Depois de uma década com secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg prepara-se para passar o testemunho ao neerlandês Mark Rutte. O norueguês deixa uma herança de muito trabalho para o sucessor mas diz acreditar que a aliança transatlântica se encontra muito mais forte. Deixa também o apelo para que o apoio à Ucrânia se mantenha nos próximos anos.
No discurso de despedida, Jens Stoltenberg exaltou a força da aliança militar que foi reforçada especialmente após o início da guerra da Rússia na Ucrânia. Um problema que continua há mais de dois anos e que Mark Rutte terá de tentar solucionar tal como a relação que a NATO terá com o novo presidente dos Estados Unidos, que será eleito no próximo dia 5 de novembro.
Jens Stoltenberg assumiu o cargo de secretário-geral da NATO a 1 de outubro de 2014. Nessa altura, já a Rússia havia anexado a Crimeia, o que iniciou um longo confronto entre a Ucrânia e separatistas apoiados por Vladimir Putin.
O maior desafio do mandato surgiu com a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022. Um conflito armado que levou a NATO a apoiar a Ucrânia contra o que acredita ser a “vontade imperialista” de Vladimir Putin aumentar o território russo e travar o alargamento da aliança militar.
No entanto, o apoio à Ucrânia foi praticamente unânime e levou a duas novas adesões.
Tradicionalmente neutros, países como a Finlândia e a Suécia mostraram dúvidas em relação à escalada de Moscovo em território ucraniano e depois de muitos anos os dois países pediram para aderir à NATO.
Tradicionalmente neutros, países como a Finlândia e a Suécia mostraram dúvidas em relação à escalada de Moscovo em território ucraniano e depois de muitos anos os dois países pediram para aderir à NATO.
Apesar das ameaças de Vladimir Putin, tanto a Finlândia e a Suécia acabaram por juntar-se ao bloco, aumentando-o para uma comitiva de 32 países (Montenegro e Macedónia do Norte também se juntaram durante a era de Stoltenberg).
Depois das respetivas adesões, o secretário-geral prometeu que também a Ucrânia será membro, algo que a Rússia contesta liminarmente.
Depois das respetivas adesões, o secretário-geral prometeu que também a Ucrânia será membro, algo que a Rússia contesta liminarmente.
Telejornal | 19 de setembro de 2024
“Não pode haver uma segurança sustentada na Europa sem uma Ucrânia estável. E nenhuma segurança duradoura para a Ucrânia sem a entrada na NATO. A porta da NATO está aberta e a Ucrânia irá juntar-se a nós”, declarou o norueguês no discurso de despedida.
Relações difíceis com Donald Trump
A década de Stoltenberg como secretário-geral da NATO também ficou marcada pelos constantes desentendimentos com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos entre 2017 e 2021. Trump sempre se queixou de os Estados Unidos financiarem a aliança militar, ameaçando por muitas vezes a saída americana da NATO.
Apesar do ceticismo, Jens Stoltenberg conseguiu manter relações cordiais com Donald Trump. Agora, a possível eleição do antigo presidente norte-americano no próximo mês de novembro pode trazer novos problemas à aliança, especialmente devido à questão ucraniana.
Mesmo assim, Stoltenberg lembrou a evolução da NATO nos últimos anos.
“Fortalecemos as nossas defesas. De zero passámos a ter dezenas de milhares de soldados da NATO prontos para combater no nosso flanco leste. E de três passámos a vinte e três aliados que gastam pelo menos dois por cento do seu PIB na sua defesa”.
Para além da questão ucraniana, Jens Stoltenberg teve de lidar com outros problemas. A aliança acabou por retirar tropas do Afeganistão e esteve presente na altura em que houve uma tentativa de golpe de Estado na Turquia, em 2016. A situação na Síria também esteve na agenda, especialmente com o envolvimento da Turquia no norte do país.
No entanto, a retórica cada vez mais agressiva do Kremlin contra a NATO e a guerra iniciada na Ucrânia foram os pontos que mais destacaram a liderança de Jens Stoltenberg nos últimos dez anos.
Segue-se Mark Rutte como secretário-geral
Depois da desistência do presidente da Roménia em junho, Mark Rutte foi escolhido como o novo secretário-geral da NATO, substituindo Stoltenberg a 1 de outubro de 2024. Apesar da pouca experiência na política de defesa, o neerlandês é conhecido pela capacidade de criar consensos políticos.
Nascido em Haia, Rutte juntou-se ao Partido Popular para a Liberdade e Democracia ainda na universidade. Iniciou a carreira política em 1993, subindo na hierarquia do partido. Em 2003, Rutte tornou-se deputado e pouco depois passou a liderar a secretaria de Estado para os Assuntos Sociais e Emprego, passando depois para a pasta do Ensino Superior e Ciência.
Mark Rutte acabou por se tornar primeiro-ministro dos Países Baixos em 2010, tendo cumprido quatro mandatos consecutivos. Acabou por cair no último mandato depois de discordâncias com a oposição neerlandesa em questões de imigração.
Para além de herdar as questões relacionadas com a guerra na Ucrânia (país do qual é forte apoiante) e da relação que mantém com a NATO, Mark Rutte entra para o cargo na expectativa de saber quem vence as eleições norte-americanas.
E na Casa Branca?
No próximo dia 5 de novembro, os Estados Unidos vão escolher o novo presidente. Os norte-americanos escolhem entre Kamala Harris e Donald Trump. Se a índole política de Harris não deixa dúvidas em relação às boas relações que os Estados Unidos irão manter com a NATO, o mesmo não se pode dizer de Trump.
Uma experiência vivida pelo próprio Jens Stoltenberg, que teve de lidar com o ceticismo e com as constantes críticas de Donald Trump à NATO, conseguindo, mesmo assim, manter os Estados Unidos e principal financiador na aliança militar. Continuam as dúvidas sobre como será a convivência de Trump com o bloco depois de ter feito duras críticas a Zelensky.
Mark Rutte também terá de equilibrar a relação da NATO com a União Europeia. Jens Stoltenberg criticou, ainda este ano, a decisão de Ursula von der Leyen em criar um cargo europeu próprio para questões de Defesa, acusando a União de entrar em território da NATO.