemas saudáveis”, explica o documento.

Para Kirsten Schuijt, diretora-geral da WWF Internacional, "a natureza está a emitir um pedido de socorro. As crises interligadas de perda da natureza e mudanças climáticas estão a empurrar a vida selvagem e os ecossistemas para além dos seus limites".

Quando os ecossistemas são prejudicados, deixam de fornecer à comunidade humana os benefícios dos quais todos dependem - ar limpo, água e solos saudáveis para alimentação. E por estarem danificados esses ecossistemas tornar-se-ão mais vulneráveis a momentos de mudança.

Essas alterações podem ser considerados como pontos de inflexão e acontecem quando um ecossistema é empurrado para além de um limite crítico, resultando em mudanças substanciais e potencialmente irreversíveis.

A perda de espaços selvagens está "a colocar muitos ecossistemas à beira do abismo", reitera a diretora da WWF no Reino Unido, Tanya Steele, realçando ainda que muitos habitats, da Amazónia aos recifes de corais, estão "à beira de pontos de inflexão muito perigosos".

É reportado que o potencial "colapso" da floresta amazónica, está em curso porque deixará de ter capacidade de reter o carbono que aquece o planeta e mitigar os impactos das alterações climáticas.

Botos cor-de-rosa ou golfinhos de rio da Amazónia | © Shutterstock / COULANGES / WWF-Suécia

Num dos exemplos do relatório, é apontado o decréscimo de 60 por cento dos botos cor-de-rosa ou golfinhos de rio da Amazónia devido à poluição e a outras ameaças, como a mineração e agitação civil.

Por sua vez, na Austrália, as tartarugas-de-pente estão em declínio, devido às fêmeas nidificantes no nordeste de Queensland terem diminuído 57 por cento, ao longo de 28 anos.Este balanço da WWF é apresentado quando os incêndios na Amazónia atingiram, em setembro, o nível mais alto em 14 anos e pela quarta vez um evento global de branqueamento em massa de corais foi confirmado no início deste ano.

Um outra causa da redução da vida selvagem passa pela caça ilegal em África.

O relatório aponta fortes evidências de que a caça furtiva para alimentar o comércio do marfim, no Gabão e nos Camarões, coloca em perigo crítico a população de elefantes da floresta do Parque nacional em Minkébé. O declínio drástico já atingiu as famílias de elefantes da floresta aniquilando metade da espécie.

Na Antártida, "o declínio nas colónias de pinguins-barbicha aponta estar ligado ao degelo das calotes polares e à escassez de krill (pequenos crustáceos), razões que por sua vez resultam das alterações climáticas e do aumento da pesca desse mesmo krill", reporta o documento.


Declínio nas colónias de pinguins barbicha | © WWF-Aus / Chris Johnson

As condições mais quentes associadas a níveis mais baixos de cobertura de gelo marinho resultam em menos krill, sendo estes os crustáceos (semelhantes aos camarões) a principal fonte de alimento dos pinguins. Estas comunidades acabam por gastar mais tempo à procura de comida, "o que pode aumentar o risco de falha reprodutiva".

Barret, citado na BBC, sublinha que não se deve ficar triste apenas pela perda da natureza: "Estejam cientes de que esta é agora uma ameaça fundamental à humanidade e realmente precisamos fazer alguma coisa e tem de ser já”.

“Não é exagero dizer que o que acontecer nos próximos cinco anos vai determinar o futuro da vida na Terra”, alerta a WWF.
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