Debate. Biden hesitante face a Trump mais enérgico

por Lusa
Biden e Trump protagonizaram o primeiro debate das presidenciais em Atlanta Michael Reynolds - EPA

O presidente norte-americano, Joe Biden, surgiu com problemas de voz, respostas incoerentes e lapsos verbais no primeiro debate com o rival republicano Donald Trump mais enérgico, durante o primeiro debate das presidenciais entre os dois candidatos, em Atlanta, Geórgia.

Joe Biden e Donald Trump abriram o seu primeiro debate presidencial de 2024 sem um aperto de mãos e foram diretos para as perguntas dos moderadores da CNN, com o democrata a revelar uma voz rouca - devido a uma gripe, segundo uma fonte próxima da campanha - o que ajudou a passar desde início uma imagem fragilizada, face a um adversário confiante.

Donald Trump encadeou falsas afirmações com calma e confiança e Joe Biden, apesar de ofensivo na substância das suas respostas, mostrou-se confuso e com dificuldades de dicção em vários momentos do debate, durante o qual os rivais entraram em confronto em temas como inflação, imigração ou Ucrânia.
Joe Biden e Donald Trump abriram o seu primeiro debate presidencial de 2024 sem um aperto de mãos e foram diretos para as perguntas dos moderadores da CNN, com o democrata a revelar uma voz rouca - devido a uma gripe, segundo uma fonte próxima da campanha - o que ajudou a passar desde início uma imagem fragilizada, face a um adversário confiante.

Donald Trump encadeou falsas afirmações com calma e confiança e Joe Biden, apesar de ofensivo na substância das suas respostas, mostrou-se confuso e com dificuldades de dicção em vários momentos do debate, durante o qual os rivais entraram em confronto em temas como inflação, imigração ou Ucrânia.

Biden acusa Trump de querer assinar proibição nacional do aborto

O presidente norte-americano Joe Biden acusou na última noite o seu rival Donald Trump de querer assinar uma proibição nacional do aborto,

"O que é que ele vai fazer se a ala MAGA ("Make America Great Again", afecta a Trump) controlar o Congresso e aprovar uma proibição federal?", questionou Joe Biden. "Ele vai assinar essa lei (a proibir o aborto). Eu vou vetar, ele vai assinar". 

O direito federal ao aborto foi revogado em junho de 2022 quando a super maioria conservadora do Supremo Tribunal, com três juízes nomeados por Donald Trump, anulou a decisão de 1973 conhecida como Roe v. Wade. 

"Foi a lei durante 51 anos", apontou Joe Biden, num dos segmentos em que o presidente apareceu mais animado depois de um início anémico. "Eu apoio Roe v. Wade", afirmou, considerando "ridícula" a ideia de que os fundadores dos EUA queriam que fossem os políticos a tomar decisões de natureza médica.

Do outro lado, Donald Trump congratulou-se por ter sido responsável pela revogação de Roe v. Wade e disse que a situação atual é a mais apropriada, em que os vários estados decidem o que fazer em relação ao aborto. 

Trump acusou os democratas de serem radicais e quererem poder abortar após o nascimento da criança, algo que Biden refutou. 

"Acredito em exceções para incesto, violação e perigo de vida para a mãe", disse Donald Trump. O candidato republicano também disse concordar com a recente decisão do Supremo Tribunal de continuar a permitir a utilização de pílulas abortivas. 

Biden recusou a ideia de que devem ser os estados a tomarem estas decisões e  disse que seria a mesma coisa que devolver a decisão sobre o respeito dos direitos civis aos estados. 

Os rivais também discordaram sobre a posição dos especialistas constitucionais quanto ao aborto: Trump disse que todos queriam a anulação de Roe v. Wade, Biden disse que a vasta maioria concordava com a constitucionalidade da lei. 

Desde que o direito federal ao aborto foi revogado, 14 estados proibiram o procedimento sem exceções e 7 restringiram fortemente o seu acesso. 

O primeiro debate presidencial de 2024 terá a duração de 90 minutos, com dois intervalos comerciais, e decorreu num estúdio do canal CNN em Atlanta, estado da Geórgia, com a moderação dos jornalistas Jake Tapper e Dana Bash.

Trump acusa Biden de liderar onda de "crimes migrantes"

O ex-presidente norte-americano Donald Trump acusou o seu sucessor, Joe Biden, de liderar uma onda de "crimes migrantes" que está a colocar cidadãos em perigo, acusações que o chefe de Estado rebateu.

No primeiro debate presidencial de 2024, o tema da imigração serviu para Trump atacar fortemente Biden, num dos momentos mais acesos na primeira meia hora do debate.

"Ele permitiu que milhões de pessoas viessem aqui desde prisões, cadeias e instituições psiquiátricas - para entrarem no nosso país e destruírem o nosso país", acusou Trump, sem provas e apesar das estatísticas não confirmarem essa afirmação.

"Basta dar uma olhada onde eles (imigrantes) estão a morar. Eles estão a morar em hotéis luxuosos na cidade de Nova Iorque e em outros lugares", acrescentou Trump, uma declaração que foi prontamente classificada como falsa pelo jornal New York Times.

Biden diz que herdou economia "em queda livre"

Joe Biden disse durante o debate que herdou uma economia "em queda livre" quando chegou à Casa Branca e que passou os últimos anos a consertar os problemas deixados pelo antecessor Donald Trump.

"A economia colapsou, não havia empregos, o desemprego subiu para 15%, foi terrível", afirmou Biden no debate, ao ser questionado sobre a elevada inflação e a pressão dos preços sobre os consumidores.

"Estamos a trabalhar arduamente para lidar com estes problemas", disse Biden, caracterizando o que foi deixado pelo antecessor como "caos".

Donald Trump
refutou de forma incisiva esta caracterização, declarando que no seu mandato os Estados Unidos tiveram "a melhor economia na história do país" e "toda a gente estava maravilhada".

Trump recusa culpa pelo ataque ao Capitólio

Noutro momento do debate Donald Trump recusou culpa pelo ataque ao Capitólio a 6 de janeiro de 2021 e Joe Biden chamou-o de "choramingas", apontando que o ex-presidente quer perdoar os assaltantes que foram condenados em tribunal.

"A Nancy Pelosi disse à sua filha que ela foi a responsável. Eu ofereci 10 mil elementos da Guarda Nacional e ela rejeitou por escrito", afirmou Donald Trump, referindo-se à então líder democrata da Câmara dos Representantes.

"Eu ofereci a Guarda Nacional e ela admite que rejeitou. Ela disse que assumiu responsabilidade total pelo 6 de janeiro", argumentou o ex-presidente.

Joe Biden refutou a descrição do assalto ao Capitólio e acusou Trump de ter encorajado os seus apoiantes a atacarem o Congresso.

"Imploraram-lhe que fizesse alguma coisa, o seu vice-presidente e colegas do Congresso, e em vez disso falou de grandes patriotas da América", disse Biden. "Agora diz que quer perdoar as sentenças dos que foram condenados", apontou.

Trump e Biden dos dois lados da guerra na Ucrânia

O ex-presidente norte-americano Donald Trump prometeu "resolver" a guerra da Rússia na Ucrânia antes mesmo de assumir o cargo, com Joe Biden, o atual chefe de Estado, a alertar que o homólogo russo, Vladimir Putin, não ficará por Kiev.

O magnata republicano afirmou que Putin o respeita, apesar de admitir que os termos que o presidente russo apresentou para acabar com a guerra da Rússia na Ucrânia "não são aceitáveis".

"Esta é uma guerra que nunca deveria ter começado. Se tivéssemos um líder nesta guerra... Ele (Biden) deu 200 mil milhões de dólares ou mais agora à Ucrânia, deu 200 mil milhões de dólares. É muito dinheiro. Acho que nunca houve algo parecido", disse Trump.

No entanto, Joe Biden alertou que Putin não se limitará à Ucrânia.

"O facto é que Putin é um criminoso de guerra", afirmou o democrata.

"Ele (Putin) quer toda a Ucrânia. É isso que ele quer. E então você acha que ele vai parar por aí? Você acha que ele vai parar quando, se ele tomar a Ucrânia? O que você acha que acontecerá com a Polónia, Bielorrússia? O que você acha que acontecerá com países da NATO?", questionou.

Discussão sobre veteranos de guerra

O presidente norte-americano, Joe Biden, chamou o seu rival Donald Trump de "parvo e perdedor" numa discussão acesa sobre veteranos de guerra.

"O meu filho (veterano de guerra Beau Biden) não era um perdedor nem um parvo. Você é o parvo. Você é o perdedor", apontou o candidato democrata à reeleição.

Agitado, Biden abandonou o tom calmo que o caracteriza para recordar que recentemente visitou França para o aniversário do desembarque dos aliados da Normandia na 2ª Guerra Mundial e visitou o cemitério de militares mortos em combate, a que Trump se recusou a ir enquanto presidente.

Segundo revelou a revista The Atlantic citando vários altos funcionários, quando era presidente Trump disse que não queria visitar os túmulos dos soldados norte-americanos enterrados em Aisne-Marne, o cemitério norte-americano perto de Paris, "por estar cheio de perdedores".

O debate, que colocou frente-a-frente Biden e Trump pela primeira vez em quatro anos, acontecepu num momento em que as sondagens mostram uma disputa acirrada entre os dois candidatos e quando faltam menos de cinco meses para as eleições presidenciais.

Para evitar a repetição das cenas caóticas registadas em debates anteriores, foram ditadas regras incomuns, como um debate sem público, o silenciamento dos microfones quando o candidato rival estiver a falar ou a proibição dos candidatos trocarem ideias com a sua equipa durante os intervalos ou de levarem notas escritas para o palco.

Biden e Trump voltarão a enfrentar-se em 10 de setembro, num segundo debate organizado pela rede ABC News.

 

 

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